Oito em cada 10 doentes adultos admitidos em cuidados paliativos em 2018 tinham cancro, valores que se invertem nas crianças e jovens já que quase 90% têm uma doença não oncológica, segundo um estudo divulgado esta quarta-feira.

“Contrariamente ao preconizado e até aos dados internacionais, em que a maioria dos doentes com necessidades paliativas tem como base uma doença não oncológica, os dados deste estudo mostram que em Portugal 80,7% dos doentes adultos admitidos a estes cuidados têm como base uma doença oncológica”, refere o Relatório de Outono de 2019 do Observatório Português de Cuidados Paliativos (OPCP).

Já 89,4% dos doentes em idade pediátrica não tinham como base uma doença oncológica, indica o relatório, segundo o qual cerca de 102 mil doentes adultos e cerca de 8 mil crianças e jovens, necessitaram de cuidados paliativos em 2018.

Contudo, apenas acederam a estes cuidados 25.570 doentes adultos e 90 em idade pediátrica, o que demonstra uma taxa de acessibilidade de cerca 25% dos adultos e 0.01% nas crianças e jovens.

Relativamente aos doentes adultos, o documento precisa que 10.101 tinham cancro (80,7%), 2.104 (16,8%) tinham uma doença não oncológica e 314 (2.5%) tinham “doença mista”.

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A maior parte dos doentes como cancro observa-se em Faro (97,8%) e a menor em Braga (46,5%). Em relação aos doentes com doença não-oncológica, a maioria verifica-se em Braga (53,5%) e a minoria em Faro (1,9%).

Já a maior proporção de doentes admitidos com doença mista observa-se em Santarém (16%), sendo que alguns distritos não têm nenhum doente com estas características.

Quanto aos doentes em idade pediátrica admitidos em 2018, 76 não tinham cancro, sete (8,2%) tinham doença oncológica e dois (2,4%) doença mista.

A maior proporção de doentes nestas idades com doença oncológica observa-se em Lisboa (33,3%) e a menor em Coimbra (4,5%). Em relação aos doentes com doença não-oncológica, a maior proporção regista-se em Braga e Guarda (100%) e a menor em Lisboa (66,7%).

O relatório observa “a baixa proporção de doentes transferidos para serviços de tipologia de agudos com nenhum a ser transferido para unidade de cuidados intensivos“.

Tal revela bem, que apesar da escassez de recursos humanos, os profissionais de cuidados paliativos, conseguem, em alguma medida, atingir alguns importantes resultados da sua prática”, sublinha.

O OPCC conclui que “a cobertura universal efetiva de cuidados paliativos” em Portugal “está longe de estar alcançada assim como revela profundas assimetrias a nível distrital/regional e de tipologias”.

Ordem dos Psicólogos considera preocupantes dados divulgados

A Ordem dos Psicólogos considerou, numa nota enviada à agência Lusa, que os números divulgados “são preocupantes” e instou “os decisores a encontrarem medidas que reforcem as equipas de profissionais nesta área tão importante para a sociedade”.

“O tempo é um bem essencial para a intervenção psicológica que deve ser realizada. Sem ele, o resultado final das intervenções e sua efetividade pode estar em causa”, alerta Francisco Miranda Rodrigues, bastonário da OPP, para quem é imperativo que os “decisores encontrem os meios para reforço das equipas de profissionais, para intervenções eficazes, baseadas na evidência, o que nas condições atuais muito dificilmente podem ser atingidas”.

Para o bastonário, “todos os que já experienciaram, presenciaram ou vivenciaram o sofrimento de familiares ou amigos em situação de saúde que tenham tido necessidade de cuidados paliativos, sabem do pouquíssimo tempo que os profissionais de saúde, entre eles os psicólogos, ainda têm para o contacto com a pessoa doente ou seus familiares, fruto dos poucos recursos face às necessidades sociais existentes e apesar do progresso dos últimos anos”.

Em causa estão as conclusões do relatório do Observatório Português dos Cuidados Paliativos, no qual se constata um apoio psicológico de 8.8 minutos por semana a cada doente internado, sublinha a ordem.

“A isto acresce o rácio de profissionais por doente: 0.7 psicólogos por cada 1.000 doentes admitidos, 0,2 por cada 1.000 doentes estimados, 1,7 por cada 106 habitantes”, sublinha a estrutura.