A Condé Nast, grupo que detém títulos como a Vogue, GQ, Vanity Fair ou a The New Yorker, abandonou a participação de 234 milhões de libras (cerca de 261 milhões de euros) que detinha no capital social da Farfetch. Segundo o jornal The Sunday Times, que avançou com a informação, a razão para a saída passará pela forma como o negócio da empresa de José Neves estará a ser gerido. A preocupação da empresa incidirá sobretudo nas despesas com marketing.

Desde 2017 que a Condé Nast detinha cerca de 6% do capital social da Farfetch, depois de um acordo entre as duas empresas. Na altura, o grupo norte-americano decidiu abandonar a sua loja online Style.com — na qual chegou a planear um investimento de 100 milhões de dólares — e encaminhou os seus leitores diretamente para a plataforma de comércio online de moda de luxo de José Neves, que por sua vez adquiriu a marca Style.com, a sua base de dados e os seus conteúdos. “Como um investidor de início da Farfetch, esta parceria é o próximo passo para a o desenvolvimento da nossa relação comercial”, referiu na altura Jonathon Newhouse, presidente do Conselho de Administração da Condé Nast.

Agora, o grupo liderado por Roger Lynch terá “preocupações com a quantidade de dinheiro que a Farfetch está a gastar em marketing”, diz a mesma publicação. Também em março deste ano, Jonathan Newhouse abandonou o seu cargo nos quadros da Farfetch, o que terá sido um primeiro sinal desta separação. A empresa foi a primeira startup portuguesa a tornar-se num unicórnio (empresa avaliada em mais de mil milhões de dólares) e estreou-se em bolsa no ano passado, onde só no primeiro dia conseguiu encaixar uma fortuna superior a mil milhões de dólares. Contactada pelo Observador, a Farfetch disse não ter nada a acrescentar à informação avançada pelo The Sunday Times.

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A empresa fundada por José Neves duplicou os seus prejuízos nos primeiros três meses do ano, quando comparados com o primeiro trimestre de 2018: passaram de 50,727 milhões de dólares para 109,03 milhões. Na altura, a empresa justificou a subida com a também subida dos custos operacionais (para 85,5 milhões de dólares) e com o “impacto de um dólar mais forte”. As suas receitas, no entanto, aumentaram 39% para 174,06 milhões de euros.

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Em entrevista ao Observador, em maio deste ano, José Neves explicou que a duplicação dos prejuízos da empresa não o preocupa: “Seremos lucrativos quando quisermos ser lucrativos. Porque, neste momento, estamos a crescer a 50%, não há muitas empresas — são muito poucas, talvez uma ou duas no mundo — com 2 mil milhões [de dólares] de equivalente a vendas (que é o nosso GMV), mais de 500 milhões [de dólares] de receitas previstas para este ano, a crescer 50% ao ano. A nossa aposta neste momento não é na rentabilidade imediata, é em conquistar quota de mercado”.

Prejuízos na Farfetch? “Seremos lucrativos quando quisermos. Não estou nada preocupado”

A Farfetch tem investido em novos produtos e na sua promoção. Exemplo disso é a sua nova área de negócio, o Farfetch Second Life, um programa piloto de revenda de malas de designer. Os clientes que acederem a esta nova opção poderão trocar as malas usadas por créditos em compras no marketplace da Farfetch.

Fundada em 2007 por José Neves e com sede em Londres, a Farfetch é a plataforma tecnológica líder global para a indústria da moda de luxo e, pelas contas da própria, está disponível em 190 países e vende produtos de mais de mil marcas de luxo.

*Artigo atualizado a 10 de julho para clarificar o parágrafo referente aos prejuízos da Farfetch.