É com amor que fala das oliveiras pelas quais se apaixonou há 16 anos, quando andava à procura de um novo sítio para viver. Cláudia Villax queria dar aos três filhos a ligação genuína à natureza, à terra, e aos mistérios que encerra, no virar das estações e nos minutos lentos dos crepúsculos. Perseguir esse sonho fê-la afastar-se cada vez mais da capital, procurar outros mundos, desfrutar de outras luzes, cores e sabores, e quando deu, por si, estava em Marvão, numa das zonas mais bonitas do Alto Alentejo, que guarda preciosos resquícios de tempo e humanidade. “Era uma zona de Portugal que eu ainda não conhecia e fui lá parar por puro acaso, tinha de ser, é daquelas coisas que não se explicam”, conta Cláudia, cujo timbre de voz parece guardar algo de campestre.
O coração ainda lhe recorda os verões de infância passados no Douro e algo a uniu à terra da quinta Azeitona Verde, situada algures em pleno Parque Natural da Serra de São Mamede. As anfitriãs eram oliveiras raras e muito antigas que pareciam dar as boas vindas à família lisboeta. “Foi pelas oliveiras que decidimos ficar com aquele bocadinho de terra, o terreno estava abandonado, e quando lá chegámos as árvores pareciam saídas de um conto, porque tinham para aí 8 metros de altura, davam um ar mágico ao lugar”, recorda. Não pensou duas vezes em ficar com a quinta e é lá que pretende radicar-se um dia. “Os meus filhos ali cresceram, lembro-me de ter aqueles berços desmontáveis, púnhamos cá fora e adormeciam à sombra das oliveiras”, conta a ex-jornalista de economia e lazer, mulher de muitos ofícios, gestora e autora, mas também agricultora de mão e coração verdes.
Numa total simbiose com a identidade do local, tirou vários cursos de agricultura, e bebeu da sabedoria local, escolheu o caminho da produção biológica, da arte de viver e cozinhar de forma sustentável – são seus os livros “Da Horta para a Mesa”, “Brunch”, “A Vida Virgem Extra” – e hoje, a Quinta da Azeitona Verde produz azeite, mantendo a tradição de um respeito total pelo ambiente, pelas pessoas e pelos animais. E a ideia é passar a mensagem, fazê-la tocar, quem sabe, outros corações e outras mãos que se queiram sujar de terra e ajudar a proteger não só as oliveiras, mas o planeta, de uma forma geral, e aumentar a consciência pública sobre um estilo de vida saudável, sazonal e sustentável.
As testemunhas da história
Dedicada de alma e coração ao seu olival milenar, Cláudia Villax propõe partilhar a sua paixão por estas árvores com quem as queira conhecer mais a fundo, a sua história e identidade. Não só porque fazem parte da sua vida, mas essencialmente porque é preciso lançar o alerta de que as oliveiras merecem ser preservadas em Portugal. Sob o mote “Adote uma oliveira”, a fundadora da Azeitona Verde, pretende alertar para o flagelo que está a devastar o património oleícola em Portugal, onde os olivais tradicionais e ancestrais, tal como os que preserva na sua quinta, estão a ser arrancados para dar lugar a outros de cultura intensiva com maior rendimento e produção. “Aqui há uns anos, houve um conjunto de diretivas da União Europeia em que se pagava para arrancar olivais para se produzir de forma intensiva, aconteceu aqui perto, e por isso esta ideia de salvaguardar as nossas”, ressalva. A ideia é defender e partilhar com as pessoas a beleza, a história, e o contributo essencial desta espécie tão importante para o património natural português. “São árvores que testemunharam capítulos de história, imaginamos lá pelo que passaram, são seres de uma resiliência extrema”.
São à volta de 600 as que esperam um “dono”, digamos assim, e no site Azeitona Verde é só escolher a sua e seguir os passos. Há a Oliveira Fernão de Magalhães, a Oliveira Inês de Castro ou a Abraham Lincoln, a Carlos Magno, ou a Catarina, a Grande. Cada uma com a sua personalidade e origem. Se preferir, pode também personalizar a sua árvore como celebração de um momento, um país, ou um lugar especial. “Há pessoas que personalizam a oliveira com o nome do país onde passaram a lua-de-mel, por exemplo, onde foram felizes”, revela Cláudia. Entre portugueses, também se contam ingleses, americanos e alemães. “Esta campanha já chegou a muitas partes do mundo”, diz quem sente um orgulho grande em preservar a integridade destes seres, até porque parte do dinheiro angariado com as adoções das oliveiras, reverte para o desenvolvimento de iniciativas sociais na comunidade local e ações nacionais para resguardar os olivais antigos. Motivos mais do que suficientes para ganhar o apoio da Slow Food International e uma menção honrosa do ICNF (Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas).
Ao adotar uma oliveira – fica a sugestão de prenda para este Natal – terá um certificado de adoção da sua árvore, um BI da oliveira, um azeite biológico virgem extra Azeitona Verde, e um livro “A Vida Virgem Extra”, entre outras ofertas. Quem sabe, não se afeiçoa à sua oliveira e a um estilo de vida mais feliz e saudável?