João Félix deixou o Benfica e assinou pelo Atl. Madrid e vai tornar-se o 17.º jogador português a representar os colchoneros. Desde 1958 até 2018, vários jogadores assinaram pelo conjunto da capital espanhola e as histórias não podiam ser mais distintas: entre autênticas figuras maiores que se tornaram parte de algumas das páginas mais bonitas do clube, como Jorge Mendonça, Futre, Simão e Tiago, e flops que nunca conseguiram vingar, como João Vieira Pinto, Pizzi, Diogo Jota e o mais recente Gelson Martins. A partir da próxima temporada, João Félix começa um caminho que o levará a juntar-se a um dos dois conjuntos.
Jorge Mendonça
A história de Jorge Mendonça é tão inacreditável que escapa à grande maioria das pessoas — mesmo à grande maioria dos adeptos de futebol. O antigo avançado, atualmente com 80 anos, chegou ao Atl. Madrid em 1958 e tornou-se o primeiro português a representar os colchoneros. Nascido em Angola, mudou-se da capital do país africano para Lisboa com o pai, fundador do Sporting de Angola, ainda enquanto adolescente. Começou a jogar no Sporting e foi campeão nacional de júniores antes de se transferir para o Sp. Braga, onde acabou por dar vistas o suficiente para saltar para o Deportivo em 1957. No ano seguinte, foi a vez dos colchoneros contratarem aquele que acabariam por considerar um dos melhores 10 estrangeiros de sempre a representar o clube.
Mendonça passou a Mendoza já nos anos 60, quando pediu a nacionalidade espanhola, e o avançado acabou por não voltar a Portugal mesmo depois de ter terminado a carreira, em 1970: atualmente, ainda vive em Madrid. Esteve oito anos no Atl. Madrid, até 1966, ano em que mudou para o Barcelona, onde permaneceu até 1969. A última temporada da carreira foi já ao serviço do Maiorca e em serviços mínimos, com apenas dois golos em cinco jogos. Em Madrid, jogou contra Puskás e Di Stéfano e viu Luis Aragonés tornar-se uma das grandes referências dos colchoneros. Mais do que isso, marcou 80 golos ao longo 215 jogos para todas as competições e ganhou uma Liga espanhola, quatro Taças do Rei e uma Taça das Taças, tornando-se uma das figuras de proa do Atl. Madrid dos anos 60.
Paulo Futre
É o nome óbvio que salta à memória quando o tema são portugueses no Atl. Madrid. Paulo Futre é ainda hoje um ídolo para os adeptos colchoneros, um dos melhores jogadores que passou pelo clube da capital espanhola e um autêntico embaixador informal da equipa (já depois de ter sido, oficialmente, diretor desportivo de 2000 a 2003). Depois de ter passado por todas as camadas jovens do Sporting até realizar três temporadas no FC Porto e integrar a equipa dos dragões que foi campeã europeia em 1987, o avançado natural do Montijo mudou-se para Madrid e para o Atlético, onde nunca conseguiu ser campeão e só conquistou mesmo duas Taças do Rei, uma em 1991 e outra em 1992, mas marcou mais de 50 golos ao longo de 225 jogos em todas as competições.
Ficou cinco anos na capital espanhola até voltar a Portugal para representar o Benfica e fazer o pleno dos três “grandes”. O regresso romântico ao Vicente Calderón deu-se em 1997 — depois de passar por Marselha, Reggiana, AC Milan e West Ham — e já enquanto capitão, para uma temporada de quase consagração em que não marcou nenhum golo e só cimentou o papel de figura maior do Atl. Madrid nos anos 90. Terminou a carreira nos japoneses do Yokohama Flügels no ano seguinte e em 2000 aceitou então integrar a estrutura colchonera, na altura liderada por Jesús Gil, o presidente que havia apostado nele 13 anos antes.
