No final de maio, Rui Costa deu uma entrevista ao jornal Record onde garantia que “o projeto” do Benfica era conquistar a Liga dos Campeões. “O presidente já o anunciou e é um objetivo em construção. Tudo iremos fazer para manter os nossos melhores jogadores, cientes de que estamos num momento muito bom, graças à liderança de Luís Filipe Vieira e ao trabalho das estruturas compostas por grandes profissionais”, disse na altura o dirigente encarnado. Ora, em maio, há sensivelmente quatro meses, Rui Costa garantia que João Félix fazia parte desse projeto europeu do Benfica — até porque tinha “contrato até 2023 e uma cláusula de 120 milhões”.

Passaram então quatro meses. O Atl. Madrid bateu a cláusula de João Félix e levou para a capital espanhola um dos pilares do tal projeto europeu do Benfica. Não obstante, o clube começava esta terça-feira o primeiro ano desse plano a longo prazo com os três vértices fundamentais bem enraizados: Rui Costa, Bruno Lage e Luís Filipe Vieira. Com ou sem João Félix, o Benfica arrancava na Luz e contra o RB Leipzig uma campanha que tem como objetivo crescer, progredir e evoluir na continuidade ao longo das próximas temporadas.

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Ficha de jogo

Benfica-RB Leipzig, 1-2

Fase de grupos da Liga dos Campeões

Estádio da Luz, em Lisboa

Árbitro: Tasos Sidiropoulos (Grécia)

Benfica: Vlachodimos, Tomás Tavares, Rúben Dias, Ferro, Grimaldo, Pizzi (Rafa, 76′), Fejsa, Taarabt, Cervi (Seferovic, 76′), Jota (David Tavares, 67′), Raúl de Tomás

Suplentes não utilizados: Zlobin, Caio, Jardel, Nuno Tavares

Treinador: Bruno Lage

RB Leipzig: Gulacsi, Mukiele, Konaté, Orban, Demme, Sabitzer, Laimer (Haidara, 39′), Forsberg (Nkunku, 88′), Halstenberg (Klostermann, 83′), Poulsen, Werner

Suplentes não utilizados: Mvogo, Upamecano, Lookman, Matheus Cunha

Treinador: Julian Nagelsmann

Golos: Timo Werner (69′ e 78′), Seferovic (84′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Poulsen (57′), Jota (62′), Haidara (70′)

Depois da derrota em casa com o FC Porto, a equipa de Bruno Lage foi à Pedreira recuperar o orgulho com uma goleada imposta ao Sp. Braga e voltou a vencer já depois da paragem para as seleções, perante o Gil Vicente. O segundo lugar na Primeira Liga, engrossado pela vitória sofrível do FC Porto em Portimão, servia como almofada de conforto, tranquilidade e confiança para o primeiro jogo da Liga dos Campeões. Do outro lado, porém, estava o RB Leipzig — que empatou com o Bayern Munique no fim de semana, que está no primeiro lugar da Bundesliga e que quer começar a cimentar caminho, experiência e resultados nas competições europeias. Na hora de escolher o onze inicial, Lage repetiu a fórmula que utilizou na segunda metade da época passada e deixou de fora alguns habituais titulares para dar minutos e oportunidades a outros jogadores.

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Tomás Tavares, que no sábado esteve para entrar contra o Gil Vicente mas acabou por não ir a tempo, era titular na estreia absoluta pela equipa principal encarnada e rendia André Almeida, que nem sequer integrava a convocatória. Franco Cervi, que esteve quase para sair no verão, ocupava o lugar de Rafa e Jota estava na posição de Seferovic. A primeira parte trouxe duas equipas a atuar em 4x4x2 e que iam encaixando a espaços, colocando o epicentro das ocorrências no meio-campo e nas disputas de bola e não tanto nas áreas de um e outro conjunto.

Forsberg foi o primeiro a avisar os encarnados, ao marcar um golo que acabou por ser anulado porque Timo Werner estava em fora de jogo na hora da assistência (7′). Ainda que o encontro não estivesse a permitir grandes desequilíbrios, principalmente face à eficácia defensiva das duas equipas, o Benfica ia tentando chegar à área de Gulácsi maioritariamente pela faixa esquerda, onde Grimaldo aparecia muito subido e Cervi queria mostrar serviço no primeiro jogo que cumpria esta temporada. Taarabt, no meio-campo, era o pêndulo que tentava distribuir a construção para o setor mais adiantado mas a verdade é que os dois homens da frente, Jota e Raúl de Tomás, não estavam a conseguir superiorizar-se ao centrais Orban e Konaté na hora da finalização. Com dificuldades depois de ultrapassada a primeira linha defensiva dos alemães, os encarnados tentavam criar perigo com bolas pelo ar que não favoreciam nem o jovem português nem o avançado espanhol, inferiores fisicamente em relação aos dois centrais do RB Leipzig.

