Os bombeiros portugueses ainda não receberam quaisquer informações sobre como agir em situações de contacto ou transporte com pessoas infetadas com coronavírus. Apesar de serem responsáveis por 85% das respostas a emergências pré-hospitalares, conta o Jornal de Notícias, os bombeiros não foram priorizados pela Direção Geral de Saúde (DGS) no momento de dar instruções sobre como reagir à doença que nasceu na cidade de Whuan, na China.
Ao mesmo jornal, a DGS assumiu que as primeiras informações foram cedidas ao INEM mas assumiu que muito em breve irá enviar “instruções específicas” sobre como devem reagir os “soldados da paz” em situações (mesmo que sejam apenas suspeitas) deste género. A Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), que tem no seu organigrama uma direção responsável por tutelar os bombeiros, também se limitou a ceder as informações generalistas que têm circulado. Já o INEM — o único organismo que tem um manual de cinco páginas com informações detalhadas sobre como agir em vários cenários deste género, considerados de risco — afirmou que a aparente falta de organização no que diz respeito aos bombeiros é causada pela DGS e pela ANEPC.
Graça Freitas, a diretora-geral de Saúde, afirma que a DGS fez uma “informação genérica” sobre comportamentos “que deverá ter chegado aos bombeiros”. A mesma responsável afirmou que o seu “principal parceiro” no primeiro momento de contacto com doentes é o INEM, mas que isso não quer dizer que os bombeiros não têm um papel importante nesta área. “Não estamos a desvalorizar o seu trabalho”, explicou Graça Freitas.
Os tais “avisos de índole geral” que a ANEPC diz reencaminhar, vindos estes da DGS, pecam pela falta de “informação técnica avaliada pela DGS”, nomeadamente no que diz respeito, por exemplo, a “comportamentos de autoproteção e procedimentos de desinfeção de equipamentos e veículos. Apesar disso, a mesma ANEPC disse já ter pedido mais informações sobre estes e outros temas semelhantes.
Em declarações prestadas ao Jornal de Notícias, a Fénix – Associação Nacional de Bombeiros e Agentes de Proteção Civil, afirmou que cabe ao INEM a “emissão do documento que regule a atuação dos bombeiros”, isto já que são eles os responsáveis pelo Sistema Integrado de Emergência Médica. Mesmo assim, para Carlos Silva, o presidente desta associação, a ANPC também tem responsabilidade no assunto. “O atraso em questão é lamentável”, criticou.
Entretanto, em declarações à Radio Observador, Jaime Marta Soares (presidente da Liga de Bombeiros) afirmou ressalvou que os bombeiros já deviam ter sido “informados com todo o rigor sobre qual o papel que lhes vai caber numa situação destas, que pode de um momento para o outro transformar-se num caso muito grave e porventura epidémico”.
“Já nos devíamos ter sentado à mesa para analisar e ver que estratégia está definida e qual o papel que cabe a cada um no processo. Os bombeiros estão sempre disponíveis para participar ativamente na resolução de problemas mas para isso têm de ser respeitados pelas suas entidades representativas, isto para depois difundirem aquilo que tem de ser difundido e trabalharem com o rigor necessário para circunstâncias desta dimensão”, ressalvou ainda.
A Rádio Observador contactou a DGS e a própria Graça Freitas diz acha “muito estranha” toda esta situação porque “no dia 27 de janeiro o INEM — que é o responsável pelo Sistema Integrado de Emergência Médica (SIEM) — mandou um comunicado aos bombeiros e a todas as pessoas que fazem parte do mesmo SIEM.” Segundo a mesma representante da Direção Geral de Saúde, tratava-se de “um comunicado muito simples e incisivo” que “dava as instruções que era necessário seguir se, por acaso, transportassem um doente com suspeitas de estarem infetadas.”
“O INEM está alinhado com a DGS. Passámos-lhes a informação e eles propagaram-na, é assim”, rematou.