(Artigo em atualização)

Pelo menos cinco pessoas morreram e cerca de 30 ficaram feridas na sequência da erupção do vulcão Whakaari / Ilha Branca, esta segunda-feira, numa ilha da costa da Nova Zelândia. As mortes foram confirmadas pela polícia em conferência de imprensa. A polícia revela que o número de vítimas poderá aumentar, o que só se saberá ao longo das operações de resgate, em que além da assistência médica se procuram oito desaparecidos.

No local, segundo o New Zeland Herald, estavam cerca de 100 turistas. A primeira-ministra Jacinta Arden, que confirmou a centena de turistas de local, já falou publicamente sobre o caso. “Todos os nossos pensamentos estão com quem foi afetado”, disse a governante. Mas o mais recente comunicado de imprensa da polícia diz que havia “menos de 50 pessoas” na ilha no momento da erupção.

De acordo com as autoridades, 36 pessoas foram retiradas da ilha. Cinco delas morreram no percurso até terra, enquanto as outras 31 estão feridas — algumas delas com gravidade. Pelo menos oito turistas continuam ainda desaparecidos, segundo Jacinta Arden. A polícia diz que as imagens aéreas “não mostram sinais de vida” na ilha.

O vulcão entrou em erupção pelas 14h15 (hora local, mais treze horas que em Portugal) e há imagens captadas minutos antes pelo Instituto de Ciências Geológicas e Nucleares que mostram pessoas a passear naquele local. A maior parte das vítimas, segundo o responsável pela polícia local, Mark Cairns, estariam num cruzeiro que ali passava. A CNN revela que o Ovation of the Seas estava a passar bem próximo do vulcão quando ele entrou em erupção.

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Há um vídeo que mostra a dimensão da nuvem de piroclastos emitidos pelo vulcão. Michael Schade tinha estado com a família na ilha, que abandonou 20 minutos antes do vulcão entrar em erupção. “Estávamos à espera no nosso barco, prestes a ir embora, quando o vimos”, conta. Segundo o turista norte-americano, a embarcação em que seguia ainda participou na operação de resgate.

Outro vídeo publicado por este turista, um engenheiro informático segundo o perfil de Twitter que tem utilizado, mostra um grupo de pessoas a entrar num barco de borracha para fugir da ilha. Michael Schade explica que essas pessoas são turistas apanhados de surpresa pela erupção do vulcão e resgatadas para a embarcação onde o engenheiro seguia.

As operações de resgate prosseguem na ilha, onde a noite já caiu — a hora de Nova Zelândia está 13 horas adiantada à de Portugal Continental. Segundo a polícia, não é a noite que está a dificultar as operações, mas sim as condições perigosas na ilha: “O ambiente físico é inseguro para retornarmos à ilha. É importante considerarmos a saúde e a segurança dos socorristas”, disse John Tims, comissário da polícia, em conferência de imprensa.

Um especialista do Instituto de Ciências Geológicas e Nucleares explicou em conferência de imprensa que, embora a erupção vulcânica não tenha sido muito grande — foi rotulada de “moderada” —, foi muito perigosa para quem se encontrava ali perto. “A pluma [coluna da erupção] subiu 12 mil pés [3600 metros]”, descreveu Ken Gledhill, que não pode garantir que não haja uma nova erupção nas próximas 24 horas.

Segundo Michael Schade, esta era o comportamento da cratera principal do vulcão menos de 30 minutos antes de ter entrado em erupção.

Segundo o The Washington Post foram enviados vários helicópteros com paramédicos para o local e há, para já, cerca de 20 turistas a precisarem de assistência médica.

A Ilha Branca é localizada a cerca de 48 quilómetros da Ilha do Norte, na baía neozelandesa de Plenty. Não é habitada, mas é frequentemente visitada por turistas.

Entretanto a Cruz Vermelha neozelandesa criou um site que permite dois tipos de registo, um para quem está bem através do link “Estou vivo”, outro para quem queira registar alguém que não encontre e que possa estar desaparecido. Há já uma lista de pessoas registadas como seguras ou desaparecidas, mas a Cruz Vermelha sublinha que não é ainda uma lista oficial. Nessa lista estão já 50 turistas, entre os 12 e os 80 anos. Trinta e sete estão dados como desaparecidos.

A Nova Zelândia é um dos países geologicamente mais ativos do mundo por ficar numa região em que duas placas tectónicas — peças que compõem a superfície terrestre — interagem entre si. Uma é a Placa da Austrália e a outra é a Placa do Pacífico. A primeira é continental e, portanto, menos densa do que a placa do Pacífico, que é oceânica.

Na zona onde esta erupção vulcânica aconteceu, as duas placas colidem. A do Pacífico mergulha debaixo da placa da Austrália — algo que acontece na região norte da Nova Zelândia — num fenómeno que se chama “subducção”. Quando isso acontece, abre-se uma janela para o manto da Terra, onde está armazenado o magma que faz mover as placas tectónicas. Esse magma sobe até à superfície, dando origem a vulcões como o que existe na Ilha Branca.

