O ex-juiz e atual ministro da Justiça do Brasil, Sérgio Moro, achava que a confissão de um ex-ministro ligado ao Partido dos Trabalhadores (PT) era fraca, mas decidiu divulgá-la uma semana antes das presidenciais, segundo o portal The Intercept.
A informação foi publicada esta segunda-feira pelo jornal Folha de S.Paulo, que teve acesso ao conteúdo recebido de fonte anónima pelo portal de jornalismo de investigação The Intercept Brasil, e que colocou em causa a Operação Lava Jato.
O jornal brasileiro transcreveu mensagens que teriam sido trocadas por procuradores da Lava Jato em que comentam que Moro, na altura juiz responsável pelos processos da operação em primeira instância, considerava as informações apresentadas pelo ex-ministro Antônio Palocci, ministro nos governos de Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva, difíceis de provar.
Russo [nome de código atribuído a Moro] comentou que embora seja difícil provar, ele [Antonio Palocci] é o único que quebrou a omerta [código de honra] petista”, terá afirmado o procurador Paulo Roberto Galvão aos seus colegas num grupo de mensagens da aplicação Telegram em 25 de setembro.
Segundo o jornal brasileiro, Moro tinha acabado de receber as provas entregues no acordo delação premiada (confissão de crimes e colaboração com a justiça em troca da redução da pena) pelos advogados de Palocci.
Embora os procuradores tenham dito que Moro considerava as provas incompletas e eles mesmos tenham debatido na mesma conversa que as provas eram fracas, o ex-juiz divulgou um depoimento de Palocci em 1 de outubro, uma semana da primeira volta das presidenciais brasileiras.
No depoimento, o ex-ministro disse que Lula da Silva autorizou o loteamento da estatal petrolífera Petrobras pelos partidos que apoiavam o seu Governo, sabia dos esquemas de suborno na empresa e que as duas campanhas da ex-Presidente Dilma Rousseff receberam dinheiro ilícito.
O depoimento gerou muita polémica e foi amplamente divulgado pela imprensa brasileira. À época, Fernando Haddad, candidato do PT que acabou derrotado na segunda volta das presidenciais, acusou Moro de tentar prejudicar o partido.
O então juiz titular da Lava Jato em primeira instância negou que a sua intenção fosse influenciar as eleições presidenciais numa resposta dada a perguntas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Pouco depois do final das eleições, Moro deixou a magistratura e aceitou assumir cargo de ministro da Justiça e Segurança Pública no Governo liderado pelo candidato vencedor e atual Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro.
Moro e membros do grupo de trabalho da Lava Jato estão envolvidos num escândalo, conhecido como “Vaza Jato”, que começou em 09 de junho, quando o The Intercept Brasil e outros ‘media’ parceiros começaram a divulgar reportagens que colocam em causa a imparcialidade da maior operação contra a corrupção no país.
Baseadas em informações obtidas de uma fonte não identificada, estas reportagens apontam que Moro terá orientado os procuradores da Lava Jato, indicado linhas de investigação e adiantado decisões enquanto era juiz responsável por analisar os processos do caso em primeira instância.
Se confirmadas, as denúncias indicam uma atuação ilegal do antigo magistrado e dos procuradores brasileiros porque, segundo a legislação do país, os juízes devem manter a isenção e, portanto, estão proibidos de auxiliar as partes envolvidas nos processos.
Moro e os procuradores da Lava Jato, por seu turno, negam terem cometido irregularidades e fazem críticas às reportagens do The Intercept e seus parceiros (Folha de S. Paulo, revista Veja, El País e o jornalista Reinaldo Azevedo), afirmando que são sensacionalistas e usam conversas que podem ter sido adulteradas e foram obtidas através de crime cibernético.