António Tomás Correia considera “absolutamente lamentável” que o Banco de Portugal tenha decidido publicar uma notificação de acusação num anúncio de jornal – nas páginas de Desporto do Público de segunda-feira –, garantindo que desde a altura do Natal tem estado fora de Lisboa (fora do país, até) numa “grande viagem” para rever família e amigos. O ex-líder do Montepio garante que não foi ouvido neste processo, não conhece as matérias de que é acusado e queixa-se de “perseguição” por parte do Banco de Portugal: “como se eu algum dia andasse a fugir a notificações…“, ironiza.
Em declarações por telefone ao Observador, Tomás Correia defende que o Banco de Portugal teve “possibilidade de falar comigo, de me notificar, de me ouvir, para eu dizer o que é que penso do assunto pelo menos até ao dia 15 de dezembro no meu domicílio profissional, a 200 metros do Banco de Portugal. Nunca“. Tomás Correia abandonou a liderança da mutualista Montepio, cuja sede é na Rua do Ouro, em Lisboa, no dia 15 de dezembro.
Depois da saída do Montepio, por alturas do Natal, Tomás Correia diz ter “iniciado um período de ausência” para fazer uma “grande viagem, nomeadamente, para estar com família minha no estrangeiro, em França, nos Estados Unidos, etc. E, de repente, os senhores devem ter ido a minha casa, não me encontraram, eu não tenho o dom da ubiquidade e decidem fazer uma notificação por edital”. “Não acha que isto é perseguição?“, pergunta.
Tomás Correia confirma que (depois de a carta não ter sido recebida) foi contactado telefonicamente pela polícia, pelos elementos da esquadra da PSP do Parque das Nações, muito próxima do condomínio onde vive, que o conhecem e lhe disseram que tinham na sua posse uma carta do Banco de Portugal. Tomás Correia terá informado o polícia de que só voltaria a Lisboa no final de fevereiro ou início de março, pelo que não podia recebê-la presencialmente.
Esse telefonema da polícia foi no final de janeiro. Alguns dias depois, esta segunda-feira, foi “surpreendido” pela notificação publicada no jornal.
O ex-líder do Montepio diz que não faz “a mais pequena ideia” sobre as irregularidade de que é acusado, mas deixa uma pista no ar: “o que sei é que são coisas de 2014 e contraordenações prescrevem ao fim de cinco anos, que eu saiba“. Esse é um prazo que conta, porém, a partir do momento em que o supervisor toma conhecimento dos factos, não a partir do momento em que aconteceram.
Tomás Correia diz que “instruiu os advogados para ir fazer o levantamento do processo e depois falamos. Até ao momento não sei nada”.
E conclui: “é lamentável, mas vindo o Banco de Portugal já nada me espanta. Tudo é possível com aquela gente, eles acham que não têm limites, mas há limites. Nomeadamente os limites da decência“.