Forças de segurança dos serviços secretos venezuelanos iniciaram na manhã desta terça-feira um cerco à Assembleia Nacional, alegando a presença de uma bomba no local, relataram os deputados do organismo opositor do regime. Quinze agentes entraram no edifício e estão a bloquear a entrada. Juan Guaidó chamou “cobarde” a Maduro e, em comunicado oficial, voltou a reforçar a necessidade de eleições livres. O presidente venezuelano ainda não fez qualquer comentário ao cerco, enquanto as autoridades permanecem no local e deputados denunciam o ato.
Num discurso de cerca de 20 minutos que foi transmitido em direto no Twitter, Guaidó diz que “ninguém reconhece legitimamente” as forças que cercaram a Assembleia. “O regime pensava que nos ia parar ao perseguir o presidente e os vice-presidentes do parlamento”, disse o venezuelano.
“Sequestram os deputados, cercam o parlamento mas nós continuamos a resistir. O que vai conseguir o regime com isto? Não vai conseguir nada. A única solução é o fim da usurpação, a formação de um governo de transição e a realização de eleições livres”, declarou Guaidó.
https://twitter.com/cheohernandez99/status/1128405309817544706
#ANPorVenezuela https://t.co/PxX1cW3ROy
— Juan Guaidó (@jguaido) May 14, 2019
O autoproclamado presidente anunciou ainda que a sessão parlamentar, que estava prevista para esta terça-feira, foi adiada para as 10h00 de quarta-feira, no Palácio. O anúncio é uma clara demonstração de que Guaidó e os deputados não temem as forças de segurança de Maduro.
.@jguaido | "Mañana la convocatoria para los diputados es la sesión a las 10:00 am en el Palacio Federal Legislativo de la #AsambleaVE"#14May #ANPorVenezuela
— Asamblea Nacional (@AsambleaVE) May 14, 2019
Na manhã desta terça-feira, mais de uma centena de elementos da Guarda Nacional Bolivariana, da polícia local e do Sebin, serviço de informação do Estado, impediram a entrada de deputados no parlamento. Os serviços secretos entraram também no gabinete do presidente Juan Guaidó, opositor de Maduro e autoproclamado presidente do país. Não ofereceram qualquer explicação para o cerco, que ainda continua, e todo o edifício está ocupado.
Para o autoproclamado presidente interino, Juan Guaidó, o cerco representa o “medo da legitimidade da Assembleia”. Guaidó refere ainda que Maduro, a quem chama “cobarde”, suspeita de todos os que o rodeiam.
“Acham que o poder está nos edifício, nas gavetas, num par de chaves. O poder que um dia tiveram, perderam-no quando perderam o povo”, afirmou Juan Guaidó.
Intentan secuestrar el Poder Legislativo mientras el dictador se atrinchera solo, en un Palacio en el que no debe estar, sospechando de todos a su alrededor.
Hoy vuelve a demostrar su miedo a la legitimidad de la @AsambleaVE. #ANPorVenezuela pic.twitter.com/jCgm3wie81
— Juan Guaidó (@jguaido) May 14, 2019
Cree que el Poder está en los edificios, en las gavetas, en un manojo de llaves.
El Poder que alguna vez tuvieron lo perdieron cuando perdieron al Pueblo.
¡Y esta AN sí fue electa por la gente y defenderá su legitimidad! #ANPorVenezuela
— Juan Guaidó (@jguaido) May 14, 2019
A Assembleia venezuelana tinha anunciado no decorrer da tarde desta terça-feira que ia emitir um comunicado.
Somos mucho más que un edificio, pero no vamos a renunciar al espacio que constitucionalmente corresponde al parlamento: el Palacio Federal. Directiva dará información en horas de la tarde para cumplie el legítimo deber que nos encomendó el Pueblo junto @JGuaido #ANPorVenezuela
— Asamblea Nacional (@AsambleaVE) May 14, 2019
Para os opositores do regime de Nicolás Maduro, o cerco ao edifício representa uma tentativa de encerrar o parlamento. Ao mesmo tempo, afirmam que não vão entregar o edifício, que é atualmente o único órgão legítimo no país.
“Não vamos renunciar ao palácio que nos reconhece constitucionalmente o poder”, escrevem os deputados.
“Os deputados da Assembleia Nacional são legítimos. Foram eleitos pelo povo da Venezuela e cada atropelo, cada ameaça apenas mostra que o usurpador (Maduro) está cada vez mais sozinho e isolado”, afirmam ainda os membros do parlamento.
Num vídeo publicado pela Assembleia no Twitter, é possível ver os militares no local. “O que teme o regime?”, escreve a Assembleia na descrição do vídeo.
¿A qué le teme el régimen? Desde la #AsambleaVE seguimos informando el apoyo del mundo a la lucha por la libertad de Venezuela. pic.twitter.com/HRN19aByUP
— Asamblea Nacional (@AsambleaVE) May 14, 2019
Nicolás Maduro ainda não reagiu ao caso. Enquanto surgem dezenas de reações de deputados nas redes sociais e à mesma hora em que Guaidó lhe chamou “cobarde”, Maduro publicou no Twitter um vídeo onde refere o reforço da relação e solidariedade da Venezuela com organismos internacionais.
