O volume de negócios da Farfetch atingiu um valor recorde no segundo trimestre de 2019: 488 milhões de dólares (435 milhões de euros), mais 44% do que o que a empresa registou no mesmo trimestre do ano passado. As receitas também subiram para 209 milhões de dólares (186 milhões de euros), mas os prejuízos seguiram a mesma tendência: aumentaram 406,9% e atingiram 89,6 milhões de dólares (80 milhões de euros), de acordo com os resultados apresentados pela empresa esta quinta-feira em Nova Iorque.

Os investidores reagiram aos números de imediato no “after hours” dos mercados e, na abertura da sessão desta sexta-feira em Wall Street, as ações da empresa liderada por José Neves caíam mais de 42%, chegando a tocar os 10,27 dólares, por volta das 09h45, o valor mais baixo desde que entrou em bolsa. Segundo a agência financeira Bloomberg, citada pelo Jornal de Negócios, várias casas de investimento cortaram, entretanto, a avaliação das ações da plataforma de comércio de moda de luxo — nalguns caso, esses cortes terão chegado a 50%.

“Os prejuízos foram em grande parte motivados pela subida anual dos prejuízos operacionais, que passaram de 36,8 milhões de dólares para 95,8 milhões, parcialmente causados pela redução nas perdas cambiais não realizadas sobre a reavaliação de contas a receber e a pagar em dólares não americanos. A nossa exposição aos ganhos e perdas cambiais estrangeiros diminuíram após uma alteração na moeda funcional da nossa entidade legal principal, a Farfetch UK Limited — da libra esterlina para dólares americanos, a 1 de janeiro de 2019”, lê-se na apresentação dos resultados.

Ao Observador, o fundador e CEO José Neves disse, em junho (depois de os resultados do primeiro trimestre saírem), que não estava preocupado com os prejuízos. “Se fosse de preocupar os analistas teriam descido o rating. Obviamente, os mercados estão complicados com estas questões macroeconómicas da China e do Trump, mas ao nível daquilo que são [as bases] fundamentais da empresa, estamos a entregar exatamente aquilo que dissemos que íamos entregar”, afirmou.

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Prejuízos na Farfetch? “Seremos lucrativos quando quisermos. Não estou nada preocupado”

No comunicado desta quinta-feira, José Neves escreve que “à medida que se avizinha o primeiro aniversário [da Farfetch] enquanto empresa pública, estou satisfeito com o progresso que fizemos na execução da nossa visão para o segundo capítulo — construir uma plataforma global que vai ficar com a fatia de leão do crescimento de 100 mil milhões que é esperado para a indústria online do luxo”, afirmou. A plataforma de comércio de moda de luxo luso-britânica foi admitida na bolsa nova-iorquina a 21 de setembro de 2018.  O responsável pelas finanças da Farfetch, Elliot Jordan, acrescentou que o crescimento recorde foi “além das expectativas”.

José Neves. O “faz-tudo” que deu “o que tinha e o que não tinha” para lançar a Farfetch

O aumento no volume de negócio foi motivado, sobretudo, pelo aumento de 55,7% do número de consumidores — são agora 1,8 milhões de pessoas que fazem compras na plataforma. O aumento do número médio de pedidos por consumidor ativo também subiu, bem como o número de pedidos globais no marketplace da Farfetch. As receitas dos serviços efetuados na plataforma também aumentou 53% em relação ao ano anterior.

Além dos resultados, o unicórnio (empresa avaliada em mais de mil milhões de dólares) de origem portuguesa também anunciou que comprou a plataforma de marcas de design New Guards por 675 milhões de dólares (602 milhões de euros). A empresa diz que a compra vai alavancar a base global de consumidores, as parcerias com as boutiques e a base de dados. Fazem parte do grupo marcas como a Off-White, Palm Angels, Condado de Milan de Marcelo Burlon, Heron Preston, Alanui, Projeto Unravel e Kirin Peggy Gou

“A aquisição da New Guards aumenta a estratégia da Farfetch em ser a plataforma tecnológica global de moda de luxo, potenciando a individualidade e ligando criadores, curadores e consumidores. A New Guards é uma plataforma que lançou várias marcas de moda de luxo globais, com um historial comprovado de identificação e desenvolvimento de algumas das marcas mais emergentes e relevantes, bem como designers e diretores criativos do setor”, lê-se no comunicado.

No início de julho, a Condé Nast — grupo que detém títulos como a Vogue, GQ, Vanity Fair ou a The New Yorker — abandonou a participação de 234 milhões de libras (cerca de 261 milhões de euros) que detinha no capital social da Farfetch. Segundo o jornal The Sunday Times, a razão para a saída passará pela forma como o negócio da empresa de José Neves estará a ser gerido. A preocupação da empresa incidirá sobretudo nas despesas com marketing.

Condé Nast, dona da Vogue, abandona capital social da Farfetch

Desde 2017 que a Condé Nast detinha cerca de 6% do capital social da Farfetch, depois de um acordo entre as duas empresas. Na altura, o grupo norte-americano decidiu abandonar a sua loja online Style.com — na qual chegou a planear um investimento de 100 milhões de dólares — e encaminhou os utilizadores diretamente para a plataforma de comércio online de moda de luxo de José Neves. Agora, o grupo liderado por Roger Lynch terá “preocupações com a quantidade de dinheiro que a Farfetch está a gastar em marketing”, diz a mesma publicação.

Em junho, José Neves disse ao Observador que a empresa seria “lucrativa quando quisesse”. “A nossa aposta neste momento não é na rentabilidade imediata, é em conquistar quota de mercado e continuar nesta rampa de crescimento, porque temos meios financeiros para isso, temos zero de dívidas, portanto não temos quaisquer dívidas no balanço. Temos os meios financeiros para isso e é isso que os nossos investidores querem que façamos, que é crescer. Se nós quiséssemos crescer um pouquinho menos, imediatamente… E é isso que cria confiança nos investidores. Eles veem através das contas da empresa que é uma aposta deliberada que estamos a fazer no crescimento.”

*Em atualização