Este fenómeno neozelandês faz parte do Círculo de Fogo do Pacífico, um anel de vulcões e trincheiras que circunda a região norte do oceano Pacífico e que provoca um grande número de sismos de elevada magnitude e grande atividade vulcânica.

A ilha onde ocorreu a erupção vulcânica fotografada em 2016 a partir de um helicóptero. Créditos: Phil Yeo/Getty Images

Ilha Branca era “um acidente à espera de acontecer”

Num comentário enviado aos jornalistas de ciência, Ray Cas, professor emérito da Universidade de Monash (Austrália) afirma que a erupção deste vulcão era “um acidente à espera de acontecer”: “Após visitá-lo duas vezes, sempre achei que era muito perigoso permitir aos grupos diários de turismo que visitem o vulcão desabitado da ilha de barco e helicóptero”, aponta.

O especialista recorda que este não foi o primeiro acidente mortal resultante da erupção do vulcão. No final do século XIX, estabeleceu-se uma mina de enxofre na ilha com uma base para os trabalhadores, mas foi tudo destruído em 1914 após uma avalanche. “Uma avalanche de rocha hidrotermicamente enfraquecida desabou das paredes da cratera e inundou os locais de mineração”, contou o professor. Grande parte dos mineiros morreu.

Ross Dowling, um especialista em turismo da Universidade de Edith Cowan (Austrália), acrescenta que este acidente decorre de um aumento global de turistas que visitam vulcões ativos por se sentirem atraídos por “um ambiente natural imprevisível”: “A maioria dos turistas assume que poderão visitar locais perigosos com relativa segurança. No entanto, apesar do aumento da ciência por trás da previsão de erupções vulcânicas, ela não é infalível e os vulcões ativos podem entrar em erupção a qualquer momento”, avisa.

O conselho de Ross Dowling é “permitir que os visitantes vejam vulcões ativos à distância, não que entrem em qualquer vulcão considerado ainda em fase ativa”. Até porque, como sublinha Richard Arculus, vulcanólogo da Universidade Nacional Australiana, “a Ilha Branca tem mostrado sinais de inquietação nas últimas semanas”.

Cientistas avisaram que erupção estava a tornar-se “mais provável que o normal”

No final de setembro, o vulcanólogo Steve Sherburn já tinha avisado que a atividade vulcânica do Whakaari tinha aumentado: “Pequenas explosões enlameadas e semelhantes a géiseres estão a ocorrer na cratera ativa de Whakaari devido a um crescente lago de crateras que inundou os respiradouros ativos”: “Observamos explosões de lama e vapor em pequena escala na área de ventilação ativa. Atingiram uma altura máxima de cerca de 10 metros”, descreveu. Ainda assim, o nível de alerta manteve-se no mais baixo e o fenómeno “não simboliza nenhum perigo para os visitantes”, garantiam os especialistas.

Há três semanas, a 18 de novembro, outro vulcanólogo, Michael Rosenberg, subiu o nível de alerta para o 2 porque “a atividade aumentou ainda mais” na Ilha Branca. “Nas últimas semanas, observamos um aumento na quantidade de gás [dióxido de enxofre] produzido. O gás SO2 tem origem no magma (rochas derretidas) em profundidade”, descrevia o cientista. E prossegue: “Nas últimas semanas, o nível de sismos vulcânicos também aumentou de fraco para moderado. Isso pode ocorrer por várias razões, incluindo o movimento de gás através do vulcão, alterações no sistema geotérmico e até atividade de superfície — por exemplo, géiseres”, concluiu.

Turistas passeiam junto a uma paisagem rica em enxofre na Ilha Branca em 2010. Créditos: Lisa Wiltse/Corbis via Getty Images

Esse foi o panorama pintado para o vulcão da Ilha Branca até agora. A atualização mais recente tinha sido feita há seis dias por Brad Scott, que descreveu: “A agitação vulcânica moderada continua em Whakaari, com substanciais explosões de gás, vapor e lama observadas na abertura localizada na parte traseira do lago da cratera”. O cientista termina a descrição com um aviso: “As observações e dados até o momento sugerem que o vulcão pode estar a entrar num período em que a atividade eruptiva é mais provável do que o normal”.

O “nível 2 de alerta” em que o vulcão estava indica uma “atividade vulcânica moderada a elevada” com “risco de agitação vulcânica” e “potencial para erupção”. Esse aviso já estava em vigor há quase um mês, mas os vulcanólogos avisaram que “uma erupção pode ocorrer em qualquer nível” e que “os níveis podem não se mover em sequência porque a atividade pode mudar rapidamente”. Mas esta escala nada diz sobre a segurança de visitas turísticas à ilha em cada um desses níveis.

Agora, com a erupção vulcânica registada esta madrugada, o nível de alerta subiu para 3, segundo a atualização do cientista Geoff Kilgour. No entanto, o vulcanólogo garante que os cientistas “têm observado uma firme diminuição da atividade” do vulcão “desde a erupção”: “Ainda existe uma incerteza significativa quanto a mudanças futuras, mas atualmente não há sinais de aumento”.