Segunda-feira, 9 de março, parece ter sido um dia atípico na linha Saúde 24 (808 24 24 24). Nesse dia, o número de chamadas “abandonadas após 15 segundos” (ou seja, de pessoas que desistiram depois de terem estado mais de 15 segundos à espera) — 15.072 — foi muito superior ao número de chamadas atendidas — 10.940.
Os dados que constam do Portal de Transparência do Serviço Nacional de Saúde (SNS) dão conta de que, na segunda-feira, houve um pico no número total de chamadas para a linha constituída por enfermeiros: foram 27.679, um número histórico. No segundo dia com maior procura desde que foram registados os primeiros casos de Covid-19 no país, tinham sido feitas 13.532 chamadas.
Ao todo, na segunda-feira, foram perdidas 15.693 chamadas — 621 desistiram nos primeiros 15 segundos; 15.072 desligaram após este período — valor acima das 10.940 chamadas atendidas. É a primeira vez que se verifica esta discrepância desde que o surto chegou a Portugal.
Numa entrevista à RTP, na semana passada, a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, garantiu que a linha SNS24 seria reforçada, a par da Linha de Apoio ao Médico. O Observador tentou contactar a Direção-Geral da Saúde, que remeteu uma resposta para os Serviços Partilhados do Ministério da Saúde. Esta entidade, que controla a linha SNS 24, não respondeu ao pedido de esclarecimento do Observador até ao momento.
Na quinta-feira passada, o jornal Público já tinha dado conta de dificuldades na linha SNS 24, ao referir que um quarto das chamadas não tinha sido atendida por um enfermeiro na segunda-feira, dia 2, o dia em que foram confirmados os primeiros casos de Covid-19 em Portugal.
À Rádio Observador, Ricardo Mexia, Presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública e epidemiologista, defende que é preciso “dotar a linha dos recursos necessários para responder ao aumento da procura”. O responsável diz-se ainda preocupado que as pessoas, “não conseguindo obter resposta por parte da linha, se possam deslocar diretamente para os serviços de urgência”.
Já Roque da Cunha, secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), considera que a alternativa é “porem os médicos de saúde pública a fazerem aquilo que é a sua função. Junto da população e dos profissionais de saúde, [darem] orientações muito objetivas de como atuar numa escola e empresa, nas forças de segurança, para evitar que este tipo de situações possam ocorrer”.
Caso o cidadão não consiga contactar a linha telefónica deve “insistir, insistir, insistir”. Roque da Cunha frisa que o Governo deve criar condições para que a SNS24 funcione. “As pessoas não podem ser direcionadas para locais onde podem ser ainda mais infetadas e infetantes.”
Além disso, “é um erro pensar que linha de Saúde24 pode ser responsável pelo controlo epidemiológico de uma crise como esta”.