Jogo normal. Jogo adiado. Uma equipa em risco. Outra equipa a evitar viagens. Jogo adiado. Jogo em risco. Jogo à porta fechada. Ponto. O Olympiacos-Wolverhampton, encontro entre as duas equipas mais “portuguesas” ainda na Liga Europa e orientadas também por técnicos nacionais, andou muito ao sabor do vento das notícias que iam surgindo sobre a pandemia do coronavírus, sendo que, ao final da manhã, a hipótese de haver um adiamento completo de todos os encontros das provas europeias era grande. Não se confirmou para esta quinta-feira, vai confirmar-se no início da próxima semana. O futebol tem ordem de paragem para os próximos tempos de forma quase transversal e o encontro em Pireu à porta fechada era um dos últimos até ao final de março.
“Vamos lá e vamos competir. Não será como gostaríamos, porque preferíamos um ambiente normal com todos os adeptos do Olympiacos que são complicados. É assim que gostamos de competir mas as circunstâncias são estas e temos de colocar o foco em competir o melhor possível. Para mim o futebol à porta fechada não faz sentido mas esta é a realidade e temos de nos preparar para isso, o que penso que estamos. Em termos de situações de saúde e segurança temos todas as garantias e estamos bem com isso”, comentou Nuno Espírito Santo, treinador do Wolverhampton que contaria entre os convocados com o regresso de Daniel Podence à Grécia.
“Todos podem reagir da forma como ele reagiu, temos respeito pelo ponto de vista dos Wolves. A responsabilidade é das autoridades e são eles que nos têm de dizer o que fazer, temos plena confiança neles e se nos disseram que era seguro jogarmos à porta fechada, é isso que faremos. Já houve milhares de casos na Europa mas este clube tem tomado todas as medidas necessárias. Não deverá existir a mínima dúvida na cabeça de ninguém sobre isso. Após termos sido informados sobre a situação do nosso presidente, seguimos todos os pressupostos necessários, todos fomos testados e todos tivemos resultados negativos”, assegurou Pedro Martins, técnico dos helénicos.
Ponto de partida para as duas abordagens dos antigos companheiros de equipa no V. Guimarães? O anúncio do mediático (e excêntrico) empresário Evangelos Marinakis, presidente e dono do Olympiacos e dono maioritário dos ingleses do Notthingham Forest, na passada terça-feira: “O recente vírus visitou-me e senti-me obrigado a comunicar isso mesmo ao público. Sinto-me bem e estou a tomar todas as medidas necessárias e a acatar as instruções dos médicos. Aconselho vivamente toda a gente a fazer o mesmo e desejo a todos uma recuperação rápida”. Numa mensagem com três frases, o futebol desceu um pouco mais à terra e chocou com uma realidade que entraria pelos olhos de todos nos dias seguintes – a pandemia não escolhe pessoas.
O encontro começou com os Wolves a vestirem uma outra pele. Literalmente, com o equipamento alternativo, e na postura assumida perantes os visitados, numa posição de expetativa e cedendo por completo a posse e o domínio aos gregos. Ainda assim, a alinhada defesa do conjunto de Nuno foi conseguindo anular as várias tentativas de exploração da profundidade, com Rui Patrício a ter pouco trabalho. Até a bola à trave de Masouras, a meio do primeiro tempo, já estava anulada por fora de jogo no início do encontro. No entanto, os 70% de bola e o maior número de remates perdeu continuidade a partir da maior, com um dado que alterou o encontro.
Numa boa saída, Diogo Jota conseguiu encontrar o espaço para enfrentar Rúben Semedo no 1×1, sofrer falta e ver o central português ver o vermelho direto que deixou o Olympiacos reduzido a dez, obrigando Pedro Martins a abdicar de Masouras para a entrada de Cissé. O livre perigoso de Rúben Neves acabou por ser desviado pela barreira para canto mas não mais os gregos tiveram a mesma capacidade de saída e controlo perante uma equipa inglesa que foi gerindo os tempos de jogo até ao intervalo explorando a velocidade de Adama Traoré.
Ao intervalo, e com mais uma unidade em campo, Nuno abdicou de Doherty (que tinha sido uma peça fulcral no triunfo frente ao Tottenham, por exemplo) e lançou Pedro Neto para ter mais uma solução ofensivas mas acabou por ser o Olympiacos a começar da melhor a segunda parte, inaugurando o marcador numa grande saída que terminou com Guilherme a assistir na pequena área El Arabi, o herói dos helénicos no triunfo em Londres diante do Arsenal na última eliminatória, para o 1-0 (54′). Pedro Martins celebrava e tinha razões para isso, com o plano de jogo preparado com dez jogadores a resultar em pleno e a colocar o Olympiacos na frente.
Em desvantagem, e sem grande capacidade em termos ofensivos, o Wolverhampton tentou subir linhas mas, numa primeira fase, encontrou um José Sá gigante na baliza defendendo com a cara um remate fortíssimo de Raúl Jiménez na área para canto (59′) antes de Rúben Neves tentar a meia distância que tantos elogios merece na Premier League mas ligeiramente ao lado (60′). Não foi de bola corrida, foi de bola parada – com a colaboração involuntária da barreira, Pedro Neto fez o empate na sequência de um livre em posição frontal (66′), colocou os ingleses em vantagem na eliminatória e deu o mote para um forcing final que contou ainda com a presença de Podence em campo mas que não foi suficiente para desfazer um empate que deixa tudo em aberto.