O Real Madrid tem de forma recorrente uma espécie de relações platónicas, seduções mútuas que se materializam ou se perpetuam enquanto promessas de uma contratação anunciada que nunca chega a acontecer. Atualmente, o nome maior a entrar neste vórtice é Hazard, o belga que mais dia menos dia, principalmente por já ter dito que vai sair do Chelsea este verão, deve seguir pelo primeiro caminho da bifurcação. Logo a seguir, Pogba, que quer mais ir para o Real do que o Real quer que ele chegue. A estes dois acrescentam-se mais dois que foram construindo fama de quase quimeras, objetivos praticamente inatingíveis mas que existem nas folhas de planeamento de Florentino Pérez — e existem, principalmente, entre os desejos dos adeptos. São eles Neymar e Mbappé.

Se a situação do primeiro continua sem avançar e o futuro do brasileiro permanece ainda uma incógnita, o segundo fez questão de sossegar os corações parisienses — e qataris, dado o investimento do Qatar no PSG — logo depois do jogo em que o clube se sagrou bicampeão francês, no domingo de Páscoa, frente ao Mónaco. Após marcar um hat-trick à antiga equipa e confirmar a conquista de um título que já andava a ser adiado há três jornadas, Mbappé garantiu que iria continuar “no projeto do PSG”. “Fico no PSG. Estou neste projeto do PSG. Fico contente pelo facto de Zidane ter voltado ao Real Madrid, mas verei os jogos como espetador”, explicou o avançado em declarações ao Canal+, esclarecendo que nem a influência do treinador francês o iria levar para Espanha e para Madrid.

“Fico no PSG”. A noite de Mbappé, entre um hat-trick, pedidos de desculpa e o futuro

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Mas as coisas mudam. E enquanto prova disso mesmo basta olhar para Cristiano Ronaldo, que no final da temporada passada disse que ia deixar o Santiago Bernabéu, voltou atrás ainda antes do Mundial da Rússia e acabou mesmo por sair para a Juventus em julho. Ora, este domingo, durante a gala dos prémios da Liga francesa onde foi considerado o Jogador do Ano em França, Mbappé fez uma manobra parecida e reabriu a porta de uma eventual saída. “Este é um momento muito importante para mim, cheguei a um ponto de viragem na minha carreira. Descobri muita coisa aqui e sinto que se calhar chegou o momento de assumir mais responsabilidades. Espero que talvez possa acontecer no PSG, seria um grande prazer. Ou talvez noutro sítio com um novo projeto”, atirou o avançado, deixando a plateia totalmente surpreendida.

Já esta segunda-feira, questionado pelo L’Équipe sobre o discurso na gala de prémios, Mbappé manteve a mesma linha de pensamento — ainda que resguardando-se sempre com a vontade de ficar em Paris e no PSG. “É um momento de viragem e era o momento de o dizer. Estou completo. Quando digo alguma coisa, é de verdade. E disse. Se é no PSG, é bom, se é noutro sítio, é noutro sítio”, reforçou o francês de 20 anos. Quem deve ter ouvido as declarações de Mbappé este domingo e lido com atenção o que disse ao desportivo francês é o Real Madrid, já que em março a France Football garantia que o clube espanhol iria iniciar a “Operação Mbappé”, com 280 milhões de euros para gastar e Zidane enquanto principal intermediário no negócio.

Mbappé, 280 milhões e o fator Zidane para restaurar a identidade do Real Madrid

A verdade é que, aliando as frases depois do jogo com o Mónaco e as deste domingo, Mbappé pode simplesmente estar a dizer que vai sair — mas não para o Real Madrid. Até porque para colocar em curso a contratação do francês e movimentar os tais milhões de euros, o clube espanhol teria de desbloquear a situação de Gareth Bale e receber o substancial encaixe financeiro da venda do galês: algo que não se afigura fácil ou, pelo menos, célere.