A procuradora-geral da República brasileira (PGR), Raquel Dodge, afirmou na segunda-feira que o crime organizado é responsável pelo desflorestação da Floresta Amazónia, acrescentando que é preciso enfrentar a questão como um “fenómeno transnacional”.

Segundo informações apuradas pelo Ministério Público Federal do Brasil (MPF), há indícios de associação entre os grupos que abatem árvores e os compradores de madeira no estrangeiro, para onde segue grande parte do produto extraído ilegalmente no território brasileiro.

“As informações que temos é de uma associação estreita entre quem desmata e quem compra madeira. Entre quem desmata, e põe fogo na mata, e quem usa essa madeira no exterior. [A madeira] não é usada só no território brasileiro. Aliás, é poucas vezes usada no território nacional”, disse Dodge, em Brasília, citada no site do MPF.

As declarações da PGR brasileira foram proferidas na abertura de uma reunião de trabalho entre procuradores do Ministério Público e representantes da Unidade de Cooperação Jurídica da União Europeia (Eurojust). Dodge reforçou a necessidade da implementação de ações de cooperação entre o Ministério Público brasileiro e autoridades estrangeiras.

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Adentrar a floresta, desflorestá-la numa primeira fase com uso de mão de obra escrava, carregar aquelas toras, encaminhá-las pelo rio até chegar ao porto, transportá-las de navio até o exterior é obra de uma organização e de um engendramento que não é fruto de coautoria, de uma ação ocasional não planeada”, frisou a PGR.

O combate à corrupção e ao branqueamento de capitais com instrumentos que impeçam a “transferência do património público brasileiro” para o exterior, foram outros dos pontos que Raquel Dodge defendeu como parte de uma cooperação entre o Brasil e a Europa.

Os outros países têm sido um santuário do desvio do dinheiro do património público brasileiro. Se não houver cooperação para que os países europeus não sejam o destino desse dinheiro desviado do nosso património público, essa corrupção continuará a ser praticada”, reforçou a procuradora-geral da República, na capital do país sul-americano.

De acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais brasileiro (Inpe), órgão público que mede a desflorestação no país, nos seis primeiros meses do ano houve um crescimento de 212% nas áreas desflorestadas da Amazónia face ao mesmo período de 2018. Porém, os valores registados em julho vieram mostrar um aumento muito superior, com os alertas sobre a desflorestação da Amazónia a aumentar 278% nesse mês, em relação ao período homólogo de 2018.

A Amazónia é a maior floresta tropical do mundo e possui a maior biodiversidade registada numa área do planeta. Tem cerca de 5,5 milhões de quilómetros quadrados e inclui territórios do Brasil, Peru, Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e Guiana Francesa (colónia francesa).

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