As Europeias de maio já lá vão, seguem-se as legislativas de outubro. Por isso, o CDS não vai perder nem mais um minuto a chorar a derrota e vai inaugurar já um novo discurso: “política positiva” com as “pessoas no centro”. O objetivo é pôr o foco nos problemas dos portugueses e ajudá-los a vingar num mundo em constante mudança, em globalização permanente e numa cada vez mais rápida conversão para a era digital. Tudo o resto são questões “espúrias”, “menores”. Foi esse discurso que Assunção Cristas inaugurou esta terça-feira no encerramento das últimas jornadas parlamentares do CDS desta legislatura, dedicadas à Saúde, onde Adolfo Mesquita Nunes também deu o pontapé de saída para a apresentação de medidas concretas que constarão do programa eleitoral.
“O mundo tem muitos desafios e riscos mas também muitíssimas oportunidades, e é nessas oportunidades, no desafio do clima, por exemplo, que queremos mostrar como o CDS tem uma voz singular, distinta, uma voz que olha para o país como um todo e não apenas uma parte, que continua a acreditar que são as pessoas que transformam a realidade. São as pessoas que têm de estar no centro da atividade política”, começou por dizer Assunção Cristas no discurso de encerramento das últimas jornadas do CDS da legislatura. Mais: “Colocar as pessoas no centro é dar poder às pessoas para desenvolverem a sua própria vida e para viverem os seus sonhos. Queremos um país onde o Estado não coloca amarras, mas abre espaço para cada um, nas suas mãos, decidir o que quer fazer no futuro, a profissão que quer, o que vai estudar, as empresas que vai criar”, acrescentou.
Segundo a presidente do CDS, é esse o sumo da proposta política que o CDS vai levar para as eleições legislativas que se seguem: dar respostas aos portugueses para vingarem perante desafios globais. “Num tempo de transição digital, queremos ter uma rede de segurança para que ninguém fique para trás nestes tempos particularmente desafiantes”, disse ainda. Ou seja, o foco a partir de agora vão ser os portugueses, as medidas concretas para resolver os problemas dos portugueses, não a ideologia.
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Num discurso muito diferente do que era feito pelo CDS em plena campanha para as Europeias, que era muito virado para a doutrina ideológica do CDS, no novo discurso de Cristas não entra ideologia — nem direita, nem esquerda, nem liberal nem estatizante. “Porque, para o CDS, primeiro estão as pessoas”, e a ideologia só distingue o caminho que os diferentes partidos escolhem percorrer para resolver os problemas das pessoas. Esse é o lema do CDS daqui para a frente. Prova disso é o setor da Saúde, onde Cristas lembra que “em Portugal ainda andamos a discutir sobre se os privados podem ou não ter hospitais”, em vez de se andar a discutir qual a melhor forma de dar resposta aos problemas concretos do Serviço Nacional de Saúde, para que os utentes não saiam prejudicados por diferendos ideológicos.
Propostas concretas para problemas concretos, para já, há uma sobre o setor da Saúde — um setor que “está permanentemente refém do debate ideológico da esquerda, mais preocupada em discutir as PPP do que em discutir o acesso concreto à saúde”. A ideia é apresentar as medidas concretas aos poucos, para serem ouvidas.
A primeira, apresentada esta terça-feira por Adolfo Mesquita Nunes, consiste em abrir a porta a hospitais do setor privado ou do setor social para que possam dar resposta às consultas de especialidade que se acumulam em listas de espera no SNS, com o Estado a não conseguir dar vazão e a não conseguir responder às necessidades dos portugueses. “É uma proposta sensata, que até já existe no nosso SNS mas apenas para as cirurgias”, disse Assunção Cristas adotando um discurso moderado e muito pouco ideológico, sublinhando que olhar para a saúde sem a “lente” da ideologia é “tratar as pessoas com humanidade, com os direitos que ela própria tem”. Tudo o resto, disse, não interessa. “Tudo o resto são discussões espúrias”, afirmou, referindo-se à discussão que está a ser feita no Parlamento sobre a nova Lei de Bases da Saúde. “Quando estamos a falar da saúde e da vida das pessoas, o resto são questões menores”.
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“Quem olhe para nós espero que possa perceber que somos aqueles que querem libertar e ajudar a que cada pessoa, cada jovem, cada família, cada trabalhador, possa vencer na vida, possa levar a vida nas suas mãos com um Estado que ajuda ao contrário de um Estado que limita e que amarra. Que tem um país que ajuda, que apoia, que promove e que lhe dá as oportunidades e ferramentas para agarrar as oportunidades deste mundo novo e em constante transformação”, insistiu a presidente do CDS no encerramento das jornadas que decorreram no Porto.
Eis o CDS a tentar passar por cima de uma derrota que o deixou reduzido a pouco mais de 6% nas urnas: para já, não há espaço para discursos demasiado otimistas que faziam Cristas dizer que queria ser primeira-ministra e queria que o CDS fosse “a alternativa” ao PS; para já, é tempo de falar às pessoas e prometer-lhes um futuro melhor, deixando, para já, de lado temas complicados como impostos ou salários.