Mesmo com “irregularidades e ilegalidades” à luz do novo código das mutualistas, cerca de três dezenas de associados do Montepio receiam que a próxima assembleia-geral da mutualista seja palco de nada mais do que uma “aprovação à bruta” dos novos estatutos produzidos por uma comissão designada por Tomás Correia sem que tenha havido, acusam, “um debate alargado e profundo sobre o modelo de governo“.

As cerca de três dezenas de mutualistas reuniram-se numa sessão aberta promovida, num hotel em Lisboa, por Carlos Areal e Viriato Monteiro Silva (membros do Conselho de Geral da mutualista), Fernando Ribeiro Mendes (candidato da lista B às últimas eleições), além de outros como António Godinho (ex-funcionário do Montepio, que foi o candidato da lista C às últimas eleições), Manuel Ferreira, Pedro Corte Real e o advogado Nuno Cunha Rolo.

Apesar de estarem presentes pessoas ligadas às duas listas às últimas eleições (que, recorde-se, quando somados os seus resultados até tiveram mais votos do que a lista A de Tomás Correia), os promotores do evento esforçaram-se por sublinhar que esta não era uma iniciativa eleitoral mas, sim, um esforço ligado ao processo de definição dos novos estatutos, que consideraram de uma importância vital para o futuro da associação mutualista, “nesta fase de crise de confiança agravada” na organização.

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A expectativa, porém, é que só com uma grande mobilização de associados é que será possível sair da próxima assembleia-geral, marcada para dia 4 de novembro, com outra coisa que não uma “aprovação à bruta” dos novos estatutos, considerou Carlos Areal, membro do conselho geral e antigo coordenador da comissão de trabalhadores do Montepio. Isto porque, receia Carlos Areal, virão as “habituais brigadas motorizadas” para votar favoravelmente os novos estatutos, basicamente pessoas ligadas à associação mutualista que normalmente votam nas AG não em consciência, mas sob pressão de “represálias” por parte da cúpula da mutualista, avisou outro dos organizadores, Fernando Ribeiro Mendes.

Ribeiro Mendes comentou que essas “brigadas motorizadas” são um exemplo dos “mecanismos ” que é preciso interromper e que esta proposta de estatutos — “que contém um certo desespero” — tenta perpetuar. Ribeiro Mendes diz que além da mobilização dos mutualistas para a assembleia-geral é essencial apontar à tutela, que está “atenta”, exatamente “onde é que nesta proposta de estatutos há problemas”. “Podemos ter um papel importantíssimo“, atirou.

Na sala estava, também, António Godinho, que sublinhou que esta iniciativa não era de oposição a Tomás Correia — que na semana passada anunciou intenção de sair da presidência da mutualista a 15 de dezembro. A ideia, garantiu, é promover a união entre os mutualistas num momento decisivo para a mutualista em que participam cerca de 600 mil portugueses. “Não podemos admitir não fazer nada“, atirou António Godinho, secundado por Carlos Areal, que referiu os “autênticos atropelos” à igualdade entre os associados.

Os organizadores da iniciativa lamentam que não tenha havido por parte da comissão de revisão dos estatutos, eleita na assembleia-geral de março, uma abertura para fazer um debate alargado, pedindo contributos a todos para que os estatutos fossem os mais equilibrados possível. Assim, o resultado foi um conjunto de propostas que, por exemplo, irão limitar a democraticidade dos processos de formação e do funcionamento do novo órgão estatutário a eleger, a Assembleia de Representantes, que poderá acabar por ser composta sem a representação das várias “sensibilidades” que existem na mutualista, como acontece hoje com o Conselho Geral, que deverá ser extinto.

No topo das preocupações está, também, que se preveja a continuidade dos mandatos do atual conselho de administração, conselho fiscal e mesa da assembleia-geral, que se manterão até ao final do mandato em curso, 2021, se a proposta de estatutos se mantiver intacta e for, de facto, “aprovada à bruta” na sessão que será presidida pelo Padre Vítor Melícias, presidente da mesa, no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, a partir das 21h desta segunda-feira 4 de novembro.