Carlos Santos Silva, empresário e amigo de longa data do antigo primeiro-ministro José Sócrates, começa esta quarta-feira a ser ouvido na instrução do processo Operação Marquês, onde deverá invocar nulidades e refutar a acusação de 33 crimes económico-financeiros.
Santos Silva é considerado na acusação do Ministério Público (MP) como “testa-de-ferro” de José Sócrates para lavar dinheiro de alegadas “luvas” recebidas pelo antigo primeiro-ministro para facilitar ou encaminhar negócios.
Segundo o MP, Santos Silva alega que a prova obtida na averiguação preventiva no âmbito de processos administrativos é nula por intromissão na sua vida privada, falta de controlo do MP e pela não exportação de toda a prova para a fase de inquérito. A defesa de Santos Silva argumenta que a acusação do MP se muniu de prova ferida de nulidade ou mesmo proibida para acusar o empresário, de 58 anos, e a sua estratégia passa por alegar que a quebra do sigilo bancário, as escutas (migradas do processo Monte-Branco e autorizadas no processo Operação Marquês), a localização celular, o varrimento eletrónico e a recolha de imagem são ilegais.
Após o pedido de instrução de Carlos Santos Silva, o juiz Ivo Rosa decidiu solicitar ao processo Monte Branco a junção aos autos de todas as informações dos órgãos de polícia criminal, as promoções do MP e todas as autorizações judiciais relativas a interseções telefónicas que diretamente se refiram ao empresário, o interrogatório dos inspetores tributários Luís Flora e Paulo Silva e o relatório da inspeção aos serviços do Departamento Central de Investigação e Ação penal (DCIAP), realizado entre setembro de 2013 e março de 2014.
Quarta-feira, o empresário começa a sua defesa contra a acusação de corrupção passiva e ativa (três crimes), branqueamento de capitais (17 crimes), falsificação de documentos (10), fraude fiscal e fraude fiscal qualificada (3). Carlos Santos silva tinha uma empresa de projetos e “prestava serviços e vendia serviços, vendia conhecimentos” ao grupo de construção civil Lena, nas palavras do antigo administrador do grupo, Carlos Barroca.
Para o MP, o Grupo Lena obteve benefícios comerciais graças à atuação de José Sócrates enquanto primeiro-ministro e Carlos Santos Silva “interveio como seu intermediário em todos os contactos com o referido grupo”. O empresário disponibilizou “sociedades por si detidas” para receber quantias destinadas a Sócrates. Durante o seu interrogatório na fase de instrução, em outubro passado, o ex-primeiro-ministro tentou desmontar a tese do MP que sustenta que o dinheiro que foi entregue a Sócrates por Carlos Santos Silva era do ex-secretário-geral do PS e que resultou de atos de corrupção cometidos enquanto primeiro-ministro.
Sócrates disse ao juiz que Carlos Santos Silva era “honestíssimo” e que o amigo lhe emprestou dinheiro e que já lhe devolveu 250 mil euros. A Operação Marquês teve início em 19 de julho de 2013 e culminou na acusação a 28 arguidos — 19 pessoas e nove empresas — pela prática de quase duas centenas de ilícitos económico-financeiros.
A acusação sustenta que Sócrates recebeu cerca de 34 milhões de euros, entre 2006 e 2015, a troco de favorecimentos a interesses do ex-banqueiro Ricardo Salgado no Grupo Espírito Santo e na PT, garantir a concessão de financiamento da Caixa Geral de Depósitos ao empreendimento Vale do Lobo, no Algarve, e por favorecer negócios do Grupo Lena.
Sócrates: “O dinheiro que a minha mãe me dava vinha do cofre”