João Vieira Pinto
Atualmente com 47 anos, JVP tem no palmarés dois campeonatos nacionais, quatro Taças de Portugal, duas Supertaças Cândido de Oliveira e ainda dois Mundiais sub-20 ao serviço da Seleção Nacional. Jogou pelo Benfica e pelo Sporting e é um dos jogadores portugueses mais acarinhados de sempre, integrando a chamada geração de ouro que chegou ao topo do mundo em Riade em 1989 e no Estádio Nacional em 1991. É complicado dizer, portanto, que João Vieira Pinto tenha tido grandes falhanços ao longo da carreira. Mas aconteceu — e precisamente no Atl. Madrid.
Entre uma e outra vitória no Mundial sub-20 — e principalmente graças à boa prestação na competição realizada na Arábia Saudita –, o avançado transferiu-se do Boavista para o Atl. Madrid (onde já estava Paulo Futre). A ida do jovem jogador para a capital espanhola foi comentada com entusiasmo em Portugal e em Espanha mas acabou por revelar-se um flop, já que João Vieira Pinto nem sequer chegou a alinhar pela equipa principal dos colchoneros e só representou a equipa B. Em 1991, depois de um ano para esquecer, voltou a Portugal e ao Boavista e deu um novo rumo a uma carreira de sucesso que só terminou em 2008 — mas que não voltou a passar por ligas estrangeiras.
Hugo Leal
Produto da formação do Estoril e do Benfica, Hugo Leal foi contratado pelo Atl. Madrid no verão de 1999, depois de uma temporada em que esteve emprestado ao Alverca durante a primeira volta mas regressou à Luz em janeiro para ainda marcar três golos até ao final da época. Com apenas 19 anos, foi um dos danos colaterais de uma das páginas mais negras da história recente dos colchoneros: a primeira temporada do médio foi também a temporada em que o Atl. Madrid desceu à Segunda Liga espanhola e Hugo Leal, em menos de um ano, passou de grande aposta de um emblema espanhol a suplente numa equipa do segundo escalão do país.
Permaneceu na época seguinte, onde acabou por conseguir intrometer-se no onze inicial e marcou quatro golos ao longo de 41 jogos para todas as competições, mas o Atl. Madrid acabou por não conseguir a promoção à Primeira Liga e o jogador português saiu, rumo ao PSG. Ficou em França até 2004, onde ainda conquistou uma Taça francesa e uma Taça Intertoto, e regressou a Portugal para representar o FC Porto e ganhar uma Supertaça Cândido de Oliveira. Passou por Académica, Sp. Braga, Belenenses, Trofense, Salamanca e V. Setúbal até voltar ao Estoril, clube que representou ainda na formação e onde terminou a carreira em 2013, aos 33 anos.
Dani
Daniel Carvalho, conhecido no mundo do futebol como Dani, foi uma das grandes promessas portuguesas dos anos 90 que acabaram por ficar apenas pela metade — ou nem isso. O médio ofensivo formado no Sporting chegou à equipa principal dos leões com apenas 17 anos, em 1994, e rapidamente deu nas vistas ao lado de Figo, Sá Pinto e Balakov. Depois de um empréstimo ao West Ham que terminou quando faltou a um treino depois de ter passado a noite numa discoteca, Dani mudou-se para Amesterdão e para o Ajax — onde acabou por viver o período mais bem sucedido da carreira, apesar de raramente ser opção no onze inicial dos holandeses.
Conquistou uma Liga holandesa e uma Taça da Holanda e esteve em Amesterdão durante quatro temporadas, de 1996 a 2000, ano em que se juntou a Hugo Leal e reforçou o Atl. Madrid (que estava então a cumprir a primeira temporada na Segunda Liga depois da despromoção). Ajudou os colchoneros com cinco golos no primeiro ano e seis no segundo — época em que o Atlético conseguiu regressar ao principal escalão espanhol — mas esteve ausente das grandes decisões durante quase toda a temporada 2002/03. Com apenas 27 anos e depois de não encontrar clube para se transferir, Dani decidiu terminar a carreira no Vicente Calderón.
Costinha
Depois de quatro temporadas no Mónaco, onde foi campeão francês em 2000, e outras quatro no FC Porto, onde foi campeão nacional em duas ocasiões e ainda conquistou a Liga dos Campeões em 2004, Costinha rumou à Rússia e ao Dínamo Moscovo em 2005 e em conjunto com Maniche e Derlei. No ano seguinte e depois dessa passagem pelo futebol russo em que pouco jogou, o médio lisboeta foi contratado pelo Atl. Madrid.
