A Unbabel, a startup portuguesa   que alia a inteligência artificial com pós-edição humana à tradução automática, fechou uma ronda de investimento Série C (ronda para empresas que estão a crescer exponencialmente) no valor de 60 milhões de dólares, cerca de 54,56 milhões de euros. É a startup fundada por portugueses que captou mais dinheiro nesta ronda — a Farfetch angariou 20 milhões de dólares, em 2013, e a Feedzai 50 milhões, em 2017.

O financiamento foi liderado pela capital de risco americana Point72 Ventures, à qual se juntou a a também americana e.ventures, a Greycroft e a portuguesa Indico Capital Partners. Ao Observador, Vasco Pedro, presidente executivo da Unbabel, diz que vão existir “rondas D e E” e que, agora, o “foco não é na sustentabilidade, mas sim no crescimento”.

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Além dos fundos referidos, juntaram-se a esta aposta na Unbabel investidores que já participaram em investimentos passados na empresa, como a Scale Venture Partners, Notion Capital, M12 (da Microsoft), Samsung NEXT, Caixa Capital, Faber Ventures, FundersClub e Structure Capital.

Temos o prazer de contar com o apoio da Point72 Ventures, da e.ventures, da Greycroft e da Indico Capital Partners que compreendem o poder disruptivo da tradução realmente perfeita. Pela primeira vez, os clientes da Unbabel podem encarar a linguagem como um facilitador de negócios e não como uma barreira, e escalar as suas operações de acordo com as suas prioridades estratégicas”, diz Vasco Pedro.

Vasco Pedro diz ainda que os 60 milhões de dólares vão ser usados para “acelerar a expansão mundial e expandir as capacidades de Inteligência Artificial da empresa”. E diz também: “[este investimento] Significa um acreditar por parte do mercado e do potencial que temos”. A startup quer também continuar a melhorar as tecnologias de processamento de texto que constrói, assim como “a desenvolver o novo laboratório de pesquisa em Pittsburgh, nos Estados Unidos”.

Estamos atualmente a traduzir mais de um milhão de mensagens de apoio ao cliente por mês. Este valor é cinco vezes superior ao volume que registámos em 2018, o que demonstra a procura mundial por um serviço ao cliente multilingue ágil”, refere.

O IPO “daqui a 4 ou 5 anos”, querer ser um “alicórnio” (em vez de um unicórnio) e tradutores ainda mais futuristas do que no Star Trek

Com quase 100 milhões de euros de investimento, a pergunta para qualquer startup começa a ser: quando é que serão um unicórnio (empresa avaliada em mais de mil milhões de dólares)? A resposta do líder da Unbabel é dada em cavalos mitológicos com asas: “O objetivo não é ser apenas ‘um unicórnio’. Como a minha filha diz: é melhor ser um alicórnio, é mais raro, porque tem asas [risos]. É muito possível que na próxima ronda de financiamento estejamos nessa fase”. Quando é que podem chegar a essa valorização? Segundo o fundador da startup: “Daqui a dois a três anos”. Contudo, tudo “depende” do futuro.

Já quanto a um IPO — sigla em inglês para quando uma empresa é admitida em bolsa — Vasco Pedro é direto: “O nosso objetivo é criar uma empresa global. Como parte disso, uma parte natural do percurso é fazer um IPO em algum ponto. É algo que vamos ver daqui a quatro ou cinco anos”.

Relativamente ao maior desafio que teve de ultrapassar para conseguir receber os 91 milhões de investimento que a Unbabel totaliza e ter uma equipa de centenas de pessoas sob a sua liderança, o executivo diz que o crescimento traz pontos negativos. Na série B eram “cerca de 100 pessoas” e, agora “cerca de 230”. Houve mudanças, diz Vasco Pedro: “Numa certa fase, é difícil que as pessoas que estão escalem como a empresa. Há pessoas certas para fases certas da empresas. Estas alterações de fases são difíceis. É aí que se define se uma empresa tem sucesso ou não”. Com o crescimento, diz, chega-se a um ponto em que “já não se conhece toda a gente dentro da empresa” e há desafios acrescidos ao ter novos escritórios, como o de São Francisco, diz o responsável.

Nos últimos anos, a empresa mudou bastante, mas, apesar de a sede já ter passado para os EUA, onde trabalham cerca de 15 pessoas, “a maior massa está em Lisboa”. Mesmo assim, e depois deste investimento de dezenas de milhões, Vasco Pedro afirma que divide o seu tempo de forma igual entre os dois escritórios. “A noção de sede é cada vez mais difusa com a globalização”, diz quanto à aposta no EUA, onde a empresa está registada no Delaware (a maioria com presença nos EUA empresas estão aí registadas pela política fiscal do estado). Mas, apesar do novo escritório de Pittsburgh, o empreendedor promete: “A parte de desenvolvimento vai continuar a acontecer em Lisboa”.

Sobre o futuro, há vontade de a Unbabel continuar desenvolver a tecnologia de tradução. Mas isso significa que vamos ver um tradutor universal como existe no universo de Star Trek, em que até línguas extraterrestres são traduzidas por máquinas? Segundo Vasco Pedro, o que pode existir é algo ainda mais futurista. “Já estamos a trabalhar em tecnologia de versões como o tradutor universal de Star Trek. Contudo, acho que o futuro vai ser diferente do que no Star Trek. Vai ser muito mais telepatia. No futuro, a tecnologia BCI (brain to computer, em português, comunicação cérebro-máquinas), ou seja, comunicar através de sinais, sem ter de haver recursos a voz ou a escrever. Se calhar daqui a 20 anos vai passar muito por aí. Para quem é fã, é uma tecnologia na qual já se pode pensar”.

Um negócio numa indústria de 2,6 biliões de euros

Com cenários ou não como no Start Trek, o futuro próximo parece ser promissor para a startup. O investimento na Unbabel tem também como objetivo “responder ao negócio em forte expansão da Inteligência Artificial Aumentada”, diz ainda a empresa. Segundo a Gartner, o mercado de serviços de inteligência artifical aliado ao trabalho humano, ou “inteligência artificial aumentada”, no qual se insere o negócio da Unbabel, vai valer 2,9 biliões de dólares em 2021 (cerca de 2,6 biliões de euros).

Atualmente, a Unbabel tem clientes como a Microsoft, Booking.com, Facebook e easyJet que utilizam os serviços de tradução da empresa. Segundo a startup, a plataforma da Unbabel reduz até 76% os custos de operação.

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Sobre o investimento, Sri Chandrasekar, sócio na Point72 Ventures, diz: “Fomos inspirados pela visão da Unbabel de fornecer traduções de nível empresarial, apenas com o clique de um botão e impressionados com a tecnologia de tradução com interação humana que criaram”. E refere também: “Acreditamos que a Unbabel está destinada a transformar a indústria da tradução, e estamos incrivelmente entusiasmados por sermos parceiros nesta caminhada”.

A Unbabel foi criada em 2013 também pelo atual presidente executivo da empresa, Vasco Pedro. Em janeiro de 2018, angariou 23 milhões de euros de alguns dos investidores de topo mundiais. Desde aí, tem aberto escritórios nos EUA e expandido a sua operação também na Europa e na Ásia.