O artista plástico Alexandre Estrela transformou os livros de economia e gestão que Manuel Pinho numa obra de arte. Nomeadamente, dezenas de livros que o ex-ministro deixou num contentor para reciclagem de papel no passeio junto à sua casa, na rua Saraiva de Carvalho, em Lisboa, escreve o jornal Público. Os livros ganharam outra vida e a exposição ganhou o nome de “Lixo de Pinho”.
Acho que deitar livros ao lixo, quando se está a 500 metros de uma biblioteca de Economia, é criminoso. Quis repor os livros em circulação, e o que está na exposição é já o resultado de uma escolha feita pelos bibliotecários, que dos 49 livros recolhidos selecionaram 25”, disse o artista ao Público.
Os livros foram encontrados por Alexandre Estrela, que foi vizinho de Manuel Pinho ao longo de uma década em Campo de Ourique. Pinho vivia num rés-do-chão de um prédio conhecido por ali ter vivido o escritor Almeida Garret e que o então adminisrador do BES que tinha comprado ao Grupo Espírito Santo em novembro de 2004 por cerca de 780 mil euros a poucos meses de ser convidado para ministro da Economia de José Sócrates — um negócio polémico que também está sob investigação no âmbito do caso EDP. Pinho, recorde-se é suspeito de corrupção passiva para ato ilícito, prevaricação, participação económica em negócio e branqueamento de capitais nos autos do caso EDP.
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Regressando à exposição de Alexandre Estrela. A maioria dos livros selecionados pelo artista plástico é de economia e gestão, sendo que entre eles estão também livros do ambientalista James Lovelock e ainda um álbum autografado do artista Lawrence Weiner. Outro, chamado “Wikinomics” de Dan Tapscott e Anthony D. Williams, até uma dedicatória manuscrita dirigida ao “Minister Pinho, with great admiration and best wishes!” (“Para o ministro Pinho, com grande admiração e os melhores cumprimentos”).
A exposição consiste numa sala com 24 livros abertos colados às paredes. Na primeira página de cada um deles é possível ver um carimbo vermelho onde se leem as palavras que dão nome à exposição: “Lixo de Pinho”. Mas Alexandre Estrela encontrou no contentor do lixo muitos mais livros, que doou — carimbados a vermelo — à biblioteca do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG). É, aliás, este o destino que terão os restantes 24 livros assim que a exposição terminar.
A exposição foi inaugurada no passado dia 21 de dezembro, no espaço Sismógrafo, na Rua da Alegria, 416, no Porto. Irá permanecer aberta ao público até ao dia 25 de janeiro.