Os investigadores do Instituto Superior do Porto (ISEP) que lideram o projeto ‘REWATER’ concluíram que as Estações de Tratamento de Água Residuais (ETAR) “não estão preparadas para remover poluentes emergentes como os fármacos”, revelou esta quarta-feira a responsável.
Em declarações à Lusa, Cristina Delerue-Matos, líder do Grupo de Reação e Análises Químicas do ISEP, explicou que o projeto europeu, intitulado “REWATER – Gestão Sustentável e segura da água na agricultura”, visa “garantir” a qualidade da água tratada nas ETAR, de modo, a que esta seja reutilizada de forma “segura” na agricultura.
O projeto, que é financiado em 500 mil euros, junta, além do ISEP, oito instituições científicas e duas estações de tratamento, sendo que uma é em Portugal (em Leiria) e outra na Roménia.
Através de metodologias analíticas, como a cromatografia, os investigadores começaram por pesquisar a presença de fármacos anti-inflamatórios, como o ibuprofeno e o paracetamol, nas amostras das águas tratadas, tendo mais tarde incluído nas suas pesquisas os psicofármacos.
“A quantidade que detetamos no ambiente é muito pequenina [nanogramas e microgramas por litro], mas há materiais que vão acumulando estes poluentes emergentes, como as macroalgas, que têm muita facilidade em acumular“, frisou Cristina Delerue-Matos, adiantando que a “maioria das estações de tratamento não estão preparadas para os remover” das suas águas.
“Na verdade, as ETARs não estão em nenhum incumprimento porque a legislação não manda fazer a monitorização dos fármacos”, referiu.
À Lusa, a investigadora adiantou que apesar dos responsáveis das estações de tratamento estarem “disponíveis” para implementar uma metodologia que elimine os fármacos, tal implicaria o aumento do preço da água tratada, algo que os consumidores podem não estar “dispostos a pagar”.
Segundo Cristina Delerue-Matos, já foram testadas várias soluções, algumas até “economicamente viáveis”, mas, apesar destas serem “eficientes” na eliminação dos fármacos, “aumentam a toxicidade”, o que do ponto de vista ambiental é “pior”.
“As nanotecnologias que experimentamos eram mesmo eficientes, mas a toxicidade da nanopartícula era muito grande”, salientou, adiantando que são vários os grupos de investigadores que continuam à procura de uma “solução”.
“A questão é que temos de verificar, inicialmente, a eficiência em eliminar estes poluentes” e depois, os resultados do ponto de vista ecotoxicológico, os custos associados e os impactos ambientais”, concluiu.
Os trabalhos do projeto ‘REWATER’ vão prolongar-se até março do próximo ano, sendo que os investigadores vão continuar, através da aplicação de ferramentas desenvolvidas, reduzir substancialmente ou “eliminar” a entrada de poluentes emergentes no meio hídrico, possibilitando o seu aproveitamento.