Descreve-se como o melhor brasileiro que passou pelo Campeonato português. Recorda os conselhos a Cristiano Ronaldo quando o avançado da Juventus tinha apenas 17 anos e andou “de namorico” com a irmã, Jordana. Não esquece Drulovic, o companheiro que lhe colocava a jeito a bola de todas as formas e de todos os lados. Mário Jardel tinha um dom especial para marcar golos de cabeça mas faz questão de destacar também as dezenas e dezenas de golos com os pés, “alguns bem bonitos”. Depois da ascensão veio a queda, caminhos para autogolos pessoais e, mais recentemente, uma entrada no mundo da política que acabou com uma entrada na Justiça, acusado de crimes como organização criminosa, lavagem e ocultação de bens, peculato ou uso de documentos falsos. Hoje, o ex-goleador fala de si como alguém mudado. E explica o que levou a essa mudança.

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“Estou numa outra vida, muito feliz por poder dizer que nunca me senti tão bem. Fiz uma mudança radical, uma transformação tremenda. Hoje tenho muita fé em Deus, que vai me manter muito tempo assim. É uma vida nova, sem bebida, sem drogas, sem prostituição. Estou há quatro meses sem tomar remédios para dormir. Sou uma pessoa renovada e bem, consciente de que posso servir a sociedade com esse resgate, com palestras, com várias coisas que estão vindo devagarinho. A vida está mais saborosa. A cada dia fico mais contente com minha atitude, com essa mudança”, revelou numa entrevista ao programa “Abre Aspas” do Globoesporte, entre outros pormenores sobre o que faz também em termos profissionais.

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“Moro em Fortaleza. Vou à igreja três vezes por semana. Faço trabalho de intermediário de jogadores, levando [jogadores] para Porto Alegre, para o Brasil e para o mundo, principalmente Portugal. Fico no telefone, vou ver jogos. Levo uma vida social com pessoas certas. Algumas amizades têm que ser cortadas. Estou num caminho com direção, bem agradável, tranquilo, com paz espiritual. E estou muito feliz de poder dar essa entrevista, revelando que hoje sou uma nova pessoa. Vou para a minha praia, vou para os aniversários, para o cinema. Voltei a ter aquela vida que eu tinha antes”, contou.

O ponto de viragem surgiu há cerca de seis meses, com uma frase que o fez “cair na real”. “Estava a tomar muitos remédios para depressão e comecei a buscar a igreja. Cada um tem sua religião e ela precisa ser respeitada. A minha esposa, Sandra, também me ajudou muito. É uma luta, não é fácil. Às vezes, caio na real porque as pessoas dizem ‘Jardel, tu és o único brasileiro com duas Botas de Ouro na Europa, foste artilheiro da Libertadores, artilheiro da Champions League, campeão. Tu tens que te valorizar mais’. E comecei a me dar mais valor”, salientou. “Depois daquela situação em Porto Alegre, como deputado… Até hoje tenho os meus bens bloqueados por causa daquela situação. Tinha largado a droga, há pouco tempo larguei a bebida também. Mas você vai a um churrasco, tem a bebida, tem a droga. É como o Casagrande fala nas entrevistas: chega, é conhecido, vai ter tudo”.

Explicando que ainda hoje joga nos veteranos do Ferroviário “a fazer golos todos os jogos”, Jardel recordou também as duplas com o brasileiro Paulo Nunes (Grémio) e com o sérvio Drulovic (FC Porto), não esquecendo as “lições” a Cristiano Ronaldo nos seus últimos tempos em Alvalade. “Se ensinei o Ronaldo a cabecear ou é exagero? Não é exagero. Ele aprendeu muito comigo. Foram dois anos. A minha média na Europa era de 55, 60 golos por ano. Aqui no Brasil a média é de 25, 30. Fazia o dobro. E ganhava bem menos do que ganham hoje. Mas ele aprendeu muito. Tempo de bola… Se você tiver a oportunidade de perguntar para o Cristiano Ronaldo se ele lembra do Jardel cabeceando nos treinos, ele vai dizer que sim”, comentou.

“Quero viver cada dia corretamente, dando exemplo. Quero ser esse homem que sou hoje. Quero contar minha história em livro, em DVD, e estar com a alegria que estou hoje. Espero viver até os 100 anos e, quem sabe, encontrar vocês para falar menos de coisas ruins e mais de coisas boas”, concluiu o antigo avançado de 45 anos.