“A rapariguinha do shopping
Bem vestida e petulante
Desce pela escada rolante
Com uma revista de bordados
Com um olhar rutilante
E os sovacos perfumados”

Assim começa o tema “Rapariguinha do Shopping”, cantado por Rui Veloso, no álbum “Ar de Rock”, em 1980, e escrito por Carlos Tê. A música foi inspirada no Centro Comercial Brasília, inaugurado em 1976 na zona da Boavista, no Porto, sendo o shopping mais antigo da Península Ibérica e o primeiro na cidade a ter escadas rolantes.

A novidade tornou-se um fenómeno na época, fazendo com que edifício que une a Avenida da Boavista, a Praça Mouzinho de Albuquerque e a Rua de Júlio Dinis fosse bastante concorrido. Construído em três fases, o Brasília é composto por oito pisos, quatro dedicados à área comercial, dois são parque de estacionamento e os restantes destinados a escritórios.

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O centro comercial já integrou um bingo, um cinema, uma discoteca, um ginásio e galerias de arte, mas durante as últimas décadas tem perdido fôlego, tornando-se semi abandonado, apesar de nunca ter fechado completamente as portas.

“O Brasília funciona como um condomínio, tem neste momento 200 proprietários, a maioria particulares, e em meados do ano passado foi deliberado em assembleia uma série de mudanças”, conta em entrevista ao Observador Frederico Pacheco, responsável pelo marketing do centro.

Com cerca de 250 lojas disponíveis, das quais 75 estão neste momento devolutas, o espaço pretende ser uma continuação do comércio de rua no Porto”. Para isso vai apostar em operações de requalificação, investindo 500 mil euros, e apostar “num comércio exclusivo, alternativo e não massificado”.

Um concurso de ideias “para envolver o público mais jovem”

O primeiro passo desta mudança foi a alteração da imagem do logótipo, que manteve as cores originais – vermelho, verde e amarelo – e inspirou-se na forma de um coração. O nome reduziu para apenas Brasília, eliminando o conceito de “shopping center” e apostando numa “galeria comercial”.

Para requalificar os espaços comuns, “onde as pessoas possam estar no computador ou simplesmente ler um livro”, a administração lançou o concurso “A Tua Ideia Faz Parte” dirigido à Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto (FAUP) e à Escola Superior de Artes e Design (ESAD), em Matosinhos.

“O objetivo é que estas remodelações abranjam infraestruturas como as escadas rolantes, os pavimentos, a iluminação, a sinalética ou as clarabóias”, explica Frederico Pacheco ao Observador, acrescentando que haverá uma reorganização das áreas comuns, mais interatividade e melhores acessos.

Os alunos poderão inscrever-se no concurso até dia 25 de novembro e apresentar propostas até janeiro de 2020, sendo depois avaliadas por um júri e atribuído um prémio de 4500 euros à ideia vencedora. Outras das iniciativas da administração “para envolver o público mais jovem” é o Urban Shopping Design. Trata-se de uma parceria com a Escola Superior Artística do Porto (ESAP) e com a Escola Superior de Artes e Design (ESAD) para a realização de intervenções artísticas nas montras das lojas. “Atualmente não há uma coerência ou uniformização das montras, queremos fazê-lo, envolvendo a cidade”, adianta o responsável de marketing. “As obras devem arrancar em meados do próximo ano e prevemos que estejam concluídas em 2021. O centro não fechará enquanto elas decorrerão.”

A zona de escritórios irá manter-se, assim como o parque subterrâneo de estacionamento, mas no projeto de requalificação do Brasília estão ainda pensados a abertura de um rooftop no 7º piso, uma coffee shop, uma gelateria, lojas de especialidade, com vinhos, chocolates ou conservas, espaços de pronto a vestir, calçado e acessórios. “A nossa ideia é captar street food (comida de rua), com produtos biológicos, vegetarianos”, avança Frederico Pacheco, acrescentando que também o Cinema Charlot, que hoje pertence a um banco, poderá ser reaberto no futuro.

Sem adiantar ainda potenciais investidores ou marcas interessada, o responsável revela que “dificilmente haverá uma Zara ou uma Primark” no novo Brasília, tudo por uma questão de logística, uma vez que o centro é “limitado” no que diz respeito às cargas e descargas.