Foi um lapso, um pequeno lapso, mas colocado num determinado contexto acaba por servir também de exemplo paradigmático para o momento que o Sporting atravessa: quando a equipa se formava para fazer a fotografia do onze inicial, Luís Maximiano, guarda-redes que fazia a estreia absoluta pela equipa principal sendo o segundo mais novo de sempre a chegar a esse patamar, atrasou-se ligeiramente a colocar as luvas e quando tentou acelerar o seu passo já não chegou a tempo porque mais de metade dos companheiros já tinham deixado essa zona. O jovem formado no clube ainda se riu mas nem esse momento que seria histórico para si lhe correu bem.
Um clube que tornou a cura de todos os males na pior doença (a crónica do Sporting-Rio Ave)
A noite em Alvalade trouxe outros registos históricos mas que não sairão da fotografia (apesar de ter havido outra imagem que fica: o momento em que Jovane Cabral ia entrar com a camisola de Plata): nunca os leões tinham sofrido três derrotas seguidas em casa nem nunca tinham ganho apenas um dos primeiros quatro encontros como visitados. Mas esta foi mais do que uma noite de pesadelo, como já tinha sido a de segunda-feira após o encontro com o Famalicão ou aquela onde o Rio Ave ganhara como visitante ao conjunto verde e branco para o Campeonato; esta foi a noite em que as mensagens das bancadas foram mais visíveis, a contestação a Frederico Varandas foi mais sentida e em que duas das quatro claques do clube chegaram mesmo a vias de facto… durante o jogo.
[Veja o vídeo dos confrontos no Estádio de Alvalade]
Logo no início da partida, várias tarjas começaram a ser levantadas no topo sul de Alvalade, mais despido do que é normal (como se tornou normal nos encontros da Taça da Liga): enquanto a Juventude Leonina escreveu “A culpa é vossa… estrutura”, o Directivo Ultras XXI deixou apenas as palavras “Estamos preocupados” e a Torcida Verde seguiu outro caminho e, recordando uma entrevista recente de Aurélio Pereira, “Senhor Formação” dos verde e brancos (“Hoje em dia há miúdos de sete anos com empresários”), fez a questão “Quo Vadis futebol?”. Isto sem que se percebesse se as mesmas lonas tinham sido levadas para o interior do recinto com a devida autorização dos assistentes de recinto ou se já tinham sido deixadas antes por quem coloca as faixas de cada claque.
Nos minutos iniciais, voltaram a ouvir-se os cânticos contra o presidente do clube, Frederico Varandas, vindas mais uma vez do topo sul mas desta feita a merecerem assobios por parte de muitos outros adeptos espalhados pelos outros setores. Mais tarde, seria diferente; pelo meio, registaram-se confrontos entre elementos das claques. De acordo com informações recolhidas pelo Observador, tudo terá começado com algumas “bocas” que alimentaram um certo clima de tensão que se ia sentindo entre adeptos abertamente críticos dos atuais dirigentes e outros que defendem que a solução não parte por seguir de novo para eleições. Para quem estava no interior do estádio, percebeu-se apenas uma confusão, adensada pela presença de forças policiais, mas nos corredores houve cenas de violência que obrigaram a uma intervenção mais célere feita inicialmente pelos spotters.
E este não foi o único foco com ânimos exaltados da noite: num vídeo que começou a circular meia hora depois do final do encontro, houve também agressões num outro setor de Alvalade, na parte de cima do anel inferior onde as próprias cadeiras são diferentes, que envolveram várias pessoas ao longo da confusão mesmo estando pelo menos uma criança perto do local onde tudo estava a acontecer até à chegada dos stewards.
No final do jogo, mais do mesmo: lenços brancos (em alguns casos lençóis e casacos também serviam), vaias após mais uma derrota e a contestação a subir de tom nem tanto em direção dos jogadores – apesar dos assobios quando Bruno Fernandes comandou os restantes elementos no agradecimento aos adeptos presentes – mas mais tendo de novo como alvo Frederico Varandas, que assistiu ao encontro na tribuna presidencial com outros dirigentes dos três órgãos sociais, neste caso com uma subida de tom na contestação que deixou de estar circunscrita ao topo sul (que quase esvaziou os confrontos entre claques) e passou também para franjas da bancada central e da poente… as mesmas que, tendencialmente, tinham assobiado os cânticos nos primeiros minutos contra o líder.
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Acrescente-se que, depois de algumas notícias que vieram a público sobre um alegado incómodo de Frederico Varandas por ter sido confrontado por elementos dos órgãos sociais na tribuna após a derrota com o Famalicão, colocando em causa as escolhas no mercado, a política de contratação de treinadores e a estrutura do futebol, têm aumentado também as dúvidas (em alguns casos mais do que isso) em relação à possibilidade de sucesso do projeto desportivo do atual elenco, algo que não tem passado ao lado do clube em termos internos.