Há novas pistas e, pela primeira vez, um rosto de como seriam os denisovanos, uma espécie humana extinta há milhares de anos e que ainda hoje permanece um dos maiores mistérios pela falta de informações — tudo o que existia desta espécie eram dentes, uma falange e uma mandíbula. Esta semana, uma equipa internacional de cientistas divulgou a primeira reconstituição anatómica de uma jovem denisovana. Resultado: esta espécie é mais parecida com os neandertais, mas tem também características únicas.

A equipa, liderada pela Universidade Hebraica de Jerusalém, conseguiu fazer a reconstituição a partir do material genético retirado do osso de um dedo mindinho encontrado na gruta de Denisova, na Sibéria, em 2010, e cujo ADN permitiu reconhecer oficialmente os denisovanos como uma espécie humana.

Em vez de olharem simplesmente para a sequência de genes no ADN, os investigadores analisaram o processo de “metilação”, ou seja, procuraram porções nos genes que continham alterações químicas — estas metilações são responsáveis por ligar ou desligar determinados genes, o que resulta no aparecimento de determinadas características ou não. De seguida, a equipa comparou os padrões verificados na atividade dos genes dos denisovanos com os dos neandertais e dos humanos modernos, de forma a conseguir extrair toda a informação necessária para esta reconstituição.

“Os denisovanos provavelmente partilham traços dos neandertais, com um rosto mais longo e uma pélvis mais larga. Também identificámos alterações derivadas dos denisovanos, tais como uma arcada dentária maior e uma expansão lateral do crânio”, explicam os autores no estudo publicado na revista Cell. Ou seja, esta espécie tinha uma arcada dentária mais alongada e uma cabeça mais larga.

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No total foram detetados 56 traços que caracterizam o denisovano e o distinguem dos humanos modernos ou dos neandertais, sendo 34 deles localizados no crânio. No entanto, há também semelhanças: o estudo indica que, tal como os humanos modernos, também os denisovanos perdiam dentes precocemente.

Segundo Tomàs Marquès-Bonet, um dos autores do estudo, em declarações ao El Español, “pela primeira vez, podemos ter uma ideia de como eram os denisovanos apenas a partir de dados moleculares”. Até porque sempre se soube muito pouco sobre esta espécie. A primeira prova da sua existência, explica o estudo, foi uma falange encontrada numa gruta na Sibéria, datada de há mais de 74 mil anos. O ADN extraído deste osso indicou que pertencia a um grupo irmão dos neandertais e que terá vivido na Ásia.

“Um dos momentos mais emocionantes aconteceu umas semanas depois de este artigo ter sido enviado para revisão: outra equipa identificou a primeira mandíbula de denisovanos e, então, comparámos o osso com as nossas previsões para descobrir que elas combinavam perfeitamente”, acrescentou o professor Liran Carmel ao El Español.

O investigador disse ainda, citado pelo The Guardian, que esta descoberta “pode fornecer algumas luzes sobre questões relativas aos denisovanos, incluindo a forma como se adaptavam ao seu ambiente e como é que os traços genéticos que deixaram nos humanos modernos podem tê-los ajudado”.