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Um gajo pode ter muita alma mas isso não dá uma saúde de Ferro (a crónica do Benfica-Moreirense)

Este artigo tem mais de 4 anos

Houve nervos, assobios e lágrimas. O penálti falhado, o golo anulado, o falhanço isolado. Benfica ganhou vida com Samaris, teve pouca vida com Weigl, perdeu vida de líder em novo lapso de Ferro (1-1).

Benfica chegou ao empate na recarga a uma grande penalidade aos 90+1' mas já tinha falhado um castigo máximo aos 49'
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Benfica chegou ao empate na recarga a uma grande penalidade aos 90+1' mas já tinha falhado um castigo máximo aos 49'

TIAGO PETINGA/LUSA

Benfica chegou ao empate na recarga a uma grande penalidade aos 90+1' mas já tinha falhado um castigo máximo aos 49'

TIAGO PETINGA/LUSA

“Está animado, está feliz, acredito que seja o Samaris de que a equipa precisa. Querem capas de jornais? Amanhã [segunda-feira] é Samaris e mais dez”. Dificilmente Bruno Lage poderia ser mais objetivo na abordagem ao jogo com o Moreirense. Mas foi. “[Samaris] É um gajo importante para a equipa, e trato-o por gajo porque temos uma boa química. É um gajo de equipa”. Samaris era mesmo o gajo. Porque Samaris foi aquele gajo que colocou em sentido Fábio Coentrão no decisivo jogo da época passada em Vila do Conde. Porque Samaris foi também o gajo que foi “morder” Raul Silva quando exagerou nos festejos da vitória do Sp. Braga na Luz esta época. Olhando só para uma vertente desportiva já haveria muito para falar sobre o gajo mas o gajo é muito mais do que essa vertente desportiva. Samaris não é um gajo qualquer. E a própria equipa do Benfica que o diga.

https://observador.pt/2020/03/02/benfica-moreirense-weigl-foi-o-escolhido-na-logica-da-equipa-que-e-samaris-e-mais-dez/

De forma quase atípica mas de maneira a não deixar dúvidas sobre as opções tomadas no passado, Bruno Lage foi puxar a fita atrás até ao início da temporada para colocar o grego no seu devido contexto – sendo que, puxando um pouco mais o filme atrás (e agora sem a boleia do técnico), o internacional foi uma peça determinante para toda a segunda volta de sucesso na última temporada, consolidando os processos defensivos da linha recuada ao mesmo tempo que permitia que Pizzi, Rafa, João Félix e Seferovic interpretassem da melhor forma a dinâmica criada do meio-campo para a frente. O técnico recordou que o helénico começou como titular, que depois do jogo na Luz com o FC Porto Taarabt mereceu a entrada na equipa, que com a lesão de Florentino surgia Fejsa com outras características, que em dezembro e janeiro houve uma reinvenção do meio-campo com Gabriel e Taarabt. Durante e depois, Samaris teve também problemas físicos. Agora, era o momento de Samaris.

Aliás, e a bem da verdade, o soundbyte de Bruno Lage acabou por abafar outros temas que foram marcando um fim de semana atípico de Primeira Liga sem jogos dos três “grandes” em virtude do naufrágio nas competições europeias (ou na “segunda divisão” europeia, vulgo Liga Europa) na passada quinta-feira. Como uma notícia do Expresso que gerou algum burburinho e que dava conta do assumir de parte das responsabilidades pelo presidente do grupo Valouro, José António dos Santos (o maior acionista individual da SAD dos encarnados), de uma empresa de pneus da Amadora que estava em incumprimento e da qual Luís Filipe Vieira era avalista. Como a “resposta” do presidente das águias na entrega de anéis e emblemas a sócios com 75, 50 e 25 anos – “Quanto mais me chateiam, mais força tenho para levar o Benfica aonde quero (…) Estamos a construir um Benfica de dimensão mundial”. Como a informação avançada pela TVI que a PJ acredita ter fortes indícios de corrupção desportiva contra os encarnados ainda no âmbito do caso dos vouchers (que foi arquivado por Federação, Liga e UEFA). Como as declarações ao Record do empresário de Weigl, Samy Wagner, falando sobre o momento do alemão.