Esteve apenas uma temporada no Vicente Calderón, fez 32 jogos e foi opção regular mas nunca marcou nenhum golo e acabou por sair para a Atalanta logo em 2007, onde terminou a carreira três anos depois. Uma passagem sem sumo sem títulos de Costinha no Atl. Madrid — mas constante no que toca à utilização e ao nível exibicional.
Maniche
Tal como Costinha, também Maniche foi campeão europeu pelo FC Porto em 2004 e saiu para o Dínamo Moscovo logo em 2005. Ainda assim — e ao contrário do outro médio, que saiu da Rússia diretamente para Madrid –, Maniche ainda fez uma temporada no Chelsea de José Mourinho e ainda teve tempo de conquistar a Premier League em 2005/06. Só depois disso, e novamente reencontrando Costinha, é que o médio natural de Lisboa se transferiu para os colchoneros, onde esteve temporada e meia até ser emprestado ao Inter Milão em janeiro de 2008. Em Itália e outra vez com Mourinho, único treinador com quem foi realmente feliz, voltou a ser campeão mas regressou a Espanha e ao Atl. Madrid no final da época.
Ficou mais um ano no Vicente Calderón e acabou por conseguir intrometer-se nas opções recorrentes de Javier Aguirre mas saiu para a Alemanha e para o Colónia em 2009. Voltou a Portugal no ano seguinte para uma última temporada ao serviço do Sporting e pendurou as botas em 2011, com 34 anos.
Zé Castro
Tal como Costinha e Maniche, também Zé Castro chegou ao Atl. Madrid em 2006. O central, que na altura tinha 23 anos, foi contratado pelo clube espanhol depois de duas temporadas consistentes ao serviço da Académica e propostas de Benfica, Sporting e FC Porto que acabaram por não ser aceites pela cúpula da Briosa. Zé Castro beneficiou de várias lesões na linha defensiva dos colchoneros para se tornar opção habitual no eixo mais recuado da equipa na primeira temporada mas perdeu espaço na segunda, terminando a época 2007/08 com apenas 15 jogos.
Foi emprestado ao Deportivo no ano seguinte, onde se tornou titular praticamente indiscutível, facto que levou o clube da Corunha a ativar a opção de compra no final da época. Ficou até 2013 e até se mudar para o Rayo Vallecano, onde atuou até ao ano passado, quando decidiu regressar a Portugal e à Académica. Atualmente com 36 anos, Zé Castro faz parte da equipa principal do clube de Coimbra que ficou no quinto lugar da Segunda Liga e falhou a promoção ao principal escalão.
Simão
Depois do pacote Costinha-Maniche-Zé Castro em 2006, não foi preciso esperar muito para ver outro português assinar pelo Atl. Madrid. Logo em 2007, depois de seis temporadas no Benfica que já foram posteriores a dois anos no Barcelona e ao início de carreira no Sporting, Simão Sabrosa juntou-se aos outros três portugueses no Vicente Calderón. Ao contrário do que havia de acontecer com todos os outros, porém, o avançado vingou em Madrid e foi parte importante de uma das páginas mais bem sucedidas da história recente dos colchoneros.
Ao longo de três temporadas e meia e até janeiro de 2010, Simão marcou 31 golos em 171 jogos para todas as competições e conquistou uma Liga Europa e uma Supertaça Europeia, os primeiros — e únicos — troféus europeus da carreira. Saiu para o Besiktas e para a Turquia, juntando-se a Hugo Almeida e Ricardo Quaresma, numa altura em que já era capitão de equipa e uma das figuras do clube. Passou dois anos no conjunto turco até voltar a Espanha para representar o Espanyol durante duas temporadas e acabou a carreira em 2016, com 37 anos, ao serviço do North East United da Índia.
