“Queria sugerir-vos uma metáfora. Chamei-lhe a metáfora do lápis de Centeno. Surgiu-me durante a campanha, a olhar mesmo para a própria campanha do PS”. A introdução prometia. A sala do Incrível Almadense, onde o Bloco de Esquerda fez o seu comício esta quinta-feira, fez silêncio. “Não sei como é nos outros sítios mas aqui, em Almada, o PS costuma ter brindes de campanha, que os militantes oferecem à população. Parece que desta vez a promessa era a de que teriam um lápis para distribuir”. O silêncio mantinha-se, Joana Mortágua prosseguia a intervenção: “Ora, os militantes do PS estavam entusiasmados porque iam ter um lápis para distribuir à população até que veio Mário Centeno e… zás! Cativou metade do lápis“. A cabeça-de-lista do BE pelo distrito de Setúbal erguia com a mão direita um lápis, tirado diretamente do bolso, com metade do tamanho habitual, e com o logótipo do PS.

O objetivo era mostrar que as famosas cativações do ministério de Mário Centeno chegaram até aos brindes de campanha do PS. “É uma metáfora que pode aplicar-se à proposta do PS sobre a Habitação, mas ela aplica-se à promessa sobre o investimento público ou sobre o aumento dos funcionários públicos. Quando vamos ver as contas, falta sempre um bocado do lápis”, acusou Joana Mortágua, que estava empenhada em atacar diretamente o PS, dando assim forma à estratégia do BE para esta campanha.

O lápis que Joana Mortágua mostrou no palco para ilustrar a “metáfora do lápis de Centeno”

O discurso da deputada bloquista, que jogava em casa, estava repleto de ataques ao PS e alguns ao PSD. “É embaraçoso ver dois homens candidatos a primeiro-ministro a discutir quem é que tem o melhor Centeno. Os dois maiores partidos andam à bulha para quê? Para reivindicar mais saúde, mais educação? Não, para reivindicar meio lápis”.

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Na conclusão do discurso, Joana Mortágua voltou à metáfora inicial para fazer um apelo ao voto no Bloco de Esquerda como modo de evitar uma maioria absoluta do PS: “A esperança, ao contrário do lápis, não se constrói pela metade. Aqui estamos para renovar o mandato com as pessoas. Não queremos ficar a meio do caminho”,

Catarina Martins usa IVA da eletricidade para pedir que se “façam escolhas”

Coube à líder do BE encerrar um comício que, por tradição, costuma ser sempre um dos principais momentos das campanhas bloquistas. Foi precisamente esse capital que Catarina Martins reivindicou para fazer um balanço desta legislatura. “Há quatro anos, aqui, apelávamos a todas as pessoas que não se resignam. Quem fez estes quatro anos foi toda a gente que não se resignou ao mal menor”. E acrescentou: “Orgulhamo-nos destes quatro anos. Quando derrotámos a direita não foi só retirar o PSD e o CDS do Governo: derrotámos o programa da direita“. Os votos de renovação estavam feitos, podia vir a parte da crítica: “Tenhamos a coragem de fazer este caminho de uma forma ainda mais decidida”.

O tema escolhido pela líder do BE para se diferenciar dos socialistas foi a energia. Em particular, o IVA da eletricidade. “Nos impostos também se faz justiça e se escolhem lados. O BE quer baixar os impostos que mais dizem a toda a gente deste país: baixar o IVA da energia, baixar o IVA da luz”, explicou. Uma medida que os bloquistas reivindicam desde o início da legislatura passada mas que não chegou a ser alvo de acordo entre a “geringonça”.

O objetivo do partido é colocar o IVA nos 6% por considerar que se trata de um bem essencial. Desde a intervenção da troika que este imposto se situa nos 23%. Algo que não mudou nos últimos quatro anos, mas que o BE quer alterar já na próxima legislatura. “Tenho ouvido muitas vezes a direita dizer que quer baixar impostos. Este sim é um imposto que temos de baixar, porque o IVA de 23% na fatura da energia é para toda a gente“, justificou Catarina Martins.

Com esta medida, o Bloco de Esquerda acredita que pode poupar, em média, cerca “de 10 euros por mês em cada fatura de eletricidade.

Antes, o fundador do partido Fernando Rosas voltou a discursar na campanha, tal como já fizera na terça-feira em Torres Novas. Disse estar orgulhoso da “geringonça” para apelar ao não voto no PS de forma a garantir que no domingo 6 de outubro não haverá uma maioria absoluta dos socialistas. Foi também Fernando Rosas quem, já no fim do comício, pediu para interromperem a música que acompanhava a saída dos apoiantes na sala. “Como estamos em Almada [cidade fortemente marcada pela esquerda], acho que devíamos terminar a cantar a Internacional”. E assim, de punho no ar, na Incrível Almadense, os apoiantes bloquistas encerraram o comício que, mais uma vez, voltou a cumprir a tradição.