[Texto atualizado às 19h16 com declarações do bastonário da Ordem dos Médicos]
O bastonário da Ordem dos Médicos pediu “um esclarecimento cabal” e uma “ação rápida, eficaz e justa” sobre o caso do bebé que nasceu sem rosto, em Setúbal. O Ministério Público também abriu um inquérito ao médico que acompanhou a gravidez.
Perante a gravidade dos factos relatados, informo que já interpelei o presidente [do Conselho Disciplinar do Sul], pedindo um esclarecimento cabal perante os vários processos que tem em análise”, lê-se num comunicado enviado às redações.
O bastonário Miguel Guimarães deixou ainda uma “palavra de solidariedade à família que está neste momento a atravessar um momento muito difícil”.
Reitero o forte apelo que já tenho feito noutros momentos ao Conselho Disciplinar do Sul, no sentido de podermos contar com uma ação rápida, eficaz e justa nos casos analisados, que dignifique a profissão médica e que proteja os doentes”, disse ainda.
O obstetra que não detetou malformações graves no bebé já tinha quatro processos em curso no conselho disciplinar da Ordem dos Médicos. A informação foi dada à agência Lusa por fonte oficial da Ordem na sequência de uma notícia do jornal Correio da Manhã, que conta que no dia 7 de outubro nasceu no Hospital de São Bernardo um bebé sem olhos, nariz e parte do crânio, depois de a mãe ter realizado ecografias com um obstetra que a seguia numa clínica privada em Setúbal. Segundo a Ordem, o médico em causa tem quatro processos em instrução no conselho disciplinar sul da Ordem.
De acordo com o Correio da Manhã, os pais do bebé fizeram três ecografias com o médico em causa, sem que lhes tivesse sido reportada qualquer malformação. Só num exame feito noutra clínica, uma ecografia 5D, os pais foram avisados para a possibilidade de haver malformações. Questionaram o médico que os seguia, que lhes garantiu que estava tudo bem, conta o jornal, citando a madrinha do bebé.
O bebé, chamado Rodrigo, completa hoje 10 dias, apesar de o prognóstico inicial lhe dar apenas algumas horas de vida. As complicações só foram detetadas depois do parto e os pais apresentaram queixa ao Ministério Público contra o médico. Entretanto, o Correio da Manhã relata que o Hospital de São Bernardo — que já informou em nota de imprensa que “o acompanhamento da gravidez desta utente não foi efetuado no Centro Hospitalar de Setúbal nem os meios complementares de diagnóstico e terapêutica foram ali realizados”—, abriu um inquérito para averiguar este caso.
“Apenas o parto da utente decorreu no CHS, tendo sido no momento detetada a situação”, acrescentou o CHS em comunicado de imprensa, salientando que, desde o nascimento, “a criança e a família têm sido acompanhadas no Serviço de Pediatria com o apoio da Equipa Intra-Hospitalar de Suporte em Cuidados Paliativos Pediátricos do Centro Hospitalar de Setúbal”.
Segundo outras fontes hospitalares, o obstetra Artur Carvalho, que alegadamente não detetou malformações graves no bebé, trabalha no Centro Hospitalar de Setúbal, mas também exerce numa clínica privada muito próxima do hospital e fez o acompanhamento da gravidez a título particular.
O médico em causa, Artur Carvalho, trabalha no Hospital São Bernardo, em Setúbal, e numa clínica privada que fica junto à unidade hospitalar.
Segundo o Correio da Manhã, o Ministério Público já tinha investigado o médico, num processo de 2011, num caso de contornos semelhantes de malformações, que acabou arquivado.