Forças de segurança dos serviços secretos venezuelanos iniciaram na manhã desta terça-feira um cerco à Assembleia Nacional, alegando a presença de uma bomba no local, relataram os deputados do organismo opositor do regime. Quinze agentes entraram no edifício e estão a bloquear a entrada. Juan Guaidó chamou “cobarde” a Maduro e, em comunicado oficial, voltou a reforçar a necessidade de eleições livres. O presidente venezuelano ainda não fez qualquer comentário ao cerco, enquanto as autoridades permanecem no local e deputados denunciam o ato.

Num discurso de cerca de 20 minutos que foi transmitido em direto no Twitter, Guaidó diz que “ninguém reconhece legitimamente” as forças que cercaram a Assembleia. “O regime pensava que nos ia parar ao perseguir o presidente e os vice-presidentes do parlamento”, disse o venezuelano.

“Sequestram os deputados, cercam o parlamento mas nós continuamos a resistir. O que vai conseguir o regime com isto? Não vai conseguir nada. A única solução é o fim da usurpação, a formação de um governo de transição e a realização de eleições livres”, declarou Guaidó.

https://twitter.com/cheohernandez99/status/1128405309817544706

O autoproclamado presidente anunciou ainda que a sessão parlamentar, que estava prevista para esta terça-feira, foi adiada para as 10h00 de quarta-feira, no Palácio. O anúncio é uma clara demonstração de que Guaidó e os deputados não temem as forças de segurança de Maduro.

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Na manhã desta terça-feira, mais de uma centena de elementos da Guarda Nacional Bolivariana, da polícia local e do Sebin, serviço de informação do Estado, impediram a entrada de deputados no parlamento. Os serviços secretos entraram também no gabinete do presidente Juan Guaidó, opositor de Maduro e autoproclamado presidente do país. Não ofereceram qualquer explicação para o cerco, que ainda continua, e todo o edifício está ocupado.

Para o autoproclamado presidente interino, Juan Guaidó, o cerco representa o “medo da legitimidade da Assembleia”. Guaidó refere ainda que Maduro, a quem chama “cobarde”, suspeita de todos os que o rodeiam.

“Acham que o poder está nos edifício, nas gavetas, num par de chaves. O poder que um dia tiveram, perderam-no quando perderam o povo”, afirmou Juan Guaidó.

A Assembleia venezuelana tinha anunciado no decorrer da tarde desta terça-feira que ia emitir um comunicado.

Para os opositores do regime de Nicolás Maduro, o cerco ao edifício representa uma tentativa de encerrar o parlamento. Ao mesmo tempo, afirmam que não vão entregar o edifício, que é atualmente o único órgão legítimo no país.

“Não vamos renunciar ao palácio que nos reconhece constitucionalmente o poder”, escrevem os deputados.

“Os deputados da Assembleia Nacional são legítimos. Foram eleitos pelo povo da Venezuela e cada atropelo, cada ameaça apenas mostra que o usurpador (Maduro) está cada vez mais sozinho e isolado”, afirmam ainda os membros do parlamento.

Num vídeo publicado pela Assembleia no Twitter, é possível ver os militares no local. “O que teme o regime?”, escreve a Assembleia na descrição do vídeo.

Nicolás Maduro ainda não reagiu ao caso. Enquanto surgem dezenas de reações de deputados nas redes sociais e à mesma hora em que Guaidó lhe chamou “cobarde”, Maduro publicou no Twitter um vídeo onde refere o reforço da relação e solidariedade da Venezuela com organismos internacionais.

Deputados permanecem no local e denunciam ato ditatorial do regime

“Ninguém se rende, todos firmes”, declaram os deputados que permanecem frente ao parlamento. Membros da oposição da Assembleia Nacional estão a falar em direto a partir do local, em vídeos publicados no Twitter. Denunciam o cerco e a “perseguição” do regime. “Queremos dizer-lhes que isto para nós é, desde logo, um ato intimidatório do regime para impedir que a Assembleia Nacional continue a desempenhar as suas funções”, denunciou no local o deputado Luis Stefanelli.

Também outros membros e funcionários da Assembleia Nacional já se pronunciaram no local. “Este é mais um exemplo da força com que o regime opressor de Maduro trata a Assembleia Nacional”, refere a deputada Elimar Diaz.

Na manhã desta terça-feira, um dos deputados da Assembleia confirmou no Twitter que 15 funcionários do Sebin entraram no Palácio Federal Legislativo (Assembleia) por “suspeita de bomba dentro das instalações”.

Assembleia Nacional: por quem é composta e porque é perseguida há semanas

O cerco surge numa altura em que deputados da Assembleia Nacional estão a ser perseguidos e detidos pelas autoridades da Venezuela. Este organismo é liderado por Juan Guaidó e composto por membros da oposição a Maduro. Para contrariar este movimento, Maduro criou a Assembleia Constituinte.

Por representarem uma afronta a Maduro, os serviços secretos têm perseguido os deputados. No início do mês, o Supremo Tribunal da Venezuela, a mando de Maduro, emitiu mandados de detenção contra sete deputados. Dois deles refugiaram-se em embaixadas internacionais, na cidade de Caracas. No dia seguinte, o Sebin deteve o vide-presidente do parlamento venezuelano, Edgar Zambrano. O paradeiro de Zambrano é ainda desconhecido. Na altura, o próprio anunciou a sua detenção no Twitter.

A 2 de maio, Madurou já tinha mandado prender Leopoldo López, apoiante de Guaidó e opositor do regime. López estava refugiado na embaixada espanhola em Caracas e o executivo de Espanha afirmou na altura que não entregava o opositor. No mesmo dia, Maduro desfilou pelas ruas ao lado das forças militares numa demonstração de poder e clara afronta ao seu opositor.

Venezuela. Maduro manda prender Leopoldo Lopéz, refugiado na embaixada espanhola em Caracas, e desfila pelas ruas com militares

Quem é o Sebin e que autoridade tem para “cercar a democracia”

O Sebin, Serviço Bolivariano de Informação Nacional, foi criado em 2010 pelo antigo presidente venezuelano Hugo Chávez. É composto por 2.000 agentes e a sua função é “fornecer informações com vista a neutralizar as ameaças reais ou potenciais contra o Estado”.

Atualmente, o Sebin é comandado pelo o general Gustavo González López. Organizações para os direitos humanos descrevem o Sebin como um “instrumento de perseguição política”. Inicialmente destino ao combate do tráfico de droga, Maduro tem recorrido ao serviço para persguições políticas.

Artigo atualizado às 22h18