António Costa, primeiro-ministro e secretário-geral do PS, pode ter sido brando em conversa com o comentador Daniel Oliveira no seu podcast quando falou sobre o PCP e o PAN, mas o mesmo não aconteceu quando falou sobre o BE. Afirmou que não é “mais adversário do BE do que o BE é do PS ou dos demais partidos”, mas avisou também: “Esta solução foi uma solução construída apesar do BE e a que depois o BE se juntou”.

Se o Governo tivesse seguido os programas políticos que pressupunham a rutura com o tratado orçamental, a renegociação da dívida, a saída do euro, ou outras medidas do género, não teríamos, seguramente, conseguido cumprir esta legislatura nem alcançar os resultados que alcançámos”, diz Costa sobre a geringonça.

“O BE propõe-se endividar o país no valor de 27 mil milhões de euros para nacionalizar várias empresas, desde os CTT à Galp”, acusou o primeiro-ministro. Depois, defendeu o PS: “Não estamos disponíveis para endividar o país para ir nacionalizar empresas”. E disse ainda: “a história desta legislatura é a história de uma batalha da esquerda contra o PS”.

Quanto aos CTT, referiu que “o próximo Governo vai ter de negociar o fim do contrato público de concessão do serviço público postal” e, apenas “quando chegar a altura”, é que “o governo deve fazer a negociação que melhor sirva o serviço público”.

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Além de referir o programa eleitoral dos bloquistas, o socialista também lembrou momentos em que este aliado da geringonça tentou mexer no seu eleitorado: “Houve um partido, que não é o PS, que sentiu que devia crescer à custa do eleitorado dos outros. Já ouviu o BE ter a impertinência de dizer aos socialistas para irem votar no BE”.

Apesar de referir que não tem “um problema com um dos aliados”, António Costa foi menos duro sobre o PCP. “A relação entre o PS e o PCP é uma relação estabilizada e não está sujeita a estados de alma”. Numa crítica mais direta ao acordo com o BE, lembra o debate eleitoral de 2015 em que Catarina Martins fala de quais são balizas para um acordo entre os dois, e acusa a coordenadora do partido da oposição: “Sabe bem que esse momento foi um momento de teatro em que se fingiu que se pôs três condições de governação no pressuposto de que não se iam verificar”.

Se vai haver desentendimento dentro da geringonça ou não, só o futuro o pode dizer. E sobre o futuro, Costa também não foi direto. Relativamente a um possível entendimento com outros partidos, designadamente o PAN, para uma solução de governação, a resposta deixou espaço para interpretações: “O entendimento com o PAN tem existido mesmo não garantido maioria, não foi por precisar do PAN para negociar orçamentos que não deixámos de negociar com o PAN. À exceção do primeiro, votou a favor de todos os Orçamentos do Estado”.

Tendo ou não maioria absoluta nas legislativas, o atual primeiro-ministro referiu estar “disponível para negociar com o PAN”, mas sem explicar como. Só há uma certeza: não aceitar com o “PAN o que não íamos aceitar à direita”.

Sobre o PSD, Costa mantém o mesmo discurso, empurrando os sociais-democratas para a direita: “Não acho saudável para a democracia uma solução de governo que passe pelo PSD e PS (…) [depois da noite eleitoral] as alternativas de governo serão necessariamente polarizadas à direita, pelo PSD, e à esquerda, pelo PS”. E continua: “Para não comprometer a qualidade da nossa democracia é indesejável soluções de governo PS/PSD, salvo em situações de calamidade que não vale a pena especularmos que existam nem que ninguém deseja que exista”.