Do outro lado, o Benfica estava a conseguir segurar as investidas ofensivas de Timo Werner, Poulsen e Forsberg — todos alimentados por um Demme exímio que foi o melhor dos alemães na primeira parte — mas estava a correr alguns perigos na hora de aplicar uma pressão superior, principalmente por intermédio de Ferro, que cometeu vários erros pouco habituais e permitiu remates tanto do alemão como do sueco. No final da primeira parte (e já depois de Raúl de Tomás protagonizar a melhor oportunidade encarnada, com um remate na sequência de um livre de Pizzi), era necessário procurar formas de desequilibrar, desmontar a organizada defesa alemã e encontrar uma maneira de soltar Jota, que estava muito sozinho e altamente pressionado quando era obrigado a recuar para levar jogo para a frente.

Na segunda parte,o Benfica voltou com ainda menos ideias do que aquelas que tinha demonstrado no primeiro tempo: o RB Leipzig, sem estar a ser brilhante, encostou a equipa encarnada ao próprio meio-campo durante o quarto de hora inicial do segundo tempo e secou a primeira fase de construção portuguesa. Pizzi estava pouco envolvido na toada ofensiva — mostrando até algum cansaço físico –, Jota permanecia demasiado isolado para conseguir recuar para ir buscar jogo, Taarabt estava alguns pontos abaixo daquilo que tem mostrado e eram Cervi e Grimaldo, os dois donos da faixa esquerda encarnada, a tentar impulsionar a equipa para a frente. Mesmo com um Tomás Tavares muito certinho e a deixar boas indicações para o futuro, os alemães poderiam ter chegado à vantagem logo nos primeiros instantes da segunda parte, valendo Vlachodimos a roubar o golo a Sabitzer quando o austríaco já se preparava para encostar (49′).

O Benfica, que esta terça-feira não tinha Bruno Lage no banco de suplentes devido ao castigo aplicado ao treinador ainda na temporada passada, quando foi expulso contra o Eintracht Frankfurt na Liga Europa (era substituído pelo adjunto Nélson Veríssimo), subiu as linhas a partir do minuto 60 e esteve perto do golo — primeiro por intermédio de Raúl de Tomás (61′), depois com Pizzi assistido por Tomás Tavares (68′). Ainda assim, os encarnados não conseguiam esconder que faltava clareza, discernimento e criatividade e tinham muitas dificuldades em causar problemas à dupla de centrais dos alemães, que se manteve quase intransponível durante grande parte da partida. Logo após a oportunidade de Pizzi, numa altura em que os encarnados pareciam estar por cima do jogo e a subir de rendimento, o RB Leipzig voltou a aplicar a fórmula que estava a testar desde o apito inicial: poucos toques, passes a quebrar linhas e setores e simplicidade. Poulsen recebeu na grande área de costas para a baliza e deixou a bola redonda e quase parada para Timo Werner, que atirou para bater Vlachodimos (69′).

Já depois de David Tavares também se estrear na equipa principal do Benfica, para substituir Jota, Franco Cervi teve nos pés uma oportunidade clamorosa para chegar ao empate depois de isolado por Taarabt mas permitiu a defesa de Gulácsi (74′). Rafa e Seferovic foram lançados para procurar o golo mas a eficácia alemã voltou a aparecer na Luz e Timo Werner bisou a passe de Sabitzer (78′) — num lance que teve de ser confirmado pelo VAR e que voltou a precisar de poucos passes para chegar perto da baliza encarnada. Já nos instantes finais do encontro, e numa altura em que o RB Leipzig procurava gerir e colocar algum gelo nas ocorrências, Seferovic ainda reduziu a desvantagem depois de um bom entendimento entre Rafa e Tomás Tavares (84′) mas o Benfica já não conseguiu evitar a derrota na jornada inaugural da Liga dos Campeões.

O Benfica volta a não conseguir vencer no jogo inaugural da Champions pela quarta temporada consecutiva e fica para já no último lugar do Grupo G. Com mais oportunidades e mais remates enquadrados, a equipa encarnada acabou por sofrer com a simplicidade alemã, que conseguiu marcar dois golos sem precisar de rendilhar lances, de ter posse de bola durante muito tempo ou sequer de ponderar muito as decisões. Sem Bruno Lage no banco de suplentes, o Benfica mostrou as dores de crescimento de uma equipa que está em todas as frentes e cujas soluções para fazer descansar titulares não são ainda suficientemente eficazes para garantir resultados.