A banda leiriense First Breath After Coma bateu um recorde nacional ao dar um concerto de 24 horas seguidas na abertura do Festival “A Porta”, que decorre desde sexta-feira até 23 de junho em Leiria. A banda derrotou assim o recorde alcançado pela pianista Joana Gama, quando em janeiro tocou durante 14 horas seguidas. Mas, em conversa com o Observador, os First Breath confessam que nunca tiveram a missão de entrar em competições: “Só queríamos levar o corpo ao extremo e fazer algo genuíno”, conta-nos o vocalista João Marques.

E levaram mesmo, tudo para concretizar uma ideia que já tinha surgido em 2018: compor, muitas vezes de improviso, durante um dia inteiro. “Queríamos que acontecesse num sítio especial e que nos dissesse algo. Mas que não fosse apenas um streaming nas redes sociais connosco a tocar a partir da nossa sala de ensaio”, explica João Marques após terminar o desafio. Encontraram esse “sítio especial” no Festival A Porta, quando apresentaram a ideia ao organizador Guilherme Garrido: “Ele adorou a ideia”, recorda o artista.

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Ao longo dessas 24 horas, das 19h40 de sexta-feira para a mesma hora de sábado, o concerto esteve a ser transmitido num vídeo em direto na página de Facebook dos First Breath After Coma. Questionado sobre como é que a banda se organizava para poderem comer, descansar ou ir até à casa de banho, João Marques explica que “não tinham de estar sempre os cinco” elementos dos First Breath, embora tal tivesse acontecido na maior parte do tempo. Apenas era obrigatório estarem em palco, pelo menos, três músicos a atuar: “Se um de nós precisasse parar, tinha meia hora para o fazer. Não era uma coisa esquematizada”, conclui.

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Mas o mais difícil para João Marques não foi controlar o corpo, mas sim a mente.

“Em termos de criatividade, esta foi a experiência mais interessante por que passei. E passei por vários momentos. Como tocávamos de improviso ao longo das 24 horas, havia alturas em que as nossas composições não eram grande coisa. Levava-me a pensar: ‘Será que sou mesmo um bom músico?’. Mas depois surgiam outros que eram os melhores de sempre”, confessa.

Um dos que João Marques leva na memória é o arranque do concerto: “Está muita gente a ver-nos. Isso deu-nos ainda mais responsabilidade de fazer alguma coisa de jeito”.

Raramente os First Breath After Coma estiveram sozinhos. Houve quem ficasse sentado junto à banda madrugada fora, mesmo que adormecessem. O único período do dia em que não tiveram público foi ao romper do dia, mas apenas durante “uma ou duas horas”: “Depois, por volta das oito ou nove da manhã, o público começou a regressar”, lembra João Marques. “Nós queríamos estar despidos a esse ponto. Foi uma desbunda enorme”.

Havia um espetador especial no público que assistiu ao concerto dos First Breath After Coma: o dinamarquês Casper Clausen, que embora também seja vocalista dos Efterklang e Liima, esteve em Leiria para apresentar o novo projeto a solo — “Captain Casablanca”. Em declarações ao Observador, Hugo Ferreira, líder da Omnichord Records, que representa a banda, explica que o artista dinamarquês chegou a tocar durante seis horas com os First Breath After Coma antes de ir dormir. Acabou por regressar e foi com ele em palco que a banda tocou os últimos 15 minutos do desafio. “Foi muito duro, uma prova de amor. Havia gente a aplaudir e a chorar no fim”, conta Hugo.

O feito dos First Breath After Coma não vai entrar para o Guinness: “O recorde de horas seguidas em concerto de um artista individual é de 501 horas porque a organização exige uma série de regras e de horas de descanso”, justifica Hugo. De resto, no estrangeiro, só os Kitai, uma banda espanhola de rock, conseguiu cumprir o mesmo desafio. E também ela considerou “absolutamente trivial” candidatar-se a um prémio Guiness: tal como os First Breath, apenas tencionam “tocar durante 24 horas e descansar o mínimo necessário”.

Isso mesmo explica-nos o vocalista João Marques: “Bater recordes nunca esteve nos nossos planos. Só queríamos levar a sala de ensaios até quem nos ouve”. E agora, vão descansar ou vão dormir? “Um misto”, responde João Marques: “Vamos comer qualquer coisa, descansar um pouco, tomar um banho”. Depois, os First Breath After Coma vão apresentar o álbum visual de “NU”, que já está disponível no YouTube e no Spotify.

“NU” é um álbum, é um filme, é uma exposição de oito telas, é os First Breath After Coma a crescer