É uma ideia que está a ser estudada, não havendo ainda nenhuma decisão oficial sobre o assunto. Obrigar os jovens médicos a permanecer durante algum tempo no Serviço Nacional de Saúde (SNS) poderá ser uma das soluções encontradas pelo Ministério de Saúde, como forma de compensar o investimento que o Estado faz na sua formação, e para fazer face ao aumento da procura de atos clínicos nos serviços de saúde públicos e também à escassez de médicos no SNS. A notícia é avançada pelo Correio da Manhã (conteúdo para assinantes).
Segundo escreve aquele jornal, no ministério de Marta Temido estão a ser feitos estudos para perceber como se poderá lidar com a grande diferença entre oferta e procura, até porque a pressão sobre o SNS deverá aumentar nos próximos anos com o envelhecimento da população. “Este é um assunto que vai ser analisado com mais profundidade, mas não há ainda nenhuma decisão”, esclareceu fonte oficial do Ministério da Saúde ao CM.
O bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, diz não ter qualquer conhecimento sobre a iniciativa e não tem qualquer fé nela. “Se isto [obrigação de os médicos trabalharem um determinado número de anos no SNS] for uma coisa imposta por qualquer Governo, com ou sem maioria absoluta, vai correr mal”, disse, citado pelo CM. Atualmente não há qualquer obrigatoriedade de os médicos exercerem funções no SNS.
Não faz sentido estarmos a obrigar os médicos a ficarem no SNS, quando o SNS não tem condições para ter os médicos”, defende o bastonário.
O antigo secretário de Estado da Saúde Manuel Delgado afirma que esta ideia foi avaliada durante a sua passagem pelo Governo de António Costa, entre o final de 2015 e 2017. Na sua opinião, os médicos deveriam ser obrigados a trabalhar na rede pública da saúde durante o mesmo tempo em que exerceram funções pagas durante o internato, tempo esse que varia entre os quatro e os sete anos.
Formação pode custar ao Estado até meio milhão de euros
O Correio da Manhã fez as contas a quanto custa a formação de um médico com a ajuda de José Ponte, médico e antigo diretor do curso de Medicina da Universidade do Algarve. Na sua opinião, e tendo em conta os seis anos que dura o curso, mais os quatro a seis anos de especialidade, o valor situa-se entre os 300 e 500 mil euros.
Deste valor total, segundo José Ponte, só são devolvidos sob a forma de propinas cerca de de 5 mil euros. Nestas contas, o antigo diretor do curso de Medicina da Universidade do Algarve inclui também as despesas do Estado com os salários dos médicos durante o internato.
O bastonário Miguel Guimarães não concorda com estas contas e defende que “o único custo que existe para o Estado é o curso de Medicina”, valor que segundo José Ponte estará entre os 90 e os 100 mil euros.