Tiago
Dois anos depois de Simão Sabrosa chegar a Madrid, foi a vez de Tiago assinar pelos colchoneros. Depois de ser campeão nacional pelo Benfica em 2004 e ajudar o Chelsea de Mourinho e companhia a ser campeão inglês em 2005 (tal como Maniche), o médio natural de Viana do Castelo mudou-se para o Lyon, onde foi bicampeão francês e deu nas vistas ao ponto de ser contratado pela Juventus em 2007. Acabou por nunca vingar propriamente em Itália e foi emprestado ao Atl. Madrid em janeiro de 2010.
Depois de duas temporadas a título de empréstimo em que se tornou titular no meio-campo do clube de Madrid, Tiago assinou de forma permanente pelos colchoneros e não mais voltaria a sair, já que acabou a carreira no Vicente Calderón em 2017, aos 36 anos. Em oito temporadas no Atl. Madrid, o médio português assistiu à chegada de Diego Simeone, tornou-se capitão da equipa e fez parte do histórico conjunto que em 2014 conseguiu ser campeão espanhol oito anos depois da última vez. Chegou por duas vezes à final da Liga dos Campeões, conquistou uma Liga Europa e uma Taça do Rei e é provavelmente o português mais bem sucedido de sempre no Atl. Madrid.
Sílvio
O lateral português chegou ao Atl. Madrid em 2011, depois de uma época ao serviço do Sp. Braga em que ajudou os minhotos a chegar à final da Liga Europa. Permaneceu apenas um ano e meio e não fez mais do que 20 jogos para todas as competições — mas ainda foi a tempo de celebrar a conquista da Liga Europa –, sempre castigado por várias lesões que o acompanham desde o início da carreira. Foi emprestado ao Deportivo numa primeira fase e depois ao Benfica, onde ficou durante três temporadas, e foi finalmente cedido em 2016 aos ingleses do Wolverhampton. Regressou a Portugal e ao Sp. Braga em 2017 mas saiu para o V. Setúbal a meio da época que agora terminou.
Pizzi
Em agosto de 2011, Pizzi passou de emprestado pelo Sp. Braga ao Paços de Ferreira a emprestado pelo Sp. Braga ao Atl. Madrid. O atual jogador do Benfica foi um dos primeiros reforços de Simeone e convenceu o argentino o suficiente para os colchoneros ativarem a opção de compra no final da temporada. Completou 15 jogos até ser emprestado ao Deportivo no ano seguinte — e ainda entrou na lista de vencedores da Liga Europa dessa época –, onde foi resgatado pelo Benfica mas imediatamente emprestado ao Espanyol. Entrou finalmente nas contas da Luz em 2014, depois de uma temporada consistente ao serviço dos catalães, e já leva quatro títulos nacionais pelos encarnados.
Rúben Micael, André Moreira e Diogo Jota
Um pouco à medida do que aconteceu com João Vieira Pinto, Rúben Micael, André Moreira e Diogo Jota foram os três contratados pelo Atl. Madrid mas nenhum chegou a representar os colchoneros. O primeiro chegou em agosto de 2011, incluído no “pacote Falcao”, mas foi prontamente emprestado ao Saragoça; o segundo assinou em 2014, com apenas 19 anos e depois de impressionar ao serviço da Seleção Nacional sub-19, mas também saiu de imediato a título de empréstimo para o Moreirense; já o último, atualmente a brilhar no Wolverhampton de Nuno Espírito Santo, foi contratado pelo Atl. Madrid ao Paços de Ferreira em 2016 e cedido ao FC Porto.
Gelson Martins
O antigo jogador do Sporting foi o último português antes de João Félix a entrar no plantel do Atl. Madrid — mas não tem grandes histórias para contar. Gelson chegou ao Wanda Metropolitano no verão de 2018 e depois de rescindir com os leões na sequência das agressões na Academia mas nunca foi aposta de Simeone, saindo em janeiro para o Mónaco com apenas um golo marcado ao longo 12 jogos. Em França e com Leonardo Jardim, a história tem sido outra: o avançado português de 24 anos marcou quatro golos e fez 17 jogos na segunda metade da temporada e foi importante no período de retoma monegasco que impediu aquilo que seria uma escandalosa despromoção à Segunda Liga francesa.
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