“Se existir necessidade, não temos problema absolutamente nenhum em adiar ou até mesmo cancelar a Queima das Fitas”, afirmou nesta sexta-feira à tarde o presidente da Associação Académica de Coimbra. “Para sossegar os alunos, os pais e a comunidade, obviamente é uma hipótese em cima da mesa, porque a saúde não tem preço”, acrescentou Daniel Azenha, em declarações ao Observador.
As medidas recomendadas pelo Governo e pela Direção-Geral da Saúde para fazer face à pandemia do coronavírus incluem, nas próximas semanas, a suspensão de eventos em espaços abertos com mais de cinco mil pessoas e de eventos à porta fechada com mais de mil participantes. Pelos mesmos motivos, festivais de música e espetáculos culturais em Portugal e lá fora têm vindo a anunciar cancelamentos ou adiamentos.
Além da Queima das Fitas, o NOS Primavera Sound do Porto, marcado para 11, 12 e 13 de junho no Parque da Cidade, é outro dos eventos musicais que pondera o adiamento, embora nenhuma decisão vá ser tomada antes de inícios de abril.
Beck, Lana Del Rey, Tyler, the Creator e Bad Bunny confirmados no NOS Primavera Sound, no Porto
José Barreiro, da empresa promotora, disse ao Observador que não poderia confirmar ou desmentir a informação que circulava nesta sexta-feira de que o festival-mãe, Primavera Sound Barcelona, estaria a prestes a anunciar um adiamento. Qualquer decisão tomada pelo congénere catalão, agendado para o primeiro fim de semana de junho, terá efeitos diretos no festival portuense, uma vez que as bandas convidadas assinam contratos em bloco para atuações em datas sucessivas na mesma zona geográfica. “Todos os cenários são possíveis”, garantiu José Barreiro.
“A Queima é um motor financeiro”
A Queima das Fitas de Coimbra, maior festa académica do país, que ao longo de uma semana costuma juntar cerca de 100 mil pessoas, continua agendada para a semana de 11 a 15 de maio, como se verificava na sexta-feira no site da Universidade de Coimbra.
“Temos estado em diálogo com a reitoria e estão duas hipóteses em estudo: ou adiamos por uns dias ou cancelamos”, pormenorizou Daniel Azenha, de 25 anos, estudante do último ano do mestrado em Geografia Humana. Isto, disse, “sem esquecer que a Queima é um momento cultural e desportivo de extrema importância para a academia e para a região, porque é também um motor financeiro.”
José Barreiro, do Primavera Sound Porto, fez notar que devido ao coronavírus “já estamos a viver um ano atípico na indústria da música”, pelo que “as respostas poderão ser atípicas”. “Estamos a trabalhar em todas as soluções. O adiamento é uma solução entre tantas outras, mas de muito difícil resultado, porque lidamos com artistas de todo o mundo e há uma série de problemas jurídicos e burocráticos de que ainda não temos noção plena.”
Outro exemplo é o festival Westway Lab, em Guimarães, que na quinta-feira à tarde anunciou o adiamento da sétima edição – de 15 a 18 de abril, como estava inicialmente previsto, para 14 a 17 de outubro. O Westway Lab junta milhares de pessoas em concertos, apesar de ser sobretudo um festival para profissionais da música, ponto de encontro entre criadores, agentes, editores, programadores. É um festival showcase, o primeiro a surgir em Portugal, por iniciativa de Nuno Saraiva e Rui Torrinha, e um dos cerca de 60 que se realizam na Europa. O Observador tentou obter, sem êxito, um comentário de Nuno Saraiva.
Há uma semana foi cancelado outro festival showcase de alcance global, o conhecido South by Southwest, em Austin, Texas (EUA), que deveria iniciar-se nesta sexta-feira. Apesar de notícias darem como certo o adiamento para inícios de outubro, a organização esclareceu entretanto no site oficial que já está a pensar na edição de 2021 e não pode “com realismo” reagendar a edição de 2020 devido aos imponderáveis que rodeiam a evolução da pandemia do coronavírus. Também o festival de Coachella, na Califórnia (EUA), já foi adiado e vai acontecer entre 9 e 18 de outubro.
Em sentido contrário, o festival de Glastonbury, em Inglaterra (um dos maiores eventos do género do mundo) confirmou esta quinta-feira mais nomes para o cartaz que deverá estar em palco de 24 a 28 de junho, incluindo Kendrick Lamar, Pet Shop Boys, Noel Gallagher.