O Ministério Público arquivou o caso da Yupido, a misteriosa empresa multimilionária com um valor de capital social de 28,8 mil milhões de euros e que não tem produtos ou funcionários. A investigação demorou dois anos e não resultou na constituição de qualquer arguido, avançou o Dinheiro Vivo e o Jornal de Notícias.

A história da Yupido começou a invadir o Twitter em setembro de 2017, depois de um professor da Universidade do Minho ter descoberto que o valor do capital social desta empresa atingia 28,8 mil milhões de euros — duas vezes mais o capital social da Galp e 15 vezes o da Sonae —, levantando dúvidas sobre a sua legalidade. O caso gerou uma grande polémica e foi investigado pela Polícia Judiciária (PJ) e pela Ordem dos Revisores Oficiais de Contas (OROC), bem como pelo Ministério Público e pela Comissão de Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

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A Ordem dos Revisores Oficiais de Contas, avançou a SIC em maio do ano passado, decidiu suspender por dois anos António José Alves da Silva, o revisor oficial de contas (ROC) que comprovou que a Yupido valia 28,8 mil milhões de euros no último aumento de capital da empresa. No entanto, não foi feita uma nova avaliação da empresa.

Alves da Silva chegou a dizer ao Observador que, quando viu a imagem da “televisão” que os fundadores e um grupo de técnicos lhe mostraram, lembrou-se logo de Steve Jobs porque ia “revolucionar o sistema”. O ROC explicou ainda que foi contactado apenas para fazer a avaliação do bem, mas que não podia revelar “os caminhos que seguiu para chegar aos 28,8 mil milhões” porque tinha assinado um compromisso profissional de sigilo.

Avaliador da Yupido diz que viu a “televisão revolucionária”. E lembrou-se de Steve Jobs

Segundo o que foi avançado na altura pelo Eco, Alves da Silva escreveu no relatório que o bem intangível (isto é, não em dinheiro) da Yupido tratava-se de uma “plataforma digital inovadora de armazenamento, proteção, distribuição e divulgação de todo o tipo de conteúdo media” e que se destacava “pelos algoritmos que a constituem”.

Fundada em julho de 2015 por Hugo Martins, Cláudia Alves e Torcato Jorge, a Yupido está sediada nas Torres de Lisboa, mas tem escritório em Telheiras e rapidamente se tornou viral nas redes sociais. Também há dois anos, o Observador apurou que algumas das reuniões de trabalho que os fundadores da Yupido tinham com pessoas externas à empresa aconteciam em Telheiras e decidiu bater à porta da empresa. Mas ninguém abriu.

O relatório e contas da empresa em 2016, consultado pelo Observador, dá conta de prejuízos no valor de 21.570 euros, depósitos à ordem em bancos no valor de 243,297 milhões de euros, um passivo a fornecedores no valor de 217,23 euros e um aumento de capital em bens em espécie ou intangíveis no valor de28.524.864.970, ou seja, de 28,5 mil milhões de euros. Não havia registo de pagamentos a funcionários ou a sócios. Não havia vendas. Não havia registo de de colaboradores da Yupido.

Encontrámos o escritório secreto da Yupido. Estes 29 mil milhões moram em Telheiras

Em 2017, em entrevista ao Jornal Económico, Hugo Martins, que é o presidente da empresa, assegurou que tudo foi feito como mandam as regras. “A empresa foi constituída há dois anos [em 2015], e tanto o capital inicial como o aumento são do conhecimento público. Todos os procedimentos legais, tanto na constituição da empresa como no aumento de capital, foram cumpridos e aceites pelos órgãos competentes”, garantiu.