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“A reação do treinador [às exibições] tem sido positiva. Há médios que destroem. Mesmo sendo um ‘6’, ele veio para construir, organizar jogo. Vejam as estatísticas, ele tem sempre uma grande percentagem de passes certos, comete poucos erros. Ele é um ‘6’, não é um João Félix. Joga numa posição diferente, não veio para marcar golos. Ele sente-se confortável no sistema tático do Benfica, atuando com outro jogador ao lado. Ele nem dez jogos fez pelo Benfica, não podem dizer se é bom ou não”, referiu, até comparando os dados do antigo jogador do B. Dortmund com Florentino Luís, outro elemento chave como Samaris na segunda volta da última temporada.

O título deste ano [2018/19] é o que descreve tudo o resto. O meu primeiro ano foi difícil mas não tão difícil como este porque passei por coisas que eram uma repetição que também tive na Grécia, senti que as coisas não estavam nas minhas mãos. Se não jogares podes ter o teu papel no banco, no balneário e até na bancada mas quando estás em campo sentes que não podes fazer muita coisa para mudares um resultado ou a situação do jogo. Estes últimos seis meses foram muito importantes e deram-me a renovação que tanto queria (…) Lágrimas? Gosto de verdade e o campo é o meu espelho, essa reação foi a verdade do que sentia, arrepiei-me todo nesse momento.”

A 16 de junho de 2019, numa entrevista após a conquista do Campeonato, Samaris mostrou que é atualmente o melhor exemplo daquilo que a gíria futebolística denominou de “alma benfiquista”. E fez a diferença na equipa, não só pelas inúmeras recuperações e interceções mas também pela forma como empurrou os companheiros para a frente quando era necessário. No entanto, voltou a estar mal acompanhado no meio-campo com um Weigl ainda em processo de adaptação e encaixe ao ADN dos encarnados. E teve mais um lapso de Ferro quando não podia falhar, num momento em que um central que era apontado a voos ainda mais altos do que Rúben Dias atravessa uma fase menos conseguida. Entre penáltis falhados, um golo anulado, uma bola ao poste e várias oportunidades desperdiçadas, o Benfica perdeu mais dois pontos frente ao Moreirense (1-1), elevando para oito nos últimos quatro encontros – e com isso deixou de depender de si para ser campeão, entregando a liderança ao FC Porto.

Ficha de jogo

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Benfica-Moreirense, 1-1

23.ª jornada da Primeira Liga

Estádio da Luz, em Lisboa

Árbitro: Fábio Veríssimo (AF Leiria)

Benfica: Vlachodimos; Tomás Tavares, Rúben Dias, Ferro, Grimaldo; Weigl (Dyego Sousa, 60′), Samaris; Pizzi, Rafa (Cervi, 71′), Taarabt (Jota, 74′) e Carlos Vinícius

Suplentes não utilizados: Svilar, Nuno Tavares, Florentino Luís e Chiquinho

Treinador: Bruno Lage

Moreirense: Mateus Pasinato; João Aurélio, Iago Santos, Rosic, Abdu Conté; Alex Soares (Steven Vitória, 90+2′), Fábio Pacheco, Filipe Soares; Bilel (Pedro Nuno, 79′), Gabrielzinho (Luís Machado, 64′) e Fábio Abreu

Suplentes não utilizados: Trigueira, D’Alberto, Mané e Nenê

Treinador: Ricardo Soares

Golos: Fábio Abreu (67′) e Pizzi (90+1′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Filipe Soares (55′), Samaris (56′), Mateus Pasinato (90′) e Luís Machado (90+1′)

Mantendo a estrutura tradicional de 4x3x3 com dois alas rápidos à espera de bola sobretudo de Filipe Soares (um dos jogadores em maior destaque neste arranque de segunda volta), o Moreirense foi conseguindo retirar espaços entre linhas aos movimentos ofensivos dos encarnados, obrigando a que Rafa tivesse de andar demasiado por fora, Taarabt nunca tivesse a margem para meter a quarta e ganhar metros em cavalgada e Pizzi fizesse as habituais diagonais em combinação com Vinícius. A posse foi do Benfica, a intencionalidade até teve nos cónegos o melhor exemplo, quando Fábio Abreu foi célere a receber um ressalto mas a atirar na área ao lado já depois de um livre lateral de Grimaldo que Iago desviou para canto mas perto do poste da baliza de Pasinato.

Faltava algo diferente para o Benfica criar perigo e acabou por surgir em versão dupla: primeiro foi Ferro, num misto de corte defensivo e lançamento longo, a encontrar Vinícius na profundidade para passar pelo guarda-redes contrário e ver Rosic salvar para canto em cima da linha; depois foi Taarabt, a arriscar a meia distância para boa intervenção de Pasinato. Estava feito o aviso, que não só não teve continuidade como virou o feitiço contra o feiticeiro, não dando males maiores devido à intervenção de Vlachodimos aos pés de Fábio Abreu e à má pontaria de João Aurélio que, desabituado às andanças ofensivas na área, desviou de cabeça pouco por cima.

