Pelo menos uma dezena de mineiros de ouro invadiram uma reserva indígena na região brasileira da Amazónia, localizada no estado do Amapá, a norte do país, reportam as autoridades da agência brasileira dos direitos indígenas, Funai. Dias antes, um líder de 68 anos da aldeia, Emyra Waijãpi, tinha sido encontrado morto com ferimentos provocados por facas.
Os indígenas do local “correram de medo” depois de o grupo ocupar parte da reserva indígena Waijãpi, de 600 mil hectares, avançam jornais brasileiros, como a Folha de São Paulo. Segundo o jornal brasileiro O Globo, os garimpeiros — expressão usada para designar os exploradores de ouro e diamantes — ainda estarão acampados no local, mais especificamente na aldeia Yvitotõ, a 40 minutos de Mariry, para onde os indígenas fugiram. Ainda é incerta a quantidade de pessoas responsáveis pela invasão: o diário refere uma nota interna da Funai, que responsabiliza um grupo que teria entre 10 a 15 homens. Fontes da tribo indígena falam, contudo, num número que ronda os 50 homens.
Na última quarta-feira, o líder Waijãpi fora assassinado por um grupo de mineiros que seriam os mesmos responsáveis pela invasão. Os indígenas remanescentes fugiram da zona e foram para a vila vizinha de Mariry, avançou O Globo, onde foram ouvidos disparos. Houve vários telefonemas para a polícia, nos quais os moradores e políticos locais pediam ajuda por temer um “banho de sangue”, refere o The Guardian.
“Os garimpeiros invadiram a aldeia e estão lá até ao momento. Eles estão extremamente armados. É por isso que estamos a pedir ajuda da polícia federal”, disse Kureni Waijãpi, um indígena de 26 anos da mesma tribo. “Se nada for feito, eles irão atacar”, cita-o o jornal britânico. A prefeita de Pedra Branca, Beth Pelaes, cidade próxima ao local, acrescenta que a aldeia é tradicional e recebe apenas visitantes previamente autorizados.
Alguns dos waijãpis relataram a existência de não-índios armados na região. “À noite, os invasores entraram na aldeia e instalaram-se numa das casas, ameaçando os moradores”, diz comunicado dos índios ao qual a Folha de S. Paulo teve acesso. O jornal diz ainda que o Ministério Público abriu uma investigação sobre o caso.
Sobre a suposta invasão à Terra Indígena Waiãpi, no Amapá, a Funai informa que assim que tomou conhecimento do fato hoje (27) acionou as autoridades competentes e seus servidores no local. A Polícia Federal e o BOPE estão a caminho para apurar o ocorrido. https://t.co/JlMaPGw1M7 pic.twitter.com/9pBdx0xgaO
— Funai (@funaioficial) July 28, 2019
Segundo a BBC, também a polícia federal já chegou ao local e vai investigar o que aconteceu. A Funai disse aos jornais que as “tensões crescem” na região da Amazónia, frisando que o local é de “difícil acesso”. A crise foi revelada pelo senador do estado do Amapá, Randolfe Rodrigues, que publicou na sua conta do Twitter uma nota sobre a invasão que pede a saída imediata dos garimpeiros, além de começar uma campanha com a hashtag #SOSWajãpi.
Nota do Conselho das Aldeias Wajãpi – Apina sobre a invasão ocorrida na Terra Indígena Wajãpi. Desde que recebemos a informação, estamos dedicando todo nosso apoio aos povos da região. Seguiremos cobrando a retirada dos invasores e a punição dos assassinos #SOSWajãpi pic.twitter.com/8ENZ2ldXJH
— Randolfe Rodrigues (@randolfeap) July 28, 2019
O incidente acontece numa altura em que o tema da Amazónia ganhou relevo, depois de Jair Bolsonaro propor a criação de um projeto de lei que legaliza a exploração mineira e o garimpo em terras indígenas brasileiras, uma promessa de campanha. Em Manaus, na semana passada, o presidente voltou a defender o projeto, citando a inclusão das aldeias ianomâmis, localizada no estado de Roraima, das aldeias munducurus, no Pará, e da aldeia dos cinta-larga, em Roraima, todas a norte do país.
O presidente, no início do seu mandato, pôs em marcha projetos de transferência da demarcação das terras indígenas para o Ministério da Agricultura, comandada pelos políticos da chamada “bancada ruralista”. Além disso, propôs transferir a Funai dos comandos do Ministério da Justiça para o Ministério dos Direitos Humanos. Os dois projetos não foram aprovados — o primeiro pelo Superior Tribunal Federal; e o segundo pelo Congresso Nacional brasileiros.
Depois da publicação do senador Randolfe Rodrigues, diversas figuras públicas também deixaram o seu manifesto nas redes sociais.
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