Os ministros das Finanças da UE desataram o nó e escolheram Kristalina Georgieva, diretora executiva do Banco Mundial, para assumir a candidatura europeia à liderança do Fundo Monetário Internacional (FMI), de acordo com o jornal Eco e o El País.

Depois de várias votações, os ministros das Finanças da UE não conseguiram inicialmente a necessária maioria qualificada para designar um candidato, segundo o jornal Eco e a agência Reuters, mas depois continuaram as conversações e a política búlgara — a preferida de França — acabou por ser escolhida.

As votações culminaram numa final entre Kristalina Georgieva e Jeroen Dijsselbloem, antigo presidente do Eurogrupo. Apesar de a política búlgara ter obtido mais votos, não conseguiu nesse frente-a-frente reunir 55% dos votos dos estados-membros que correspondessem a 65% da população europeia. E só conversações posteriores entre os ministros das Finanças da UE permitiram uma escolha final. Jeroen Dijsselbloem já deu os parabéns à candidata vencedora.

Mário Centeno também utilizou o Twitter para dar os parabéns a Kristalina Georgieva. Centeno destaca que é “imperativo defender o FMI como símbolo do multilateralismo e da cooperação internacional”.

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Antes da publicação de Dijsselbloem, já fonte europeia tinha revelado que a atual ‘número dois’ do Banco Mundial estava “claramente” na liderança, embora sem ter reunido uma maioria qualificada na votação.

Os resultados da segunda votação foram muito claros em ambos os critérios e colocam Georgieva claramente à frente, com 57% no critério populacional e 56% no critério do apoio dos Estados-membros. Já Djesselbloem tem, respetivamente, 43% e 44% nos mesmos critérios, o que torna a diferença substancial”, notou a mesma fonte.

Com um longo percurso no Banco Mundial, onde é a número dois desde 2017, Kristalina Georgieva entrou na organização em 1993 como Economista Ambiental, tornando-se depois diretora para o Desenvolvimento Social e Ambiental da Ásia e da Região do Pacifico. Mais tarde seria ainda diretora com o pelouro da estratégia e políticas ambientais. Em 2004 foi nomeada para diretora para a Federação Russa, ficando baseada em Moscovo.

Foi, no entanto, no período entre 2007 e 2008 que Georgieva assumiu uma posição de maior destaque no Banco Mundial. Como diretora do Desenvolvimento Sustentável ficou como responsável última das políticas e operações de empréstimo para infraestruturas, desenvolvimento urbano e agricultura. Ou seja, supervisionou cerca de 60% de todas as operações de empréstimo do Banco Mundial.

A partir daí foi apenas um pequeno passo até ao topo: vice-presidente entre 2008 e 2010 e secretária corporativa, servindo de interlocutora entre a gestão do Banco Mundial, o Conselho de Administração e os países “shareholders”. É apontada como uma das personalidades chave nas reformas de “governance” do Banco Mundial na sequência da crise financeira de 2008.

Em 2010 entrou nos palcos principais das instituições europeias. Primeiro como Comissária para a Cooperação Internacional e depois na pasta da Ajuda Humanitária e Resposta às Crises, no consulado de Durão Barroso à frente da Comissão.

A partir de 2014, já com Jean-Claude Juncker a liderar os destinos do executivo comunitário, Kristalina Georgieva ascendeu a vice-presidente, com o pelouro do Orçamento e dos Recursos Humanos. Ou seja, era responsável pelo orçamento europeu (de 161 mil milhões de euros) e pelos 33 mil funcionários comunitários espalhados por todo o mundo.

Doutorada em Ciências Económicas e com um mestrado em Economia Política e Sociologia, Kristalina tinha contra si a idade, uma vez que a 13 de agosto completa 66 anos. As regras do FMI são claras: à altura da entrada em funções um diretor-geral do FMI tem de ter menos do que 65 anos. E não pode permanecer em funções para lá dos 70. Ou seja, as regras e os estatutos do FMI terão de mudar para que Georgieva — que chegou a concorrer (perdendo) contra António Guterres no cargo de secretária-geral da ONU — ascendesse à liderança do fundo monetário.

Um processo longo e difícil

O processo de votações foi marcado inicialmente por duas desistências esta sexta-feira. Depois da ministra da Economia espanhola, Nadia Calviño, também o governador do Banco da Finlândia, Oli Rehn, saiu da corrida para ser candidato europeu à presidência do FMI. Tal como no caso de Mário Centeno no dia anterior, o anúncio foi feito pelo Twitter.

Antes, foi Nadia Calviño que anunciou o abandono da corrida, depois da primeira ronda de negociações.

“Espanha estará sempre disposta a promover o consenso entre os países da União Europeia para eleger uma candidatura comum para a direção do Fundo Monetário Internacional. Para isso, anunciamos que o governo aposta por conseguir um acordo europeu, sem que a ministra da Economia Nadia Calviño participe na seguinte fase”, disseram fontes do governo de Madrid ao El País.

Já na quinta-feira, Mário Centeno anunciou no Twitter que não ia a votos para ser o candidato da UE ao FMI, mas fonte oficial do Ministério das Finanças explicou ao Observador que não desistiu da corrida.

O ministro das Finanças anunciou que queria “ajudar a encontrar um consenso” e que, por isso, não iria fazer parte desta fase do processo — a votação que decorreu esta sexta-feira. Tal como “em outras decisões importantes da UE, devemos lutar por um terreno comum”, defendeu Mário Centeno. O também presidente do Eurogrupo garantiu na mesma mensagem que se mantinha “disponível para trabalhar no sentido de uma solução” que fosse “aceitável para todos”. Ou seja, para o ministro português, a votação que decorreu esta sexta-feira não contribuía para encontrar um consenso.

O ministério das Finanças francês, tutelado por Bruno Le Maire, o coordenador do processo de escolha de um candidato na União Europeia (UE), tinha indicado que a votação iria decorrer “segundo as regras europeias de maioria qualificada”, que estipulam que o eleito tem de recolher o apoio de 55% dos países-membros representando pelo menos 65% da população da UE.

A mesma fonte europeia esclareceu, contudo, que “nunca se tratou de alcançar uma maioria qualificada”, mas sim de “usar os critérios do método da maioria qualificada” estabelecidos nos Tratados comunitários.

Artigo atualizado às 20:55.