Nascida há cerca de 20 anos, a Casa Relvas já é um produtor de vinhos de referência no Alentejo e negócio de sucesso, com uma produção de seis milhões de garrafas e faturação de 10 milhões de euros.

Mas o projeto, apontado também como exemplo de boas práticas ambientais e de sustentabilidade, é mais do que isso. É parte da família do fundador, Alexandre Relvas.

Com “casa” original na Herdade de São Miguel, concelho de Redondo e, mais tarde, com a aquisição da nova adega e vinhas na Herdade da Pimenta, em São Miguel de Machede, concelho de Évora, o projeto retoma a ligação ao mundo agrícola de gerações anteriores e representa um novo legado familiar.

Dos cinco filhos de Alexandre, os mais velhos, Alexandre Jr. e António, seguiram os passos do pai e trabalham na empresa. O futuro dos “rebentos” mais novos da família, os seus outros filhos e os netos (Alexandre Jr. e António têm dois cada), também poderá passar por aqui.

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“Este projeto nasceu em 1997 e é o início da realização de um sonho que eu tinha porque venho de uma família que ao longo de várias gerações trabalhou o campo”, evoca à agência Lusa Alexandre Relvas, explicando que os filhos seguiram, por opção própria, “esta tradição”, também “herdada” do lado da mãe.

Alexandre Jr., 36 anos, estudou Viticultura e Enologia em Bordéus (França), e António, 30 anos, formado em Gestão, tirou um mestrado em Gestão Internacional em Oxford (Inglaterra).

António, ainda com “todas as imagens na cabeça” do início do projeto, de quando “era pequenino”, admite que “é sempre diferente” trabalhar numa empresa familiar: “Estamos a trabalhar para os nossos filhos, netos, bisnetos. Tentamos construir uma pirâmide com umas bases sólidas para ficar e isso dá-nos ainda mais força”.

Alexandre Jr. também alude às “recordações fantásticas” e à “sensação de liberdade” de crescer na herdade e considera que o “ADN muito propício ao trabalho na terra” já estava presente nos dois. E os seus próprios filhos já têm hoje esse amor ao campo e “um enorme à vontade” com “animais, lama, pó, moscas e insetos e escaravelhos”.

Mas o trabalho também tem “espinhos”, as responsabilidades, das quais Alexandre Jr. está ciente, lembrando que a Casa Relvas já fatura “mais de 10 milhões de euros” por ano e “gere mais de 400 hectares de regadios”, possuindo também olival e vinhas na zona de Vidigueira (Beja) e sobreiros e pinhal em Alcácer do Sal (Setúbal).

“Quando comecei aqui, em 2006, éramos 10, hoje somos mais de 80. É algo de que nos temos que orgulhar”, mas “as coisas têm que correr bem no fim do dia” e “ser o dono da empresa não é fácil”. Quando “temos algum problema, atrás de nós não há mais ninguém”, diz.

Longe vão os primeiros tempos de produção, entre 2003 e 2004, com “30 mil garrafas”. Este ano, esperam “seis milhões de garrafas”, conta o pai. Com os “olhos” postos no mundo, 70% é para exportar, para cerca de 30 países.

Trata-se, pois, de “um produtor de referência no Alentejo” e que, com a entrada dos filhos, ganhou “a capacidade e o espírito de inovar, de ir à procura de novas soluções”.

O mais velho “deu uma enorme ajuda no crescimento, sobretudo em termos comerciais”, e a chegada de António “significou outro grande salto em termos de análise do campo, definição de prioridades, métodos de trabalho” e uso de “novas tecnologias”, elogia.

Para António, o estudo em Inglaterra deu-lhe “mundo” e “abertura e capacidade de pensar um bocadinho diferente”, sem “ficar fechado no Alentejo e em Portugal”. O mais velho alude a outra lição: “Aprendi muito em Bordéus, ao nível de respeito pelo ‘terroir’ e pelas tradições”, mas também que, “em Portugal, temos muito valor”.

E, no Alentejo, “fustigado” pelas secas e ameaçado pelas alterações climáticas, a Casa Relvas há anos que “dá cartas” com medidas ambientais e tem na sustentabilidade um dos “pilares”, diz a família.

“Nos últimos anos, temos tido menos água” do que o “necessário para manter as vinhas e ter boas produções”, conta o fundador. A solução foi inovadora: “Utilizamos a água dos esgotos de São Miguel de Machede, depois de devidamente tratada, para integrar” a barragem da herdade, usando-a para a “rega das vinhas”.

Redução de consumos de água e de energia na adega e instalações e áreas de vinha biológicas e em modo de produção integrada são outras medidas.

O produtor, membro do Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo (PSVA), é “ótimo exemplo” das boas práticas adotadas na região, diz à Lusa João Barroso, gestor desta iniciativa pioneira em Portugal promovida pela Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA).

“Serviu quase como um campeão do projeto para mostrar e provar que se conseguia fazer melhor com menos”, frisa, indicando que o produtor possui caixas no campo que servem de “casa” a morcegos que comem insetos prejudiciais à vinha ou usa ovelhas que, “durante o repouso vegetativo da vinha”, comem as plantas infestantes, sem necessidade de herbicidas.

“É tudo natural”, porque as ovelhas “comem as ervinhas, não tocam na vinha” e ainda “fazem alguma movimentação e fertilização do solo”, elogia o gestor do PSVA.

Atenta às melhorias que podem levar ao crescimento sustentado da empresa, a família Relvas tem recorrido, ao longo dos anos, igualmente a apoios da União Europeia.

“Têm sido uma mais-valia enorme e têm-nos ajudado” na remodelação da adega e na vinha, através do VITIS, um programa “muito importante para a reestruturação” do setor no Alentejo.

É mesmo “um sucesso tão grande que o dinheiro acaba muito depressa”, critica Alexandre Jr., defensor do reforço de verbas do VITIS, para que abranja também “o investimento tecnológico”.

Mas, na Casa Relvas, “não se fazem investimentos porque há subsídio e também não se deixa de fazê-los porque não há”, sublinha. Investe-se com conta, peso e medida, sem pressas, para continuar a erguer e tal pirâmide de bases sólidas, referida por António, e que tem construtores em “fila de espera”.

Alexandre Relvas conta que o seu filho mais novo (tem também duas raparigas), ainda adolescente, diz que quer “ir trabalhar com o mano António no campo”. E o filho mais velho deste, apesar de “pequenino”, acompanha-o e mexe na terra: “Já plantou uma oliveira”.