A Caixa Geral de Depósitos obteve lucros de 776 milhões de euros no ano passado, um aumento de 57% em relação ao ano anterior. Estes são resultados que foram apresentados em conferência de imprensa em Lisboa, esta sexta-feira, e que estão disponíveis no website da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). A subida de 4,6% nas comissões cobradas ajudou o resultado — mas o presidente do banco, Paulo Macedo, defende que estas não subiram “o que se diz” e deixa a pergunta: “num banco com a margem financeira a cair, se [as comissões] não subissem, o que é que aconteceria aos trabalhadores?“.
O banco indica que excluindo efeitos não-recorrentes, o resultado do banco em 2019 pode ser contabilizado em 632 milhões, mais 27% do que o período homólogo em termos comparáveis. As atividades internacionais deram um contributo “robusto” e, em Portugal, o lucro da atividade da Caixa no país foi de 449 milhões de euros, mais 32% do que em 2018.
A Caixa Geral de Depósitos destaca, também, que conseguiu um “crescimento expressivo” de 6,7% de crédito a empresas (excluindo construção e imobiliário) — os maiores crescimentos foram nas áreas da educação e saúde (34%) e agricultura e pescas (13%). E destaca-se, também, um aumento de 33% na nova produção de crédito à habitação.
A margem financeira do banco, porém, baixou 4,3% ao nível consolidado (e derrapou 7,1% se olharmos apenas para a operação em Portugal), algo que o banco justifica com a “conjuntura de taxas de juro, que atingiram mínimos em 2019” e, por outro lado, devido a “reembolsos por parte de entidades públicas”, que chegaram aos dois mil milhões de euros no ano passado. A margem financeira, em termos simples, representa a diferença entre aquilo que o banco cobra pelos créditos que dá e, por outro lado, aquilo que paga pelo financiamento (depósitos, banco central, etc.).
Por outro lado, o banco cobrou mais comissões: 502 milhões de euros em 2019, que comparam com 480 milhões no ano anterior (um aumento de 4,6%). O banco defende que este aumento da cobrança de comissões aconteceu sobretudo na colocação de seguros e fundos de investimento.
Na conferência de imprensa de apresentação de resultados, o presidente-executivo do banco, Paulo Macedo, argumentou que o “ruído” sobre as comissões não tem reflexo nos números – sendo certo que “podemos torturar os números até quererem”. As comissões subiram 4,6%, “não subiram o que se diz” e Paulo Macedo sublinha que dois terços da subida é em produtos como fundos de investimento e seguros.
De qualquer forma, o presidente do banco deixou a pergunta: “um banco com uma margem financeira a cair, se as comissões não aumentassem o que é que acontecia aos trabalhadores e à sua sustentabilidade a prazo?“. Paulo Macedo não esconde que é intenção desta administração “aumentar significativamente” as comissões cobradas, em nome da sustentabilidade do banco, defendendo que até estão a ser cobradas menos comissões do que aquelas que estão previstas no plano estratégico. Em algumas rubricas Paulo Macedo até tem “pena” que as comissões não sejam maiores, atirou, sem especificar.
Por outro lado, o banco teve de injetar 300 milhões de euros no fundo de pensões devido a um desvio atuarial relacionado com a evolução das taxas de juro — um efeito que não estava no plano estratégico. Já os resultados de operações financeiras aumentaram em 52 milhões de euros, para um total de 82,5 milhões de euros, neste exercício.
Também a ajudar, voltou a haver uma redução dos custos de estrutura, que caíram 6% nos custos com pessoal: baixaram de 610 milhões para 583 milhões de euros. O banco nota que na CGD Portugal os custos correntes baixaram 22,5% desde o início de 2017. O banco disponibilizou um gráfico sobre onde é que esses cortes aconteceram, desde 2017.
O trabalho de redução de custos é extremamente exigente. Só uma gestão rigorosa consegue ir item a item para ver onde é possível fazer essa redução. Essa redução é indispensável, nunca os contribuintes portugueses nos desculpariam se não procurássemos formas de os nossos serviços não serem tão onerosos”, diz Paulo Macedo.
A Caixa tinha 8.868 funcionários no final de 2016, agora tem 7.100, segundo o banco, na linha dos objetivos do plano estratégico acordado com as autoridades europeias. Em 2020, irá haver uma redução líquida de 470 funcionários.
Paulo Macedo adiantou que esta semana foi fechado o acordo de empresa com os sindicatos de trabalhadores da Caixa, um processo com “cedências de parte a parte”. “Foi um acordo que visa dar competitividade à Caixa face aos outros bancos, porque parece que os clientes não estão disponíveis para pagar mais custos aqui do que nos outros bancos”, diz o presidente da Caixa. A tabela salarial terá uma atualização de 0,9% em média, mais pronunciada nos escalões mais baixos e menor nos escalões mais altos.
O banqueiro conclui que, em linha com o que tem sido noticiado, é “plausível” que o banco público venha a entregar “mais ou menos 300 milhões de euros” em dividendos ao Estado, depois dos 200 milhões de euros do ano anterior.
O presidente-executivo do banco comentou, ainda, a respeito das revelações do Luanda Leaks, que a Caixa “foi o primeiro banco em Portugal a encerrar todas as offshores”, sublinhou que é “o banco que mais reportes faz à Unidade de Informação Financeira” e até criou uma unidade interna de crime financeiro. Sobre casos específicos, não faz comentários — mas Paulo Macedo garante que na Caixa “não há casos a assinalar” em termos de transferências suspeitas. E a Caixa só tem financiamentos a empresas ligadas a Isabel dos Santos mas aquelas que são “conhecidas, cotadas em bolsa”.
Sobre a intenção indicada no passado de averiguar as responsabilidade de ex-administradores nas perdas da Caixa, Paulo Macedo diz que, a este respeito, “continua a ser feito o trabalho com os advogados e haverá uma proposta relativamente a esses factos”. O presidente-executivo do banco público diz que “foram pedidos estudos adicionais e o tema está a ser tratado com a serenidade que é adequada nestas situações”.