A maior agência de fotografia do mundo, a Getty Images, admite ao Observador que existem fotojornalistas na China, em particular em Wuhan, que pedem para os seus nomes não serem associados às fotografias que captam “devido a preocupações com a sua segurança”. A agência garante que só autoriza estas práticas em casos de extrema importância e relevância.
Mesmo admitindo que o caso da China e em particular a ver com a epidemia do coronavírus não é caso único, a Getty Images garante abrir esta possibilidade noutras ocasiões, como é o caso da guerra na Síria ou os recentes conflitos no Irão, com o intuito de proteger os seus jornalistas.
A agência disse em email enviado ao Observador que não torna públicos os detalhes destas conversações com os fotojornalistas, mas admite que neste caso concreto “existia uma preocupação convincente e bastante forte para conceder o anonimato ao fotojornalista”. O Observador sabe também que esta não é prática comum nesta agência: todos os fotojornalistas, de todo o mundo, são obrigados a assinar as suas imagens com o seu nome profissional, salvo raras exceções, como é o caso da cobertura noticiosa na China do coronavírus.
Nestes casos as mais recentes fotografias que têm sido disponibilizadas pela mesma agência aos seus clientes, no campo habitualmente preenchido com o nome do fotojornalista aparece somente “Stringer/Getty Images” ou “Getty Images”, ou seja, o nome do fotojornalista é posto em anonimato.
Outro dado curioso em fotografias que chegam aos seus clientes de Wuhan é o facto de no início da legenda de cada fotografia aparecer a seguinte indicação: “China Out”. Isto quer dizer que estas fotografias não podem ser vendidas nem sequer são visualizadas em território chinês. O Observador tentou obter junto da agência de fotografia uma resposta ao facto de estas fotografias em particular sobre a epidemia do coronavírus não estarem disponíveis para venda nem para consulta em território Chinês mas a mesma agência preferiu não responder.
Exemplo de uma dessas fotografias com a respetiva legenda:
Na legenda acima podemos ver a localidade onde foi tirada a fotografia, Wuhan, a cidade na China onde se acredita ter começado a epidemia do coronavírus, a data (12 de fevereiro) e a indicação de que esta fotografia não pode ser vendida nem visualizada em território chinês, ou seja, em computadores com IP na China: (CHINA OUT). No fim, entre parênteses, onde deveria aparecer o nome do fotojornalista, aparece somente “(Photo by Stringer/Getty Images)”.
Sobre a possibilidade de existir uma pressão do Governo chinês para controlar a informação que sai para fora, o Observador falou com responsáveis da Getty Images que garantiram: “A Getty Images é uma organização de notícias independente, está comprometida em produzir e distribuir cobertura imparcial de acontecimentos mundiais e fazê-lo livre de interferências de qualquer Governo ou órgão corporativo”.