Há cada vez menos equipamentos de proteção à disposição dos trabalhadores e, apesar de as visitas estarem suspensas, continua a haver gente a entrar e a sair todos os dias, pelo que a notícia recente de infeções pelo novo coronavírus em dois lares de idosos, um no concelho de Sintra, outro no de Vila Nova de Famalicão, não surpreendeu Manuel Lemos, o presidente da União das Misericórdias Portuguesas.

Em entrevista este domingo à Rádio Observador, Manuel Lemos disse exatamente o contrário: o que se espera, dadas as circunstâncias, é que surjam mais casos.

“Tudo aponta para que venha a acontecer em mais casos, sendo verdade que os idosos são o grupo de maior risco e sendo verdade também que nós limitamos ao máximo as visitas, a verdade é que continua a haver pessoas que entram e saem dos lares, que são os trabalhadores”, lamentou.

Sobre o rácio idosos-funcionárias que resultou da infeção de oito trabalhadores no lar de Cavalões, Famalicão — são três, uma delas grávida, para 33 utentes —, o presidente das Misericórdias Portuguesas não tem dúvidas: “Isso é completamente impossível, as pessoas não vão ser bem tratadas“.

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“Lares precisam desesperadamente de material de proteção individual”, diz Manuel Lemos

Para resolver este e outros eventuais surtos em lares, Manuel Lemos sugeriu uma solução muito pouco convencional, sobretudo tendo em conta o especial risco que correm todas as pessoas acima dos 65 anos: manter funcionários infetados mas assintomáticos, ou com sintomas leves da Covid-19, nos seus postos de trabalho.

“Temos de encontrar uma fórmula para que, ainda se estiverem infetadas, mas se não tiverem grandes sintomas, com os equipamentos de proteção individual, as pessoas consigam continuar a fazer o seu serviço. Eu não sou médico, tentei inteirar-me junto de especialistas, para o caso de isso vir a acontecer nas Misericórdias, ouvi opiniões díspares, uns dizem que as pessoas deveriam parar imediatamente outras que não.”

Para já, o problema maior, repete Manuel Lemos, é a falta de equipamento de proteção individual para os trabalhadores, como máscaras, luvas, gel desinfetante e proteções para sapatos. “Precisamos urgentemente, desesperadamente, de equipamentos de proteção individual. Não sendo possível, viável ou sequer razoável quebrar a ligação dos trabalhadores com as suas famílias, temos de acautelar o mais possível os trabalhadores e os utentes e isso só pode fazer-se com equipamentos.”

[DGS. Lares e comunidade “deviam ter-se preparado”]

Na madrugada que passou, revelou ainda o presidente das Misericórdias Portuguesas, recebeu, por telefone e desde Macau, uma boa notícia: o provedor da Santa Casa da Misericórdia local comprou um milhão de máscaras na vizinha China, para oferecer às congéneres portuguesas. “Um milhão não vai chegar mas vai pelo menos aliviar a pressão.”