Não é fácil decidir se foi apenas um erro ou um descuido, ou se a Porsche pretendia mesmo ser apanhada a analisar a concorrência, neste caso específico, a Tesla. A marca alemã já anunciou pretender produzir várias versões do Taycan (4, 4S, Turbo e Turbo S), o seu primeiro veículo eléctrico a bateria, apesar de a produção estar consideravelmente atrasada, no mínimo cerca de seis meses. Mais um campo em que os alemães copiaram a Tesla no lançamento do Model 3…
Durante o desenvolvimento do Taycan, foram várias as vezes em que os técnicos alemães foram apanhados a testar o Porsche Taycan em companhia dos Tesla Model S e Model X, em diversos locais. Certamente para avaliar as diferenças em autonomia, consumo e performance. Então, o construtor alemão do Grupo VW apressou-se a garantir que o carros da Tesla não são o seu target, o que se compreende, uma vez que os eléctricos americanos prometem cerca de 600 km de autonomia, enquanto o Taycan se fica por pouco mais de 400 km.
Agora a tentativa da Porsche comparar o seu Taycan com os carros da Tesla volta à ordem do dia, depois de engenheiros da marca alemã terem alugado o Model 3 que o americano Jesen Gadley tem disponível através da rede Turo, a partir de Las Vegas, segundo a Electrek. Um belo dia, um cliente alugou o seu Tesla, mas rapidamente colocou um conjunto de exigências que quase levaram Gadley a cancelar o contrato. Acima de tudo, o curioso cliente queria usar o sistema Smart Summon, aquele que passou a estar disponível com a mais recente versão de software da Tesla, a denominada V10, que permite carregar na app da marca instalada no smartphone e fazer com que o modelo saia do local onde está estacionado e venha ter com o condutor. Uma solução muito útil nos imensos parkings de Las Vegas.
Como isto implicava que o americano cedesse o seu telemóvel ao cliente, ou lhe cedesse os dados do Tesla para que ele pudesse instalar a aplicação e usufruísse do Summon através do seu próprio smartphone, a ideia não entusiasmou Gadley, que ainda assim avançou com uma solução alternativa: deslocar-se-ia ao parque de estacionamento escolhido pelo cliente e aí cederia o seu telemóvel para que pudesse proceder ao teste.
Se até aqui a história já parecia algo estranha, a situação piorou quando Jesen Gadley viu que o cliente, afinal, era um conjunto de alemães, que utilizaram um Porsche Taycan para se deslocar ao parque, juntamente com o Tesla que lhe alugaram. Como o Taycan não estava ainda à venda e o habitáculo estava repleto de cabos e instrumentos de medição, não era necessário ser um génio para perceber que alemães eram aqueles e quais os seus objectivos, até porque eles fizeram questão de garantir que o software instalado no Model 3 era já o mais recente V10.
As respostas às primeiras questões colocadas pelo dono do Tesla levaram à confirmação que efectivamente se tratavam de engenheiros da Porsche alemã. Um deles era Manuel Layher, listado como Entwicklungsingenieur Fahrerassistenzsysteme, ou seja, engenheiro de desenvolvimento de sistemas de ajuda à condução na Porsche AG. Durante o teste no parque de estacionamento de Las Vegas e perante o incrédulo Gadley, os engenheiros submeteram a vários testes o sistema Smart Summon, saltando para a frente do carro para ver até que ponto ele parava ou se desviava para os evitar.
Depois de tudo testado e registado, os engenheiros alemães agradeceram a Gadley a paciência e declaram-se muito impressionados com o Autopilot e o novo software V10. E, como forma de agradecer ao dono do Model 3, atribuíram-lhe uma classificação de 5 estrelas no aluguer, com o seguinte comentário, em alemão: “Queríamos conduzir um Tesla com o V10. Conseguimos fazê-lo aqui. Muito obrigado!” Pelo menos, foram muito mais simpáticos do que os técnicos da Mercedes, quando pretenderam arranjar um Tesla para desmontar para perceber como tudo funcionava.
Não deixa contudo de ser estranho que a Porsche prefira alugar um Tesla e estar sujeita a este tipo de exposição – de ser apanhada a testar a concorrência –, em vez de comprar um Model 3 e analisá-lo com todo o conforto, comodidade e, sobretudo, sem ter de prestar contas a ninguém.