En el marco de nuestra Diplomacia Bolivariana de Paz, Venezuela sigue ampliando sus relaciones de cooperación e intercambio con los organismos internacionales y los pueblos del mundo. Cada día contamos con mayor respaldo y solidaridad. pic.twitter.com/wdF4nkoU8e
— Nicolás Maduro (@NicolasMaduro) May 14, 2019
Deputados permanecem no local e denunciam ato ditatorial do regime
“Ninguém se rende, todos firmes”, declaram os deputados que permanecem frente ao parlamento. Membros da oposição da Assembleia Nacional estão a falar em direto a partir do local, em vídeos publicados no Twitter. Denunciam o cerco e a “perseguição” do regime. “Queremos dizer-lhes que isto para nós é, desde logo, um ato intimidatório do regime para impedir que a Assembleia Nacional continue a desempenhar as suas funções”, denunciou no local o deputado Luis Stefanelli.
Pronunciamiento de la #AsambleaVE, sobre el secuestro del Palacio Federal Legislativo.#14mayo #ANPorVenezuela https://t.co/yuldeBtSHs
— Asamblea Nacional (@AsambleaVE) May 14, 2019
Palabras de la Dip. @SuarezBolivia en rechazo del secuestro del Palacio Federal Legislativo de la #AsambleaVE #14May #ANPorVenezuela https://t.co/697Li2hANa
— Asamblea Nacional (@AsambleaVE) May 14, 2019
Também outros membros e funcionários da Assembleia Nacional já se pronunciaram no local. “Este é mais um exemplo da força com que o regime opressor de Maduro trata a Assembleia Nacional”, refere a deputada Elimar Diaz.
Declaraciones de la Dip. @MBMartinezR entorno al secuestro del palacio Federal Legislativo de la #AsambleaVe, por parte de funcionarios del SEBIN#14May
— Asamblea Nacional (@AsambleaVE) May 14, 2019
Declaraciones del Dip. @JuanPGuanipa entorno al secuestro del palacio Federal Legislativo de la #AsambleaVE por parte de funcionarios del SEBIN #14May https://t.co/NLqJw4nQsR
— Asamblea Nacional (@AsambleaVE) May 14, 2019
Declaraciones del Dip. @BiagioPilieri en relación del secuestro del palacio Federal Legislativo de la #AsambleaVe, por parte de funcionarios del SEBIN #14May https://t.co/IahbedXKD3
— Asamblea Nacional (@AsambleaVE) May 14, 2019
Na manhã desta terça-feira, um dos deputados da Assembleia confirmou no Twitter que 15 funcionários do Sebin entraram no Palácio Federal Legislativo (Assembleia) por “suspeita de bomba dentro das instalações”.
En este momento 15 funcionarios del SEBIN ingresan al Palacio Federal Legislativo por supuesto artefacto explosivo dentro de las instalaciones, ningún funcionario del parlamento puede ingresar
— Roberto Campos (@robertocs72) May 14, 2019
Assembleia Nacional: por quem é composta e porque é perseguida há semanas
O cerco surge numa altura em que deputados da Assembleia Nacional estão a ser perseguidos e detidos pelas autoridades da Venezuela. Este organismo é liderado por Juan Guaidó e composto por membros da oposição a Maduro. Para contrariar este movimento, Maduro criou a Assembleia Constituinte.
Por representarem uma afronta a Maduro, os serviços secretos têm perseguido os deputados. No início do mês, o Supremo Tribunal da Venezuela, a mando de Maduro, emitiu mandados de detenção contra sete deputados. Dois deles refugiaram-se em embaixadas internacionais, na cidade de Caracas. No dia seguinte, o Sebin deteve o vide-presidente do parlamento venezuelano, Edgar Zambrano. O paradeiro de Zambrano é ainda desconhecido. Na altura, o próprio anunciou a sua detenção no Twitter.
Fuimos sorprendidos por el SEBIN, al negarnos salir de nuestro vehículo, utilizaron una grúa para trasladarnos de manera forzosa directamente al Helicoide. Los demócratas nos mantenemos en pie de lucha.
— Edgar Zambrano (@edgarzambranoad) May 8, 2019
A 2 de maio, Madurou já tinha mandado prender Leopoldo López, apoiante de Guaidó e opositor do regime. López estava refugiado na embaixada espanhola em Caracas e o executivo de Espanha afirmou na altura que não entregava o opositor. No mesmo dia, Maduro desfilou pelas ruas ao lado das forças militares numa demonstração de poder e clara afronta ao seu opositor.
Quem é o Sebin e que autoridade tem para “cercar a democracia”
O Sebin, Serviço Bolivariano de Informação Nacional, foi criado em 2010 pelo antigo presidente venezuelano Hugo Chávez. É composto por 2.000 agentes e a sua função é “fornecer informações com vista a neutralizar as ameaças reais ou potenciais contra o Estado”.
Atualmente, o Sebin é comandado pelo o general Gustavo González López. Organizações para os direitos humanos descrevem o Sebin como um “instrumento de perseguição política”. Inicialmente destino ao combate do tráfico de droga, Maduro tem recorrido ao serviço para persguições políticas.
Artigo atualizado às 22h18