Harry e Meghan anunciaram na passada quarta-feira a decisão de deixarem de ser “membros seniores” da família real britânica, continuando a trabalhar em prol da coroa e vivendo em autonomia financeira, entre terras de sua majestade e a América do Norte. Uma coisa é certa: as repercussões serão sobretudo para o lado do casal, que, no último ano e meio se tornou conhecido por um estilo de vida de mobilidade e conforto.

A julgar pela nova página oficial — The Duke & Duchess of Sussex –, o casal não faz tenções de abandonar os títulos nobiliárquicos. Mantendo-de duque e duquesa, fazem planos de criar uma fundação e de trabalhar em prol de causas como a saúde mental e a sustentabilidade ambiental, como já têm feito. Deixando de parte os abonos reais — o que parece ser uma consequência quase certa deste Megxit –, a conta corrente de Harry e Meghan pode muito bem abrir-se às verbas de patronos a patrocinadores.

Harry e Meghan Markle deixam de ser “membros sénior” da família real. Querem trabalhar para serem “financeiramente independentes”

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O Fundo de Soberania e a “mesada” do príncipe Carlos

Mas como têm funcionado as finanças do casal? Como membros da família real britânica, a resposta está no Fundo de Soberania, uma verba paga pelo governo à rainha com o objetivo de suportar todas as obrigações e compromissos oficiais da coroa. É uma espécie de grande bolo financeiro composto pelo Tesouro e do qual fazem parte receitas provenientes de propriedades da monarca, que estão sob gestão estatal, mas também receitas de impostos pagos pelos britânicos.

No Reino Unido, o comunicado dos duques de Sussex fez as manchetes dos jornais desta quinta-feira © Getty Images

Segundo Harry e Meghan, este fundo cobre 5% das despesas. Na nova página oficial, o casal expressa vontade de deixar de contar com esse financiamento. Por outro lado, ao beneficiar desta espécie de subvenção real, o casal está impedido de ganhar dinheiro de outras formas, o que inclui qualquer obra social ou de caridade em que esteja envolvido. Segundo o site australiano News, 5 milhões de libras (de um total de 82 milhões) é o valor anual separado pela rainha para os dois filhos do príncipe de Gales, sendo a fatia destinada aos duques de Cambridge consideravelmente maior.

O resto fica por conta de Carlos, ou seja, 95% das despesas dos duques de Sussex são suportadas pelo próprio príncipe de Gales, através dos rendimentos do Ducado da Cornualha. Falamos de uma propriedade com cerca de 53.000 hectares que também providencia o sustento de William e Kate. A mesma plataforma australiana fala em quase 5 milhões de libras anuais para os Sussex. Não há dúvidas que de a vida tem sido confortável, sobretudo se recordarmos que, em solo britânico, o casal tem vivido na Frogmore Cottage, na propriedade de Windsor, remodelada no ano passado. Deixar a histórica casa ao gosto do casal custou a módica quantia de 2,7 milhões de euros, valor em parte suportado pelos contribuintes ingleses.

Meghan e Harry abdicam de títulos reais

Podemos falar ainda da proteção policial de que têm usufruído enquanto membros de primeira linha da realeza. A plataforma australiana News fala em seis elementos da Polícia Metropolitana afetos em permanência à segurança do casal, uma fatura que excede os 670.000 euros anuais. A despesa aumentará exponencialmente caso Harry e Meghan se mudem de facto para a América do Norte.

Contudo, o comunicado emitido na última quarta-feira pelo casal Sussex não entra em pormenores quanto aos rendimentos provenientes da propriedade do príncipe Carlos, avaliada pelo Mirror em mais de mil milhões de libras. Em aberto fica a possibilidade de Harry e Meghan permanecerem numa posição tão dúbia quanto promíscua em que continuam a beneficiar de regalias reais e, ao mesmo tempo, aptos a receber dinheiro a título individual, através de uma fundação, por exemplo. Republic, um grupo britânico anti-monarquia, já se pronunciou sobre o assunto — “Obter ganhos individuais através de um cargo público é algo a que se chama corrupção”.

35 milhões: o pé-de-meia de Harry e Meghan

Entretanto, já se fazem contas às libras e aos dólares que o casal pode vir a render uma vez desvinculado das obrigações até aqui mantidas. Ronn Torossian, guru das Relações Públicas norte-americano, citado pelo Mirror, adianta ainda que o casal pode agora “reunir todos os patrocínios que quiser em todo o mundo”, mostrando assim como Meghan e Harry podem na verdade ser bastante mais rentáveis depois deste corte do cordão umbilical. Outra fonte próxima do palácio diz não ter dúvidas que Harry e Meghan, que “manterão a sua popularidade em alta”, têm tudo para ser um dos grandes super-casais do panorama mediático.

Meghan e Harry retomaram a agenda de compromissos públicos na passada terça-feira, em Londres © Getty Images

Ainda assim, não é como se os dois estivessem a construir uma conta bancária do zero. O The Times estima que a fortuna do casal deverá rondar os 35 milhões de euros. Este valor é largamente ultrapassado nas contas feitas pela Money, em maio de 2019, com a fortuna pessoal de Harry avaliada entre 22 e 36 milhões de euros, graças a heranças da mãe e da rainha-mãe. Já Meghan Markle deverá reunir cerca 4,5 milhões de euros, resultado do trabalho como atriz (chegou a receber quase 47.000 euros por cada episódio da série “Suits”) e do proveitoso blogue que manteve até 2017. The Tig chegou a render-lhe 70.000 euros por ano.

Os Sussex deitam mãos à obra. Mas a qual delas?

A biógrafa real Penny Junor não se mostra tão otimista quanto ao futuro financeiro do casal Sussex. “O trabalho de caridade que fazem não é remunerado e eles têm um estilo de vida bastante extravagante”, assinalou. O certo é que os dois parecem ter o plano de ação bem delineado. Num novo site apelativo, os duques de Sussex prometem pôr as mãos na massa em três frentes — apoiar a comunidade, servir a monarquia e servir a Commonwealth. Neste âmbito, ao mesmo tempo que quer permanecer ligado aos interesses da coroa britânica além-fronteiras, o casal prepara-se para encabeçar uma nova organização, focada no ambiente, na saúde mental e, no caso de Meghan, no empoderamento de mulheres e raparigas.

Por outro lado, há quem especule já sobre um possível regresso de Meghan Markle à representação. “Talvez ela devesse ter cuidado com os papéis que aceitaria, já que é um membro da família real”, recordou Junor.

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Por agora, o caminho escolhido pelos Sussex permanece minado de incógnitas. Poderão desligar-se apenas parcialmente da família real britânica? Irão manter-se as regalias mesmo com Harry e Meghan do outro lado do Atlântico. Em solo britânico, irá a autonomia financeira ditar que os duques passem a pagar despesas como a renda de casa ou a segurança do próprio bolso? Poderá a rainha conservar os títulos, mesmo com um projeto social de financiamento privado?

Recorde aqui o caso no Termómetro desta quinta-feira.