Há uma crise climática a afetar o planeta todas as semanas, diz Mami Mizutori, a representante especial do secretário-geral das Nações Unidas para a Redução do Risco de Desastres. Em declarações ao jornal britânico The Guardian, a responsável da ONU alerta para o facto de as crises climáticas estarem a acontecer ao ritmo de uma por semana, embora na maioria das vezes não atraiam a atenção mediática que mereceram grandes desastres como o ciclone Idai, que só em Moçambique matou mais de 600 pessoas, ou outros acontecimentos de grande dimensão.

De acordo com Mami Mizutori, além destes grandes desastres, há um enorme número de “acontecimentos de impacto reduzido” a provocar mortes em todo o mundo a um ritmo muito maior do que o anteriormente previsto, o que leva a responsável a sublinhar: “Não estamos a falar do futuro, estamos a falar de hoje”. “As pessoas têm de falar mais de adaptação e resiliência”, garante Mizutori, destacando que os decisores políticos têm de investir mais dinheiro já hoje na adaptação à nova realidade climática — que já não é uma ameaça futura, mas uma evidência do presente.

Isto significa que é necessário fazer mais do que investir apenas na redução das emissões de gases de efeitos de estufa. É preciso preparar a Humanidade para viver num futuro com um clima diferente — a começar pela construção das casas e das infraestruturas públicas, mas também pelos novos cuidados das culturas agrícolas. Até porque isto permitirá poupar muito dinheiro.

De acordo com o The Guardian, todos os anos os desastres climáticos custam 463 mil milhões de euros. Nos próximos 20 anos, o custo de construir infraestruturas resistentes aos efeitos do aquecimento global é de cerca de 2,4 biliões de euros — 3% do que custariam os desastres climáticos no mesmo período. “Temos de olhar para os riscos de não investir na resiliência.”

No entender de Mami Mizutori, uma grande parte dos desastres climáticos que se verificam atualmente poderiam ser evitados caso existissem alertas metereológicos com maior antecedência e infraestruturas mais bem preparadas. Para a responsável das Nações Unidas, este assunto é hoje uma questão de sobrevivência. “Falamos de uma emergência climática e de uma crise climática, mas se não falarmos da adaptação aos seus efeitos não vamos sobreviver.”

Até aqui, a maioria dos esforços têm sido concentrados na redução das emissões de dióxido de carbono. Porque são mais fáceis de medir, mas, também, segundo os cientistas, porque se o investimento fosse maior na adaptação às novas condições climáticas, a luta contra a poluição poderia perder importância. Hoje, porém, é necessária uma visão mais “holística” dos riscos, o que significa, na opinião da especialista da ONU, um investimento maior na adaptação aos efeitos destas crises climáticas constantes.

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