O nome da pintora portuguesa Helena Vieira da Silva foi atribuído este sábado por Paris a uma rua da cidade, relembrando o seu papel nos meios artísticos dos dois países e abrindo a porta a uma grande retrospetiva da artista na capital francesa.
A rua “é um gesto muito importante da cidade de Paris e do 14º bairro, já que Vieira da Silva viveu perto daqui durante décadas e, portanto, é normal e também uma ocasião feliz que aconteça este reconhecimento. É um gesto muito bonito de amizade franco-portuguesa, que ela encarna maravilhosamente”, disse Florence Mangin, embaixadora da França em Portugal, em declarações à Lusa após a cerimónia no 14º bairro.
Além da diplomata francesa, a cerimónia, que teve lugar esta manhã, contou com a presença de várias figuras da autarquia de Paris e do 14.º bairro, incluindo Anne Hidalgo, presidente da Câmara de Paris, assim como dezenas de habitantes que prestaram homenagem não só à pintora portuguesa, mas também às irmãs Paulette e Jeanne Nardal.
Estas duas francesas nascidas na Martinica, lutaram durante o século XX pelos direitos das mulheres negras em França e o seu nome foi hoje oficialmente atribuído a um passeio ajardinado, junto à rua Maria Helena Vieira da Silva, situada num novo complexo habitacional no sul da capital.
Esta rua “tem uma importância muito grande porque é um reconhecimento do papel que Vieira da Silva teve na cultura francesa e, especificamente, o facto de ter vivido neste bairro acrescenta valor a isso, especialmente num dia em foram inauguradas um conjunto de ruas com nomes maioritariamente femininos e de mulheres que estiveram implicadas na vida pública, cultural e artística”, afirmou João Pinharanda, conselheiro cultural da Embaixada de Portugal em França.
Para uma pintora de cidades, ter o nome numa das capitais onde viveu e que mais pintou, “faz todo o sentido” também para a Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva.
“Maria Helena Vieira da Silva é uma mulher de duas cidades. De Lisboa, a cidade da sua infância, onde voltou toda a vida e que a inspirou para todas as suas cidades pintadas. E Paris que a acolheu e onde fez a sua carreira profissional […] Faz todo o sentido este reconhecimento e esta presença de uma pessoa que marcou de facto a pintura do pós-guerra em França e no Mundo inteiro”, indicou Marina Bairrão Ruivo, diretora da Fundação que também marcou presença na cerimónia em Paris.
Tendo recebido as mais altas distinções de Portugal e de França por causa da sua obra, o papel de Maria Vieira da Silva não figura apenas nos seus quadros, mas também no apoio que deu a outros artistas portuguesas que se estabeleceram em Paris no pós-guerra.
“Ela tem um papel de acolhimento de artistas portugueses em França, já que, estando estabelecida em Paris, ajudou de várias maneiras. Às vezes sendo tutora para as bolsas da Fundação Gulbenkian, às vezes dando um ou dois jantares por semana, ela vai ajudar os artistas portugueses que por razões artísticas ou políticas chegam à capital francesa”, lembrou João Pinharanda, mencionado entre outros, o grupo KWY da artista Lourdes Castro.
A dinâmica criada em vida através da obra e das ligações humanas entre as duas cidades ainda se mantém hoje em dia.
“Temos relações muito particulares com França por causa da sua dupla nacionalidade e pelas relações que temos com o Comite Arpad Szenes – Vieira Da Silva, com sede em Paris, e temos pedidos de colaborações e exposições. Temos uma programação muito baseada neste eixo Paris-Lisboa”, disse Marina Bairrão Ruivo.
A última grande exposição em Paris desta artista aconteceu no final da década de 80 e a Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva considera que este seria o momento de recordar a vida e obra da pintora na capital francesa.
“Penso que se deveria começar a pensar seriamente porque a última [grande exposição] data dos anos 80 no museu Maillol, antes disso nos anos 70 no Grand Palais. E eu penso que é altura de revisitar em pleno esta obra notável”, sublinhou Marina Bairrão Ruivo.