Edifícios incendiados, confrontos com a polícia e tumultos marcaram a noite de segunda-feira na Bolívia, após a divulgação dos resultados eleitorais provisórios da primeira volta das presidenciais.

Em Sucre, capital constitucional, uma multidão incendiou o tribunal eleitoral local, enquanto confrontos com a polícia ocorriam em La Paz e Potosi, enquanto a sala de campanha do partido no poder foi saqueada em Oruro, relataram os jornais La Razon e Los Tiempos, bem como a agência de notícias France-Presse.

O principal adversário do atual Presidente boliviano, Evo Morales, classificou o escrutínio como uma “fraude” e anunciou que não reconhece os últimos resultados provisórios das eleições na Bolívia que dão ao chefe de Estado como vencedor da primeira volta.

Não vamos reconhecer esses resultados, que fazem parte de uma fraude vergonhosa que está colocando a sociedade boliviana em uma situação de tensão desnecessária”, disse Carlos Mesa aos jornalistas em Santa Cruz.

Observadores da Organização dos Estados Americanos (OEA), presentes na Bolívia nas eleições presidenciais de domingo, expressaram também na segunda-feira a sua “preocupação” e “surpresa” face à inexplicável reviravolta no resultado que praticamente dá a vitória a Evo Morales.

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A missão da OEA manifesta sua profunda inquietude e surpresa face à mudança radical e difícil de justificar, no que respeita à tendência dos resultados preliminares após o encerramento da votação” no domingo à noite, que abriam caminho para uma segunda volta nas eleições presidenciais entre Morales e o seu principal adversário Carlos Mesa, pode ler-se num comunicado.

De acordo com o tribunal eleitoral, o atual chefe de Estado boliviano, Evo Morales, que tenta assegurar um quarto mandato, está prestes a vencer a primeira volta das eleições. O tribunal eleitoral retomou na segunda-feira à noite a contagem de votos, abandonada desde domingo à noite, numa reviravolta inexplicável.

Segunda-feira, às 21h00 (2h00 de terça-feira em Lisboa), a página do Supremo Tribunal Eleitoral Boliviano colocou Evo Morales na liderança, com 46,87% dos votos, ampliando a diferença para o seu principal opositor, Carlos Mesa (36,73%), quando estão contados 95,3% dos boletins de voto.

A diferença de 10,14 pontos percentuais pode ser crucial nestas eleições. Para vencer na primeira volta, o candidato a líder deve obter uma maioria absoluta ou pelo menos 40% dos votos, desde que garanta uma vantagem de 10 pontos percentuais sobre o segundo mais votado.

Após o final da votação no domingo, a divulgação dos resultados parciais no site do tribunal eleitoral foi inexplicavelmente interrompida, com os dados iniciais a apontarem para uma votação renhida entre Morales e Mesa, ambos com 42% dos votos.

A presidente da instituição, Maria Eugenia Choque, havia acabado de anunciar que o chefe do Estado socialista liderava, com 45,28% dos votos, seguido pelo centrista Carlos Mesa, com 38,16%, com base em quase 84% do escrutínio realizado, abrindo caminho para uma segunda volta, algo inédito na Bolívia.

As autoridades eleitorais explicaram que tinham abandonado a contagem computadorizada, levantando receios de fraude por parte da oposição e da comunidade internacional.

Dois sistemas de contagem coexistem na Bolívia. Por um lado, o “TREP”, para a transmissão dos resultados preliminares das eleições, através dos quais as atas são fotografadas e enviadas ao tribunal eleitoral através de uma aplicação que permite a publicação de resultados parciais a partir da noite da votação.

Por outro lado, a “contagem oficial”: as atas são remetidas pelas assembleias de voto aos tribunais eleitorais da jurisdição que procedem ao escrutínio final.