No meio do estado norte-americano do Nevada, ao lado de um deserto de sal, há uma base militar secreta onde os Estados Unidos mantêm em cativeiro os extraterrestres que visitaram a cidade de Roswell em 1947, guardam os cenários onde se simulou a chegada à Lua, escondem Elvis Presley e Tupac e testam máquinas de teletransporte. Isto é aquilo que mais de um milhão de pessoas — umas mais a brincar do que outras — esperam encontrar a 20 de setembro de 2019, quando invadirem a Área 51, após um convite mundial feito através do Facebook. Mas os Estados Unidos não estão para anedotas e já lançaram um comunicado.
Tudo começou quando três páginas de Facebook criaram um evento chamado “Storm Area 51, They Can’t Stop All of Us” — em português, “Invadir a Área 51, Eles Não Nos Podem Parar a Todos” — que convidava os internautas de todo o mundo a “ver os alienígenas deles”. O plano tem três passos. Primeiro: marcar presença no Centro Alienígena da Área 51 para “coordenar a entrada” — cuja localização pode ver no mapa aqui em baixo. Depois, “correr à Naruto” — sim, o desenho animado japonês — para “escapar às balas”. E, a seguir, saber de uma vez por todas o que é que os governantes escondem na Área 51.
O plano agradou a mais de 1,1 milhões pessoas de todo o mundo — se for uma delas, pode encontrar o caminho até à base militar aqui em baixo. Só que, sem espanto para uns e para desilusão de outros, tudo não passa de uma brincadeira. O evento foi criado por “Smylee Kun”, uma página sobre videojogos, por “The Hidden Sound”, dedicada à música, e pela página “Shitposting cause im in shambles”, que publica memes. Os três estão habituados a criar eventos anedóticos como este. Só que a ideia de invadir a Área 51 chegou mais longe.
Tão longe que obrigou Laura McAndrews, porta-voz da Força Aérea, a lançar um comunicado avisando a população de que era mais prudente manter-se longe daquela base norte-americana: “É um campo de treino aberto para a Força Aérea dos EUA e desencorajamos qualquer um a tentar entrar na área onde treinamos as forças armadas americanas. A Força Aérea dos EUA está sempre pronta para proteger a América e os seus ativos”, avisou.
Mas nem ela, nem qualquer outro membro das forças armadas dos Estados Unidos esclarecem o que realmente existe dentro da Área 51. Só o nome já levanta muitas dúvidas: diz-se que foi assim que a Central Intelligence Agency (CIA) se dirigiu àquela base militar num documento sobre a Guerra do Vietname. E também há a teoria de que a base recebeu o código “51” porque ali perto há outra base, a “15”.
Certo mesmo é que foi construída nos anos 50, tem 1.500 quilómetros quadrados e que é guardada 24 horas por dia, sete dias por semana, centímetro por centímetro, por alguns dos militares mais eficazes dos Estados Unidos. Ninguém pode aceder à Área 51 a não ser que seja pelo ar e com autorização expressa das Forças Armadas americanas.
Foi aqui que, durante a Guerra Fria, o país testou aviões militares, incluindo o famoso avião de espionagem Lockheed U-2 — que é muitas vezes confundido com avistamentos de OVNIs. Além disto, pouco se sabe sobre a Área 51. E é assim que os Estados Unidos pretendem manter as coisas há muito tempo. Tanto que, em 1974, William Colby, diretor da CIA à época, escreveu um memorando em que repreendia os astronautas a bordo do Skylab — a primeira estação espacial norte-americana — por ter fotografado uma localização que oficialmente não existia.
“Havia instruções específicas para não fazer isto. […] era a única localização da Terra para que havia essa indicação”, pode ler-se no memorando publicado no relatório “Astronauts and Area 51: the Skylab Incident” de Dwayne A. Day. Que localização é essa? Ninguém sabe ao certo, mas, dado o secretismo em redor da Área 51 — cujo nome oficial é Groom Lake ou Homey Airport –, há quem aposte que essa é mesmo a base militar a que a CIA se refere naquele memorando.