A 20 de março, tanto a presidente como a diretora técnica do lar Evangélico Nova Esperança, que tem uma unidade em Maceira (Leiria) e outra em Alcanhão (Santarém), recorreram ao Laboratório Beatriz Godinho para fazer o despiste ao novo coronavírus — a decisão de ir ao privado esteve relacionada com o facto de ambas sentirem sintomas associados à Covid-19. O primeiro teste deu positivo para ambas, já a contra-análise deu negativa. Perante isso, a unidade de saúde de Santarém determinou que Sónia Lobato, a presidente, fosse para casa em isolamento profilático, enquanto a unidade de saúde de Leiria deu autorização à diretora-ténica para, no dia seguinte, regressar ao trabalho.
Ao Observador, a delegada de saúde de Leiria, Ana Silva, explica que os testes feitos no Laboratório Beatriz Godinho foram feitos “à luz das recomendações à data”, isto é, sem o teste confirmatório que se tornaria norma da Direção-Geral de Saúde. “O laboratório não fez nada de errado. Não tinha feito teste confirmatório porque não havia a norma da DGS”, diz.
“Propus à doutora Beatriz Godinho que fizéssemos a contra-análise no hospital. Houve alguns casos anteriormente positivos [e assintomáticos] que deram negativo. Tivemos a certeza de que a técnica do hospital já era a correta”, explica ainda Ana Silva, justificando a decisão da unidade de saúde de Leiria em dar alta médica à diretora-técnica do lar em questão. “Não se justifica, mediante a certeza de que o teste era negativo, que a pessoa tivesse de ficar em isolamento. Não tivemos dúvidas de que o teste era negativo”, acrescenta.
Sónia Lobato, por seu turno, contesta esta decisão. Ela que, até quinta-feira, dia 26 de março, registava 38º de febre — a diretora-técnica apresenta tosse e dores de costas — foi aconselhada pela delegada de saúde de Santarém a ficar em casa, em isolamento profilático, dada a existência de um primeiro teste positivo. O lar em questão trabalha com 22 idosos em Maceira e 25 em Alcanhão.
Na sequência destes eventos, a presidente do lar mandou a diretora-técnica para casa e ficou assegurar-lhe 100% do ordenado. Agora diz que vai fazer exposição “ao hospital de Leiria e ao gabinete do utente com conhecimento à Delegação de Saúde de Leiria”, considerando ainda a “desproteção feita junto da diretora-técnica, comprometendo a saúde dela e da instituição”. Sónia Lobato diz ainda ao Observador: “Não podemos ter dois tratamentos diferentes para duas situações iguais”.
Ana Silva, delegada de saúde de Leiria, não comenta a decisão tomada pela unidade de saúde de Santarém e explica que as unidades de saúde públicas emitem as normas referentes aos lares das respetivas regiões e que cabe à Direção-Geral da Saúde supervisioná-las. “Cada unidade tem autonomia para decidir”, esclarece.