O primeiro-ministro britânico e líder do Partido Conservador, Boris Johnson, está a ser criticado por ter recusado várias vezes ver uma fotografia publicada pelo Yorkshire Evening Post que mostra um rapaz de quatro anos com uma pneumonia deitado no chão de um hospital público britânico em Leeds.
O momento aconteceu numa entrevista da iTV News ao primeiro-ministro ao jornalista Joe Pike. O jornalista em questão perguntou várias vezes ao primeiro-ministro se tinha visto a fotografia de um rapaz de quatro anos, identificado como Jack, deitado num monte de casacos à espera de ser atendido num hospital público.
Primeiro, Boris Johnson evitou olhar para o telemóvel do jornalista, onde a imagem podia ser vista. “Se não se importa, agora vou dar-lhe a entrevista”, disse, acrescentando ainda assim que o seu governo queria “investir no NHS” (sigla inglesa para o serviço público de saúde britânico) e que “o pior de tudo seria ter um governo que esteja atolado em bloqueios e desordens e que por isso não consiga seguir em frente”.
Depois, incomodado com o estilo daquela entrevista, o primeiro-ministro tirou o telemóvel ao jornalista e meteu-o no bolso. Foi só depois de o jornalista denunciar o que acabava de acontecer que Boris Johnson olhou para a imagem em questão.
Tried to show @BorisJohnson the picture of Jack Williment-Barr. The 4-year-old with suspected pneumonia forced to lie on a pile of coats on the floor of a Leeds hospital.
The PM grabbed my phone and put it in his pocket: @itvcalendar | #GE19 pic.twitter.com/hv9mk4xrNJ
— Joe Pike (@joepike) December 9, 2019
“Você recusa olhar para a fotografia, pegou no meu telemóvel e pô-lo no seu bolso, primeiro-ministro. A mão dele [do rapaz de quatro anos] diz que o NHS está em crise. Qual é a sua resposta?”, insistiu o jornalista.
Boris Johnson tirou o telemóvel do bolso e só aí viu a fotografia em questão. “Desculpe. É uma fotografia terrível, terrível. E é claro que peço desculpa à família e àqueles que tiveram experiências terríveis no NHS”, acabou por dizer o primeiro-ministro britânico.
“O meu filho foi obrigado a dormir no chão”
A fotografia de Jack foi enviada ao jornal local Yorkshire Evening Post pela mãe do rapaz. Àquele jornal, a mãe, Sarah Williment, contou que os trabalhadores do hospital foram “tão úteis quanto possível” mas que “simplesmente não há camas que cheguem para responder ao elevado nível de procura” do hospital em questão.
Jack chegou ao hospital de ambulância e começou por ser colocado numa cama das urgências pediátricas. Porém, conta o Yorkshire Evening Post, a chegada de outro doente presumivelmente mais prioritário às urgências levou a que Jack tivesse de ceder a sua cama. “Um médico entrou à pressa e disse que ele [o novo doente] precisava da cama”, contou a mãe. “Fomos levados para fora daquele quarto e levados para outro onde não havia nenhuma cama para ele se deitar (…). O meu filho foi obrigado a dormir no chão.”
Corbyn diz que Boris e o seu partido “causaram esta crise”
O caso em questão teve rápidas repercussões na campanha, depois de a fotografia ter sido publicada na primeira página do Daily Mirror esta segunda-feira. O líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, publicou a imagem de Jack deitado no chão de um hospital de Leeds e escreveu: “Não tenham dúvidas: os conservadores de Boris Johnson causaram esta crise ao privarem o NHS do financiamento de que ele precisa. Não admira que ele não consiga olhar para a fotografia”.
Be in no doubt: Boris Johnson’s Conservatives caused this crisis by depriving our NHS of the funding it needs.
No wonder he can’t bring himself to look at the photo.https://t.co/SEZhk4p1Zw
— Jeremy Corbyn (@jeremycorbyn) December 9, 2019
Também esta segunda-feira, num discurso de campanha, Jeremy Corbyn disse que “os tories tiveram nove anos para financiar o NHS como deve ser” e que não seria agora que iriam passar a fazê-lo. “Chegou a altura de pôr o fim no regime deles”, acrescentou.
Mãe apresenta queixa ao regulador dos media, não quer utilização política do filho
Esta segunda-feira, em declarações ao Daily Mirror, a mãe do rapaz disse que pela primeira vez na sua vida ia votar no Partido Trabalhista, mudando assim do seu voto habitual no Partido Trabalhista.
Porém, já depois de ter feito aquelas declarações e de o caso do seu filho se ter tornado notícia em todo o Reino Unido, a mãe do rapaz de quatro anos apresentou uma queixa formal ao regulador dos media britânicos, o IPSO. De acordo com a BBC, nessa queixa a mãe explica que não quer que o seu filho seja utilizado como “uma bola de futebol política” e queixa-se de o caso estar a “causar perturbações significativas” tanto para a criança como para a sua família.
O sistema público de saúde britânico (normalmente referido pela sigla inglesa, NHS) tem sido um dos principais temas da campanha para as eleições gerais desta quinta-feira, com os principais partidos a prometerem investimentos recorde naquele serviço. O Partido Conservador prometeu um aumento anual de 3,2% do investimento no NHS até 2024. O Partido Trabalhista prometeu 3,8%, ligeiramente acima dos 3,7% que os Liberais Democratas referem no seu programa eleitoral.