Diana já perdeu a conta aos metros de fio usados para criar peças que se destacam na paisagem. Não é para menos, sobretudo quando descobrimos que só nos painéis que levou a uma feira de interiores em Frankfurt, no ano passado, foram 25 quilómetros – o suficiente para esticar de Lisboa ao Estoril. Mas para chegarmos ao atelier onde tudo acontece – e por tudo entenda-se várias peças de proporções sobre-humanas – precisamos de um pouco mais. Fica em Alcabideche, Cascais, e é a prova de que a Oficina 166, marca criada em janeiro de 2016, ainda não parou de crescer.

Apontar a moda do macramé como fórmula de sucesso é, no mínimo, redutor. Quando, aos 40 anos, Diana Meneses Cunha quis mudar de vida, trocando um emprego na banca pela criação artística a tempo inteiro, abraçou um veículo de expressão maior: a arte têxtil. “Fiz isto durante anos, mas como passatempo e sempre a seguir esquemas. Quando descobri que podia criar… Sempre adorei o meu trabalho, mas gostava mais disto. A ideia é ser feliz e, neste momento, as segundas-feiras deixaram de ser segundas-feiras.”

Diana Meneses Cunha no atelier. © Gonçalo F. Santos

Sem abandonar a técnica dos nós, Diana combinou-a com a tapeçaria e ainda com materiais rígidos, entre eles a madeira. “Só agora é que as pessoas estão a acordar para a arte têxtil, sobretudo porque o conceito de arte continua a ser associado apenas a expressões como a pintura e a escultura. Lá fora já se pensa um pouco mais à frente”, diz. “No fundo, pinto com os fios.”

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Foi também de fora que veio com os horizontes alargados. Depois de uma formação em Brooklyn com uma mestra australiana – única exceção a um percurso todo ele autodidata –, Diana iniciou em Lagos a relação que viria a pautar a criação da Oficina 166: os hotéis e alojamentos de charme. “Fiz 21 peças para uns apartamentos no Algarve e confesso que misturei tapeçaria e macramé por ser mais barato”, diz. Contingências financeiras à parte, os hotéis tinham-na descoberto e ela demarcou o seu próprio nicho de mercado.

No restaurante Tsukiji entrou um novo material em cena: a madrepérola.

A seguir veio o White, as villas e suítes em Ponta Delgada que transportam qualquer um para as ilhas gregas. Eram peças maiores e com carta-branca para criar, trazendo o branco das casas e o azul do mar para dentro, através de emaranhados de fio. “Foi aí que a marca começou verdadeiramente a mexer.”

Hoje, Diana tem criações da Oficina 166 nalguns dos espaços mais apetecíveis do país. No Craveiral, uma quinta sofisticada no litoral alentejano, o restaurante tem vista privilegiada para um painel em juta e lã de Arraiolos, que se estende ao longo de oito metros e envolve a sala numa teia monocromática. É a maior peça inteira jamais feita pela marca e há mais sete a caminho.

O painel feito para o Craveiral.

A poucos quilómetros dali, o Paraíso Escondido. Rumando a sul, a Casa Modesta. Aí, Diana dá um passo em frente e apalpa novos terrenos. Juntamente com as arquitetas da casa está a conceber peças para dar sombra e também mobiliário de jardim. As tipologias possíveis são quase tão ilimitadas quanto a lista de materiais. Vejam-se os candeeiros alforreca feitos para um restaurante de praia na Costa da Caparica, as estruturas em linho que iluminam o exterior do Craveiral, ou as escamas em madrepérola do Tsukiji, o restaurante do chef Paulo Morais, em Lisboa.

No atelier que a marca partilha com a ceramista Anna Westerlund, o pé-direito de cinco metros não tem preço. Com a ajuda de cordas e roldanas, as grandes peças em curso são içadas como estandartes. Foi o caso do painel com oito metros de altura, elevado ao longo de três andares no renovado Bairro Alto Hotel. Uma base em macramé, preenchida com recurso ao ponto de Arraiolos em lã merino. “Gosto muito mais deste design orgânico do que propriamente de desenhos geométricos”, admite a criativa. Quanto a uma explicação para a crescente procura, Diana vale-se da singularidade como o seu maior trunfo: “As pessoas estão cansadas de ver sempre o mesmo. Além disso, não querem só ver, querem peças com uma maior dimensão sensorial, que possam tocar. Sem dúvida que a moda do macramé veio ajudar, mas dou sempre um valor acrescentado às peças, precisamente para não passarem de moda.”

Os painéis de oito metros antes de seguirem para o Bairro Alto Hotel.

Atualmente, a Oficina 166 está em muitas frentes, incluindo a das galerias de arte – com obras feitas a partir de troncos, recolhidos por um amigo que se aventura no mato –, e no mercado internacional. Diana esteve recentemente em Londres a negociar um novo projeto, recebeu uma encomenda de uma milionária libanesa com casa na Grécia, enviou peças para uma exposição em Sidney e já teve pedidos de estágio vindos de Espanha.

“Queremos dinamizar o atelier enquanto escola”, conclui, depois de receber a equipa do Spotify, vinda de Londres para uma experiência intensiva no atelier, e de esgotar um retiro com workshops no Craveiral. Os pequenos cursos possibilitam que outros possam mudar de vida, tal como Diana um dia mudou. Medo de estar a catapultar eventuais concorrentes? A fundadora da Oficina 166 não pensa assim. Escuda-se com a linguagem que criou e que, segundo a própria, os mais atentos já reconhecem à distância.

Artigo publicado originalmente na revista Observador Lifestle nº 4 – especial viagens (junho 2019).