O Bloco de Esquerda vai enviar a todos os grupos da Assembleia Municipal do Porto “um documento de análise” para a “tomada de decisão” sobre a medalha de ouro da cidade atribuída ao marido de Isabel dos Santos.

Os factos vindos a público sobre a pessoa em causa tornam necessário, a nosso ver, uma reflexão e uma avaliação“, afirmou o deputado do BE Joel Oliveira, numa referência às investigações conhecidas como “Luanda Leaks”, que detalham esquemas financeiros da empresária angolana Isabel dos Santos e do marido, Sindika Dokolo, que estarão na origem da fortuna da família.

O deputado, que falava na sessão de segunda-feira da Assembleia Municipal do Porto, anunciou que o partido vai enviar a todos os grupos daquele órgão “um documento de análise” para que possa ser delineado “o caminho a seguir para a tomada de decisão de salvaguarda do Porto como uma cidade viva”.

Em janeiro, o grupo municipal do Bloco de Esquerda anunciava, em comunicado, a intenção de “retirar a condecoração atribuída ao marido de Isabel dos Santos”, Sindika Dokolo.

O Bloco de Esquerda afirmava, à época, não aceitar que “a cidade do Porto seja usada como refúgio da cleptocracia angolana e que as atividades da câmara beneficiem de dinheiros canalizados pela fundação de Sindika Dokolo”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Na altura e em resposta à agência Lusa, o “Porto, o Nosso Movimento”, partido do independente Rui Moreira, presidente da Câmara do Porto, afirmou que a retirada da medalha de ouro da cidade ao marido de Isabel dos Santos “não se colocava”, e lembrou que a atribuição foi “deliberada por unanimidade” no executivo.

O PSD afirmou que o pedido do Bloco de Esquerda de retirar a medalha de ouro a Sindika Doloko, na sequência do processo ‘Luanda Leaks’, é “uma mera manifestação de oportunismo político”.

Por sua vez, o PAN considerou que a atribuição da medalha de ouro da cidade do Porto a Sindika Dokolo “não cumpria” o Regulamento da Medalha Municipal.

Já os deputados municipais da CDU preferiram não comentar “para já” o assunto, lembrando que o mesmo tem de ser “tratado com frieza”.

Questionada pela Lusa, a Câmara do Porto recordou apenas que “a atribuição da medalha de mérito da cidade, grau ouro, decorreu da realização de uma das mais importantes exposições de arte contemporânea, realizada na Galeria Municipal em 2015, e que esta mesma distinção foi unanimemente aprovada em reunião de câmara”.

Em fevereiro de 2015, quando Rui Moreira propôs ao executivo municipal a atribuição da medalha de ouro da cidade a Sindika Dokolo, dando como justificação o investimento realizado pela fundação do marido de Isabel dos Santos no Porto, através da compra da Casa Manoel de Oliveira e o empréstimo da coleção designada ‘You Love Me, You Love me Not’, apenas o Bloco votou contra a proposta na Assembleia Municipal.

Já em reunião do executivo, a recomendação foi aprovada por unanimidade, com votos favoráveis do PS, PSD, CDU e movimento de Rui Moreira.

O Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação revelou em 19 de janeiro mais de 715 mil ficheiros, sob o nome de “Luanda Leaks”, que detalham esquemas financeiros de Isabel dos Santos e do marido, Sindika Dokolo, que estarão na origem da fortuna da família.

A investigação aponta, entre outras suspeitas, o uso do banco BIC pela empresária em contratos com origem na China de proveniência duvidosa.

Isabel dos Santos escreveu uma carta a João Lourenço para negociar depois do arresto dos bens

No âmbito de um pedido de cooperação judiciária internacional das autoridades angolanas, a Procuradoria-Geral da República portuguesa anunciou, em 11 de fevereiro, que o Ministério Público requereu o arresto de contas bancárias da empresária em Portugal.

Isabel dos Santos foi constituída arguida em Angola por alegada má gestão e desvio de fundos durante a passagem pela petrolífera estatal Sonangol, acusações que a empresária tem rejeitado.