A exposição “A igreja de Santa Engrácia”, que é inaugurada na próxima quinta-feira, no Panteão Nacional, em Lisboa, recupera a narrativa histórica deste território na zona oriental de Lisboa, e inclui peças raramente mostradas ao público.
A mostra “apresenta a evolução urbanística daquela zona da capital, conforme o templo religioso foi sendo construído, dando origem ao atual Panteão Nacional”, explicou à Lusa a coordenadora da exposição, Clara Moura Soares.
A igreja dedicada ao culto de Santa Engrácia foi uma iniciativa da infanta D. Maria, filha de D. Manuel I, e está na origem do desenvolvimento desta zona lisboeta e a criação da respetiva freguesia, que celebra 450 anos.
“Na mostra traçamos a evolução urbanística da zona, que acontece conforme a igreja vai evoluindo, até ao século XX”, disse.
Além dos palacetes, a coordenadora destacou a construção do Mercado de Santa Clara, “um magnífico exemplar da arquitetura de ferro, de autoria de Emiliano Bettencourt”, inaugurado em 1877.
Na exposição “A Igreja de Santa Engrácia no Campo de Santa Clara: os tempos do lugar” estarão patentes diferentes peças, nomeadamente fotografias de Joshua Benoliel, Eduardo Portugal e Leitão de Barros, assim como um relicário que a infanta mandou fazer para guardar uma relíquia da santa, da qual era devota.
Muitas das peças que constam da exposição, mesmo as provenientes das coleções nacionais como do Museu de Aveiro ou da igreja de S. Vicente de Fora, são raramente expostas ao público”, sublinhou a coordenadora à Lusa.
O relicário de Santa Engrácia encontra-se na igreja de N.S. da Igreja de Porciúncula, junto ao Convento dos Barbadinhos, atual paroquial de Santa Engrácia, a cerca de um quilómetro do Panteão.
“O retrato que se exibe da santa no relicário é, curiosamente, muito parecido com os retratos que se conhecem da infanta”, referiu Clara Moura Soares.
Uma pintura e uma salva em prata são da coleção dos marqueses do Lavradio, que tiveram um palácio neste local.
Há ainda outras peças que aludem à “fortíssima presença militar no atual campo de Santa Clara”, onde, desde 1882, se realiza a Feira da Ladra.
A exposição conta “a história dos importantes edifícios e instituições que aqui se instalaram e dá a compreender as suas transformações ao longo dos séculos”.
A responsável realçou que o atual Panteão, inaugurado em 1966, não é um templo religioso. Mas “a imagem da igreja é tão forte que se continua a associar o monumento para enaltecer os grandes da Pátria, como igreja de santa Engrácia”.
Na realidade, a igreja funcionou no século XVI, quando a infanta ali instalou a sua residência, e durante o século XVII. No seguinte, iniciou-se a construção do atual monumento, abordado na exposição com a exibição das diferentes rochas nobres que o constituem, designadamente a brecha, da Arrábida, a azul de Sintra ou a ruivina do Alentejo.
O Panteão “é a última versão dos vários templos que, desde o século XVI, se erigiram naquele lugar sob a invocação da santa mártir”, que morreu no ano de 302, em Saragoça, em Espanha, por ordem de Daciano.
A exposição é inaugurada na quinta-feira, quando passam 442 anos da morte da infanta D. Maria, que está ligada a um outro templo lisboeta, o Santuário de N.S. da Luz, na freguesia de Carnide, e estará patente até 1 de março de 2020, em diferentes espaços do Panteão, como o coro alto e a sala de exposições temporárias.