[Clique nas imagens para ver os melhores momentos do Benfica-Moreirense em vídeo]

Esse lance, a par de uma assobiadela em mais uma transição em primeira quando se pedia uma saída rápida em quarta ou em quinta (que é como quem diz, na velocidade Taarabt lançado e não no posicional Weigl), funcionou como despertador para os encarnados, que acordaram e bem para 15 minutos finais onde o golo parecia ser uma inevitabilidade que acabou por não acontecer: Pasinato fez uma grande intervenção após cruzamento largo com desvio de Pizzi, Rúben Dias falhou por muito pouco o alvo após mais uma bola a explorar as costas de Abdu Conté e Grimaldo, num cruzamento com o arco invertido, acertou mesmo no poste da baliza do Moreirense. Todavia, esse sufoco que deixou o Moreirense sem capacidade de saída acabou por não culminar no golo.

Dyego Sousa ainda aqueceu com maior intensidade durante o intervalo mas Bruno Lage acabou por não mexer logo na equipa e foi de Samaris, quem mais, que veio o grito para um arranque demolidor onde se jogou apenas a 40 metros tendo o sentido único da baliza do Moreirense, num roubo de bola a Filipe Soares antes de ser puxado, cair com a falta, levantar-se de imediato e dar sinal à equipa para criar uma onda ofensiva que colocasse Pasinato em apuros. Foi nessa fase que, no seguimento de uma mão de Gabrielzinho na área (que existe, ficando apenas a dúvida se haveria outra hipótese de evitar que o cruzamento de Tomás Tavares lá fosse bater), Pizzi desperdiçou um penálti antes de Rafa marcar mesmo mas o lance ser invalidado por mão de Pizzi na jogada.

O Moreirense conseguia finalmente respirar, mesmo que fosse pouco acima da tona de água (que é como quem diz, pouco à frente da linha do meio-campo), e o Benfica queria forçar até encontrar de forma válida o caminho para a baliza. Dyego Sousa era o escolhido para entrar, um dos médios deveria sair. Em condições normais, havia um sacrificado natural – quem tinha amarelo. E era Samaris. Mas saiu Weigl. E tudo porque, explicado à luz dos números tantas vezes invisíveis, o alemão acertou apenas nove passes verticais em 60 minutos enquanto o grego somou dez recuperações de posse posicionais, o dobro do que qualquer outro companheiro. Mal entrou, o luso-brasileiro visou a baliza mas o golo iria mesmo aparecer contra a corrente na baliza contrária.

Naquela que foi a primeira transição organizada com pés e cabeça, com o meio-campo dos cónegos a conseguir circular a bola até ao flanco esquerdo para o cruzamento de Abdu Conté e consequente desvio oportuno de Fábio Abreu na pequena área, num lance onde o avançado dos cónegos confirmou o bom momento pessoal (um golo em cada uma das últimas cinco jornadas) e a fase menos conseguida de Ferro, “fintado” com um movimento simples do adversário nas costas que acabou por estender a passadeira para o golo que gelou a Luz em noite de pior assistência da época em encontros para o Campeonato (tal como já tinha acontecido em Alvalade com o Marítimo também numa segunda-feira, numa regra que continua sem conhecer exceção e prejudica toda a gente).

Muitas vezes com o coração a atrapalhar a cabeça, e assobios pelo meio depois da substituição de Taarabt por Jota, o Benfica carregou para chegar no mínimo ao empate, teve mais uma oportunidade flagrante por Vinícius que atirou às malhas laterais e conseguiu chegar ao 1-1 no primeiro minuto de descontos, quando Cervi (outro jogador que faz muitas vezes falta aos encarnados para dar largura à equipa) se conseguiu antecipar a Alex Soares e “ganhou” uma grande penalidade que Pizzi assumiu de novo, falhou mas corrigiu na recarga, já depois de Pedro Nuno ter desperdiçado isolado uma chance de ouro para acabar de vez com o encontro. Aos 100′, veio o apito final. Pizzi, o capitão, chorou. Samaris, o líder, confortou os companheiros e puxou pela equipa. Os restantes, saíram cabisbaixos. Por culpa própria, as águias caíram a pique. E não faltam justificações para isso.

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